Desde 2012, os cerca de 2,5 milhões de curdos do norte da Síria tentam
construir uma sociedade igualitária, com cotas de participação para
mulheres em cargos públicos.
A chamada Revolução de Rojava ocorreu sem nenhum tiro disparado. Desde o
início da guerra civil síria, em 2011, as forças do ditador Bashar
al-Assad recuaram do nordeste e, no vácuo de poder, os curdos
estabeleceram um governo autônomo.
Teoricamente, Rojava (formada pelos cantões de Jazeera, Kobani e Afrin) é
parte da Síria. Na prática, os curdos se autogovernam: têm Exército
(masculino, o YPG, e feminino, o YPJ), asfaltam ruas, mandam em suas
cidades.
Sob Assad e os governos sírios anteriores, os curdos eram cidadãos de
segunda classe. Não podiam ensinar sua língua nas escolas, não podiam
registrar os filhos com nomes curdos, tinham restrições para
propriedades.
"Éramos estrangeiros em nossa própria terra", diz Hassan Ferat, que trabalha em uma pensão em Amude.
O governo de Rojava é liderado pelo PYD, o Partido Curdo da União
Democrática, ligado ao PKK –o partido turco dos trabalhadores curdos,
considerado terrorista pela Turquia e por EUA e UE.
Apesar de o PYD se distanciar do PKK, veem-se fotos do líder do partido
turco, Abdullah Ocalan, em toda parte. Muitos soldados costuram no
uniforme insígnias com a foto de Ocalan, que cumpre prisão perpétua na
Turquia.
"Ocalan não é um líder de partido político, é um filósofo que coletou
experiências democráticas e prega uma sociedade igualitária", diz o
ministro do Interior do cantão de Rojava, Bozar Khalil. "Acreditamos
que, sem a participação igualitária das mulheres, não há democracia."
Em todos os comitês e órgãos administrativos de Rojava, 40% são homens,
40% mulheres, e 20% das vagas vão para os mais votados,
independentemente de gênero.
Há 30 milhões de curdos na Turquia, na Síria, no Iraque e no Irã. É o
maior povo apátrida do mundo. Os governos onde há minoria curda se opõem
a movimentos de independência em qualquer nação, com medo do efeito
dominó.
Khalil é cuidadoso. "Não queremos independência, queremos ser autônomos em uma Síria democrática."
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