O bom relacionamento entre o presidente chinês Xi Jinping e o líder
russo Vladimir Putin, constantemente alardeado, vem sofrendo desgastes
com a desaceleração econômica.
Dois acordos históricos assinados em 2014 para fornecimento de gás
natural russo à China fizeram pouco progresso e mal foram mencionados
quando os dois dirigentes se reuniram neste mês. O comércio bilateral,
que deveria ter atingido US$ 100 bilhões neste ano, mal chegou a US$ 30
bilhões no primeiro semestre, em larga medida pela redução da demanda
chinesa por petróleo russo.
Putin costumava desfrutar ao máximo da estatura de Xi, líder de uma das
maiores economias mundiais. Porém, com os recentes tumultos no mercado
de ações chinês e o crescimento econômico mais lento em um quarto de
século, Pequim não poderá prover o lastro que Putin buscava contra as
sanções econômicas impostas à Rússia por Europa e Estados Unidos depois
de sua anexação da Crimeia -e isso sem mencionar a vertiginosa queda dos
preços do petróleo em todo o mundo.
"A Rússia dependia do crescimento e da demanda da China por commodities
que o país produz -petróleo, gás natural e minerais", disse Fiona Hill,
especialista em assuntos russos na Brookings Institution, em Washington.
O pivô do relacionamento entre Xi e Putin era o acordo de 30 anos
assinado em maio de 2014 para a compra de gás natural pela China, cujo
valor foi estimado em US$ 400 bilhões. No entanto, o preço jamais foi
formalmente anunciado e é possível que, com a queda dos preços da
energia, o acordo tenha de ser renegociado, disse Jonathan Stern,
diretor do programa de pesquisa sobre gás natural no Instituto Oxford de
Estudos da Energia, no Reino Unido.
Um complicador da situação é a incapacidade da Rússia para bancar a
construção de gasodutos. Não está claro se a China necessita de gás
russo a ponto de concordar em financiar a construção dessas tubulações,
segundo Edward Chow, pesquisador do Centro para Estudos Estratégicos e
Internacionais, de Washington.
O rublo volátil torna os investidores chineses cautelosos, e as
tentativas de colaboração entre os sistemas bancários dos dois países
não deram muito fruto.
Uma ferrovia de alta velocidade ligando Pequim a Moscou, cuja construção
havia sido anunciada pela China, está parada porque os chineses,
especializados nesse tipo de trabalho, estão exigindo que os russos
paguem por ele.
A amizade entre Xi e Putin sempre foi perceptível e capturou a atenção
dos dois países, porque ambos os líderes buscam projetar uma imagem de
poder e ousadia. Em reuniões mundiais, eles caminham a passos largos
pelos palanques. Em uma reunião de líderes asiáticos na ilha indonésia
de Bali, em 2013, Xi deu um bolo de aniversário a Putin. Em novembro, em
Pequim, Putin exibiu a Xi os pontos positivos de um celular russo.
Os dois líderes se vangloriam de terem elevado a ligação entre seus
países ao status de relacionamento estratégico. Rússia e China
recentemente realizaram exercícios navais conjuntos no Mediterrâneo e no
mar do Japão. Os países também se uniram, na ONU, na oposição a
iniciativas norte-americanas na Líbia e na Síria.
Ainda assim, existem limites para interesses estratégicos. Os chineses
trataram cautelosamente as manobras russas na Crimeia e especialmente na
Ucrânia, país no qual Pequim tem investimentos comerciais e militares.
Na Ásia Central, os dois são mais concorrentes do que amigos,
especialmente por a China adquirir energia de países que
tradicionalmente faziam parte da esfera de influência russa.
O governo Obama respondeu à amizade entre os dois países com pouca
preocupação, argumentando que a Rússia inevitavelmente se tornaria um
fardo para a China, especialmente em momentos de dificuldade econômica.
Nas palavras de Douglas Paal, vice-presidente de estudos do Carnegie
Endowment for International Peace, "Washington parece pensar que Putin é
mais um fardo do que uma felicidade para Pequim
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