Tahrir Hammad acha que as mulheres, incluindo ela mesma, são muito
emotivas para serem boas juízas. Além disso, ela não questiona a lei
islâmica que dita que é preciso duas mulheres para se ter o peso de um
homem como testemunha de cerimônias oficiais.
Apesar disso, Tahrir é uma pioneira. Ela recentemente se tornou a
primeira mulher autorizada a celebrar casamentos muçulmanos nos
territórios palestinos.
Tahrir não parece nem um pouco incomodada com as críticas que isso
gerou, até mesmo de um antigo professor, Hussam el-Deen Mousa Afana, que
comparou sua nomeação ao “abrir da porta para a metástase do mal” em um
post no Facebook.
“Sinceramente, eu não penso no que os outros pensam. Gosto de assumir
riscos”, diz. E acrescenta, rindo: “Eu queria mostrar que as mulheres
também podem. Queria gerar polêmica. Causar comoção.”
Tahrir não é a primeira mulher palestina a ocupar uma posição
tradicionalmente reservada aos homens em sociedades muçulmanas: em 2009,
um jurista liberal, Sheikh Taysir Tamimi, nomeou as duas primeiras
juízas dos tribunais islâmicos dos territórios palestinos, responsáveis
por todos os assuntos ligados à família, incluindo divórcio e heranças.
Os defensores dos direitos das mulheres aprovaram a decisão, mas
disseram que isso é só o começo —afinal, há um sem-fim de problemas na
lei que rege o matrimônio e seu processo, além de regras injustas de
guarda dos filhos e omissão de informação sobre os direitos femininos.
Acadêmicos progressistas muçulmanos, por outro lado, torcem para que
pioneiras como Tahrir encorajem outras mulheres a competirem pelas vagas
no sistema judicial islâmico.
“Esse é um início abençoado. Uma mulher se explicar para outra, para
uma pessoa do mesmo sexo, é muito mais fácil que ter que se explicar
para um homem”, diz Sheikh Tamimi.
Desde a nomeação de Tahrir, mais duas mulheres se inscreveram para as vagas de juízas de paz.
As celebrações matrimoniais palestinas são eventos tipicamente
elaborados, que duram vários dias —mas a cerimônia oficial não leva mais
que alguns minutos e é realizada em uma sala sem graça, na qual o noivo
e o pai da noiva assinam um contrato.
É aí que entra Tahrir. Há pouco tempo, a mãe de uma noiva comentou,
toda animada, que uma mulher celebraria o casamento, e começou a fazer
piada, falando que ia jogar o marido pela janela e começar tudo de novo.
Tahrir perguntou à noiva, Saja Harfoush, 22, se ela concordava em se
casar com um funcionário público de 23. A resposta da moça foi
inaudível.
Sua mãe, encorajada pela presença da juíza, disse à filha: “Fala mais alto!”.
Mais tarde, as duas famílias agradeceram Tahrir por perguntar explicitamente à noiva se ela consentia com a cerimônia.
“Ela deu abertura para a noiva expressar o que queria. Quando eu me
casei, o juiz não me deixou falar. Não foi nada parecido com o que a
nossa irmã Tahrir fez”, conta a mãe de Saja.
No mesmo dia, as famílias de outro noivo, Munif Qamish, 22, e da
noiva, Raghad Qamish, 17, encheram a sala minúscula. O casal tem o mesmo
sobrenome porque os dois são primos de primeiro grau, ocorrência comum
na sociedade palestina.
Tahrir se voltou para a noiva adolescente e perguntou se ela queria
estipular alguma condição ao contrato, ao que a garota sussurrou: “Eu
gostaria de me formar.”
Mais tarde, a jovem confessou que só tinha percebido que poderia
condicionar seu casamento ao direito de concluir os estudos quando
Tahrir lhe fez a pergunta.
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