A comunidade japonesa no Brasil esperou sete anos para voltar a receber
um membro da Casa Imperial. O nível de expectativa com a visita do príncipe Akishino, porém, varia com a idade dos cerca de 1,9 milhão de japoneses e descendentes no país -a maior comunidade fora do Japão.
Os mais velhos não viam a hora de ele e a princesa Kiko chegarem; a maioria dos jovens não tem dado muita atenção.
A família de Alberto Oppata, 50, é um exemplo da diferente visão de gerações sobre a família imperial.
Presidente da Associação Cultural de Tomé-Açu (PA) –cidade ao sul de
Belém colonizada por agricultores japoneses no fim dos anos 20–, ele foi
convidado para ver Akishino em um evento na capital paraense na próxima
terça-feira (3). Oppata conta que os pais, de 84 e 77 anos, estão
ansiosos, enquanto as filhas dele, de 10 e 16, não quiseram viajar para
estar perto do príncipe.
"Os mais idosos, especialmente a primeira ou segunda geração japonesa no
Brasil, ainda veem o imperador e seus filhos com reverência, como um
símbolo do período em que deixaram seu país. Esse sentimento não existe
entre netos, bisnetos", diz Oppata. "Se fosse um cantor sertanejo em
Belém, minha filha ia voando. O príncipe, para ela, é apenas uma pessoa
famosa", brinca.
A maioria dos japoneses que migraram para o Brasil veio antes ou durante
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o imperador ainda era
oficialmente considerado uma figura divina no Japão. Esse status foi
perdido na Constituição pós-guerra, mas de certa forma "congelou-se" no
imaginário de quem viveu aquela época.
Aos mais velhos da comunidade japonesa já é uma honra só o fato de estar
no mesmo recinto que o príncipe Akishino. Muitos gostariam de falar com
ele, mas sabem que dirigir-lhe a palavra é proibido pelas regras do
rígido protocolo. Convidados só podem fazer isso se a iniciativa partir
de Akishino-está escrito nos convites enviados pelos consulados do
Japão.
Essa orientação não vale para o economista e tradutor Miyoshi Egashira,
81. Ele será o responsável por apresentar ao casal Akishino, neste
sábado (31), o Museu Histórico da Imigração Japonesa em Rolândia (PR),
pequena cidade do norte paranaense aonde os japoneses chegaram em 1935
para plantar café.
Egashira participou dos eventos de todas as viagens imperiais anteriores
a Rolândia (incluindo o imperador Akihito, em 1978, e o próprio
Akishino, em 1988). Agora, porém, será a primeira vez que poderá
conversar com um dos príncipes. "Serão 20 minutos, e o que falarei na
apresentação foi aprovado pelo consulado. Só vou dizer algo diferente se
Sua Alteza me perguntar algo", diz Egashira, para quem a ocasião será
"uma grande honra".
Ele conta já ter recebido muitas autoridades japonesas, mas reconhece se
tratar de uma "situação especial". "Isso é algo que talvez os mais
jovens da comunidade não vejam como eu", afirma.
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