Em um
mundo de bambus e santuários budistas, o Jardim das Lembranças Wo Hop
Shek surpreende por sua beleza.Mas o jardim, que abriu há dois anos como
um lugar onde as famílias pudessem espalhar as cinzas de seus entes
queridos, está deserto.As paredes de granito, que exibem os nomes
daqueles que lá descansam, estão quase nuas."Ninguém quer vir para cá",
disse Lam Ming-wai, que supervisiona o jardim.
Há gerações, as famílias de Hong Kong seguem os mesmos costumes para
honrar seus mortos, disputando pontos privilegiados nas montanhas e
perto do mar para enterros, ou gastando pequenas fortunas em urnas de
jade e cerimônias elaboradas.
Agora, porém, o governo tenta mudar os costumes.Preocupado com a
escassez de espaço e o aumento de mortes, ele empreendeu um esforço para
promover "enterros verdes", estimulando as pessoas a jogar as cinzas em
jardins ou no mar.
Em uma sociedade onde os antepassados são adorados, muitos veem a
ideia como um anátema.A tradição chinesa manda as famílias devolverem
seus parentes falecidos à sua terra natal e enterrá-los ou preservar
suas cinzas para que as gerações futuras possam lhes prestar homenagem.
Funcionários visitaram centros para idosos para vender a ideia de
"retorno à natureza".O governo criou um site memorial como uma
alternativa para as lápides, que conta até com um botão para fazer
oferendas de frutas virtuais.Anúncios de serviço público com referências
ao renascimento têm aparecido na televisão.
Hong Kong é uma das metrópoles mais povoadas do mundo, com 7,2
milhões pessoas amontoadas em cerca de mil quilômetros quadrados.Nas
últimas quatro décadas, antecipando a escassez de espaço para enterros, o
governo conseguiu convencer os moradores a abandonar os enterros em
favor da cremação, algo que antes era raro.Hoje, cerca de 90% dos mortos
são cremados.
Mas, agora, Hong Kong está ficando sem espaço para armazenar as
cinzas.Sophia S. C.Chan, que supervisiona o programa de “enterro verde”,
disse que apenas 9% das pessoas que foram cremadas tiveram suas cinzas
espalhadas no ano passado.Tem sido difícil superar a ideia de que
espalhar as cinzas é uma falta de respeito com os mortos.
O governo providenciou oito jardins para isso.Além disso, passou a
oferecer passeios de balsa para aqueles que desejam jogar as cinzas no
mar.No entanto, muitos ainda têm dúvidas.
Quando o pai de Lam morreu, em 2012, ele sugeriu à sua mãe que
honrassem o desejo do pai jogando suas cinzas no mar. Ela, no entanto,
ficou furiosa."Ela achava que os restos mortais seriam comidos pelos
peixes", disse.
No fim, ele acabou por convencê-la.Lam garantiu que iria pendurar uma
placa com o nome do pai em um jardim nas proximidades do memorial, para
que a viúva tivesse um lugar para levar frutas e crisântemos, ajoelhar e
rezar todos os anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário