As
dificuldades da Nestlé começaram quando uma agência sanitária do Estado
de Uttar Pradesh declarou ter encontrado níveis excessivamente elevados
de chumbo no macarrão instantâneo. A empresa sustentou que o macarrão
era próprio para o consumo, mas retirou o produto de circulação horas
antes do veto ser imposto, alegando que a confiança do público ficara
comprometida. Até o momento, foram incineradas 17 mil toneladas do
macarrão instantâneo. Concorrentes como a Unilever também resolveram
tirar suas marcas de macarrão instantâneo das prateleiras dos
supermercados até a poeira baixar.A
FSSAI disse à Justiça não se opor a que a Nestlé exporte o produto, mas
reafirmou sua decisão de vetar sua comercialização na Índia. A decisão
parece estranha quando se considera que as autoridades de Cingapura
suspenderam o embargo que haviam temporariamente imposto ao macarrão
instantâneo Maggi, depois de a agência de vigilância sanitária do país
determinar que o produto é próprio para o consumo, e que Hong Kong
também deu sinal verde para o macarrão instantâneo produzido pela
subsidiária indiana da Nestlé.
Na quarta-feira passada, a vigilância sanitária da
Grã-Bretanha informou que testou um lote de macarrão instantâneo Maggi
importado da Índia e verificou que a concentração de chumbo estava
totalmente dentro dos padrões da União Europeia, não apresentando risco
algum à saúde.
Tudo indica, portanto, que os testes realizados pelas
autoridades indianas produziram resultados incorretos. Mas a Justiça
ainda não se pronunciou sobre isso. O exame do caso foi suspenso até 14
de julho, para que a Nestlé responda a declarações legais apresentadas
pela FSSAI e por outros órgãos envolvidos no processo, incluindo a Food
and Drug Administration (FDA) de Maharashtra, o Estado em que o Tribunal
de Mumbai exerce sua função jurisdicional.As empresas estrangeiras que atuam na Índia talvez tenham a sensação de estarem sendo discriminadas. Em 2006, tanto Coca-Cola como PepsiCo tiveram que se defender de ambientalistas que diziam que seus refrigerantes continham pesticidas. No mês passado, foi a vez da rede de fast-food KFC repudiar “alegações falsas”, feitas por um grupo de defesa dos direitos da criança, de que havia traços de bactérias venenosas em seus frangos. No entanto, a queixa que mais se ouve sobre os órgãos responsáveis pela fiscalização dos diversos segmentos da economia indiana não diz respeito a seu “protagonismo” excessivo, e sim ao fato de serem mal aparelhados para substanciar suas acusações.
Satya Prakash, especialista aposentado em segurança alimentar, advertiu o governo de que alguns de seus laboratórios não têm condições de realizar nem testes básicos. Em janeiro de 2004, a agência de aviação americana rebaixou o grau de segurança aérea da Índia porque seu órgão regulador dispunha de um número reduzido de funcionários treinados (a medida foi revertida em abril).
A Nestlé poderia ter limitado o prejuízo se tivesse lidado mais prontamente com as autoridades sanitárias indianas. Mas a multinacional suíça pode buscar consolo no fato de que outras empresas de alimentos estrangeiras se recuperaram de adversidades similares. Em 2003, a FDA de Maharashtra recolheu lotes de produtos da britânica Cadbury, depois que vermes foram encontrados em algumas de suas barras de chocolate.
Inicialmente a Cadbury disse que a infestação só poderia ter ocorrido em decorrência de algum descuido de armazenagem por parte dos varejistas. A FDA contestou a empresa, dizendo que a embalagem dos chocolates deveria ser resistente a vermes. Então a Cadbury reformulou as embalagens e relançou seus produtos com uma grande campanha publicitária. Hoje é mais uma vez a líder do mercado de chocolates na Índia.
Os investidores parecem estar apostando que a Nestlé também conseguirá reconstruir sua reputação. As ações de sua subsidiária indiana, que chegaram a cair 20% no pior momento da crise, recuperaram metade dessas perdas depois da audiência judicial da semana passada. O mais lamentável no episódio, sobretudo num país em que há tanta gente passando fome, é que muito provavelmente enormes quantidades de alimento foram destruídas sem necessidade.
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