Malek Layouni não estava pensando no islã ou em seu véu quando levou
seu filho de nove anos a um parque de diversões perto de Paris. Mas, no
fim, era só isso que importava.
Funcionários a pararam a caminho dos brinquedos, citando normas que proíbem cães, pessoas alcoolizadas e símbolos religiosos.
Layouni ainda cora quando recorda a humilhação de ser barrada diante de
amigos e vizinhos e de não ter resposta a dar a seu filho, que não
parava de lhe perguntar: "O que foi que fizemos?"
Mais de dez anos depois de a França ter aprovado sua primeira lei contra
o uso do véu, proibindo meninas de usá-lo em escolas públicas, o
assunto tornou-se uma das questões mais voláteis nas tensas relações do
país com sua crescente população muçulmana.
Políticos franceses de direita ou centro continuam a defender novas
medidas para negar o acesso de mulheres que usam véus a empregos e
instituições educacionais. Frequentemente, eles dizem que o fazem em
nome da ordem pública ou da laicidade, termo usado pelos franceses para
designar a separação entre religião e Estado.
Porém, críticos das leis dizem que esses esforços incentivam a
discriminação contra muçulmanos. O resultado é o aumento da impressão de
muitos muçulmanos de que a França, que celebra feriados cristãos nas
escolas públicas, pratica o racismo de Estado. Para alguns críticos, a
proibição do véu também atende aos interesses de alguns islâmicos que
querem aprofundar as divisões entre muçulmanos e não muçulmanos no
Ocidente.
A França aprovou duas leis: uma, em 2004, proíbe o uso do véu nas
escolas públicas primárias e secundárias; outra, promulgada em 2011,
proíbe o uso do véu facial completo, usado por apenas uma fração
minúscula da população.
Muçulmanas devotas na França dizem que a discussão constante sobre novas
leis as converteu em alvo de insultos, cuspes e empurrões nas ruas.
Não é de hoje que a França, onde os muçulmanos compõem 8% da população,
demonstra mal-estar diante de muçulmanas que cobrem a cabeça
-comportamento que segue os ensinamentos do Alcorão sobre modéstia.
Nos últimos anos, porém, os líderes franceses vêm sendo motivados por
vários fatores, incluindo a ascensão da extrema direita e o fato de que
extremistas muçulmanos nascidos e criados na França lançaram dois dos
piores ataques sofridos no país, incluindo o ataque ao jornal satírico
"Charlie Hebdo".
Muitos líderes franceses dizem que a proibição do véu facial completo é
necessária por razões de segurança, observando que a Bélgica aplica
medida semelhante. Eles afirmam que a proibição do véu nas escolas se
deve à defesa da laicidade (e que solidéus, crucifixos grandes e outros
símbolos religiosos são igualmente proibidos).
O conceito de laicidade foi desenvolvido durante a Revolução Francesa com o objetivo de limitar a influência da Igreja Católica.
Recentemente, porém, especialistas dizem que ele se converteu na
bandeira da direita, que o redefiniu como arma para defender as
tradições francesas contra algo que muitos veem como a influência
assustadora de uma população muçulmana crescente.
A lei francesa que proíbe os véus que cobrem todo o rosto vem sendo
problemática. Nos três anos desde que entrou em vigor, foram emitidas
apenas cerca de mil multas, cujo valor pode chegar a €150. Parece que
várias mulheres se divertem incitando a polícia. Uma já recebeu mais de
80 multas. Poucas pagam. Um rico empresário argelino criou um fundo para
pagar qualquer multa emitida.
Muitos muçulmanos franceses ironizam a lei, dizendo que turistas ricas
do Oriente Médio que usam véu facial completo podem passear na avenida
Champs-Elysées ou tirar férias na Côte d'Azur sem serem multadas. Dizem
também que a discussão constante sobre as leis do véu deixam muitas
pessoas confusas em relação ao que é ou não ilegal.
Defendendo a proibição de mulheres com véus, Richard Trinquier, prefeito
de Wissous, disse a um tribunal que estava defendendo o compromisso da
França com o secularismo. De acordo com relatos de jornais, o prefeito
disse que a presença de símbolos religiosos em público está se tornando
"um obstáculo à convivência".
O juiz que julgou o caso em Wissous discordou, e o parque acabou sendo
liberado para Malek Layouni. No entanto, o acontecimento a deixou
traumatizada e dividiu a pequena cidade.
Depois do julgamento, o movimento na casa de chá de Layouni e seu marido
diminuiu. Neste ano, eles fecharam o estabelecimento e se mudaram para
outra cidade.
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