Quando Shafiqullah chegou a seu casamento, surpreendeu-se ao
encontrar 600 pessoas a mais no salão, nenhuma das quais reconheceu.
Mesmo assim, ele sabia qual era sua obrigação social. "Se eu não lhes
servisse, teria sido motivo de desonra para mim e teria acabado com a
felicidade do meu casamento", comentou o noivo, que tem 31 anos e é
vendedor de carros.
Assim, mandou o bufê dobrar comida e bebida, elevando o custo da festa a quase US$ 30 mil.
Histórias como a dele são comuns no Afeganistão, onde as festas de
casamento são demonstrações de compromisso com a hospitalidade e com a
devoção à família e à comunidade.
Mas a obrigação de promover uma festa para quase um pequeno vilarejo vem
sendo financeiramente devastadora para muitos jovens afegãos, que, para
se casarem, contraem empréstimos que levarão anos para ser saldados.
O Parlamento afegão resolveu intervir e recentemente escolheu como alvo a
"indústria" de casamentos em Cabul. Com o apoio entusiasmado de jovens,
legisladores aprovaram uma lei que define em 500 o número máximo de
convidados que podem ser recebidos nos gigantescos salões de casamento
da cidade. A lei aguarda a aprovação final.
Em muitos países, um casal jovem poderia ter dificuldade em encontrar
500 convidados para festejar seu casamento. Mas os afegãos não têm esse
problema.
Considere a lista original de convidados à festa de casamento de Shafiqullah, seis meses atrás, que tinha 700 nomes.
Além dos convidados da noiva, Shafiqullah convidou "meus primos, primos
dos meus primos, meus vizinhos; pessoas que moram na área em volta, o
pessoal do vilarejo onde eu morava antes de vir para Cabul e entre cem e
150 colegas vendedores de carros."
Mas, entre as 1.300 pessoas reunidas no salão, ele teve dificuldade em
diferenciar convidados dos desconhecidos. "Não reconheci nem a metade
das pessoas na seção masculina."
As multidões que lotam os salões de casamento de Cabul todas as noites
deram lugar a uma subcultura de "toi paal", ou penetras em festas de
casamento.
São homens não convidados que frequentam um trecho da avenida do
aeroporto apelidado de Las Vegas, devido às luzes de neon e aos vidros
espelhados dos salões.
Como as festas são segregadas por gênero, a atração não é a
possibilidade de conhecer mulheres, mas o banquete com carne de
carneiro, frango e "kabuli pulao" (um "pilaf" tradicional de carneiro).
A maioria dos rapazes de Cabul parece conhecer o ditado segundo o qual "com um casamento por noite, ninguém passa fome".
Entre os defensores mais ferrenhos da nova lei estão homens jovens.
"Exijo que o presidente sancione esta lei", disse Jawed, 24, que vende
tecidos. "Suplico a ele que o faça o quanto antes, para que pessoas como
eu possamos nos casar sem demora."
O alto custo obriga alguns casais a esperar anos. Noivo há sete anos, o
dono de papelaria Ahmed Walid Sultani disse que sonha em algum dia poder
imprimir os convites de seu próprio casamento.
Os noivos também têm que comprar joias de ouro para a noiva e precisam
pagar "preço de noiva", um valor que o noivo entrega à noiva ou a sua
família, para que ela possa ter um bem para controlar.
Um gerente, Sayed Yaqoot, disse que a lei será catastrófica para os
salões. "O que os garçons farão se perderem seus empregos? Vão se juntar
ao Taleban?"
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