Os países árabes do golfo Pérsico estão entre as nações com maior renda
per capita do mundo. Seus governantes falam inflamadamente sobre o drama
dos sírios, e os seus meios de comunicação estatais cobrem sem parar a
guerra civil da Síria.
No entanto, enquanto milhões de sírios definham em outras partes do
Oriente Médio e milhares arriscam suas vidas para chegar à Europa, os
países do Golfo se dispuseram a receber apenas um pequeno número de
refugiados.
Com a Europa sobrecarregada pela crise migratória, cresceram as críticas
de que os países mais ricos do mundo árabe não estão fazendo sua parte.
Também foram censuradas as atuações de nações como Qatar e Arábia
Saudita, que nos bastidores apoiam rebeldes que combatem o ditador
sírio, Bashar al-Assad.
"O compartilhamento do ônus não tem significado algum no golfo, e a
abordagem da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes e do Qatar tem sido
assinar o cheque e deixar os outros resolverem", disse Sarah Leah
Whitson, da ONG Human Rights Watch.
Há centenas de milhares de sírios no golfo, onde a vasta riqueza
petrolífera e as pequenas populações locais atraem trabalhadores de
nações árabes mais pobres. No entanto, aqui eles não recebem as
proteções e ajudas financeiras que acompanham o status oficial de
refugiado ou asilado nem um caminho para a futura cidadania. Esses são
benefícios que os países do golfo não concedem.
Autoridades e analistas do golfo rejeitam as críticas, alegando que seus
países têm financiado generosamente a ajuda humanitária e que permitir
que os sírios trabalhem é melhor do que deixá-los sem nada para fazer em
campos de refugiados miseráveis ou em países que já enfrentam
dificuldades econômicas. "Se não fosse pelos Estados do golfo, os sírios
estariam em uma situação muito mais trágica do que estão", disse
Abdulkhaleq Abdulla, professor de ciência política nos Emirados Árabes
Unidos, país que, segundo ele acolheu mais de 160 mil sírios nos últimos
três anos.
Outros se ofendem com as críticas dos EUA e do Ocidente em geral,
acusando-os de deixar o conflito supurar durante mais de quatro anos,
enquanto as forças de Al Assad mobilizavam armas químicas e bombardeavam
áreas civis. "Por que só há questionamentos a respeito da posição do
golfo, mas não a respeito de quem está por trás da crise?", perguntou
Khalid al Dakhil, professor da Universidade Rei Saud, em Riad, na Arábia
Saudita.
Ele também culpou o Irã e a Rússia, que apoiam Al Assad e seus militares e que se recusam a receber refugiados sírios.
Os países do golfo de fato contribuem para a ajuda humanitária.
A Arábia Saudita destinou US$ 18,4 milhões à iniciativa da ONU para a
Síria neste ano, e o Kuait deu mais de US$ 304 milhões, tornando-se o
terceiro maior doador mundial para essa causa. Os EUA, para efeito de
comparação, doaram o maior montante, US$ 1,1 bilhão, e aceitaram receber
cerca de 1.500 sírios.
Para muitos sírios, o golfo evita tomar qualquer ação que possa
comprometer seu elevado padrão de vida. "Sabemos que o golfo poderia
receber refugiados sírios, mas eles nunca responderam", disse Omar
Hariri, sírio que fugiu recentemente para a Turquia em um bote inflável,
com a mulher e a filha de 2 anos. Ele disse que via esperança na
Europa, mas não no golfo. "Eles ajudam os rebeldes, não os refugiados",
afirmou.
Michael Stephens, diretor do Real Instituto de Serviços Unidos, no
Qatar, disse que muitos países do golfo não souberam como reagir. "Os
árabes do golfo estão acostumados com a ideia de que o Ocidente sempre
irá intervir para resolver o problema, e desta vez não foi assim",
disse.
"Isso deixou muita gente olhando para o vaso espatifado no chão e apontando culpados."
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