Seus rostinhos solitários aparecem nos anúncios, envergonhados e procurando por um amor.
"Oi, meu nome é Musti", diz um cartaz. "Sou um educado, bonito e respeitoso. Preocupo-me com a saúde e adoro cenouras. Sou um homem de uma só mulher e prometo cuidar bem de você."
E lá está Foster, com sua papada e olhos cobertos por pálpebras espessas. "Foster se recusa a comer até que encontremos uma namorada para ele!", diz o cartaz
Na Índia obcecada por matrimônios, onde o casamento é um evento central da vida de uma pessoa, esses cartazes poderiam ser facilmente de solteirões de pequenas cidades em busca de amor, pressionados pelos pais ansiosos por uma noiva.
Porém, a moça adequada que esses solteiros procuram é peluda e quadrúpede. Encontrá-la, no entanto, não é fácil.
"Tenho procurado por meses, mas sem sorte", disse Kunal Shingla, que busca uma parceira para Foster, seu basset hound de dois anos.
A elite de Nova Déli há muito tempo aprecia cães de raça pura. Com mais indianos se tornando parte da classe média, ter um cão pomerânio, shih tzu ou mastim napolitano preso à coleira virou um símbolo de nova riqueza e status.
Diferente dos vira-latas de quintal do passado, esses cães, como os mimados bichos de estimação de ocidentais abastados, são parte da família. Com indianos jovens de classe média esperando mais tempo para se casar e ter filhos, e com os pais impacientes para terem netos, cães de pedigree preenchem um vazio criado pela realidade da vida urbana moderna.
"Hoje as famílias são menores, apenas marido e mulher, que não têm ninguém com quem conversar", disse Partha Chatterjee, um conhecido jurado de exposições de cães na Índia. "Eles têm acesso a todos esses programas de televisão em que podem ver como os cães são tratados no exterior. E também desejam esse tipo de símbolo de riqueza."
Porém, os cães da emergente classe média indiana têm um problema. Todos, ao que parece, desejam um cão macho. E por se tratar da Índia, todos também querem que seu cão tenha uma companheira. A esterilização simplesmente está fora de questão.
"Ele é um bom cachorro", disse Shingla, um próspero executivo de marketing que trabalha na fábrica da família, referindo-se a Foster. "Quero que ele tenha toda a felicidade em sua vida."
Há três meses, ele colocou anúncios com a foto de Foster de língua para fora em pet shops de toda Nova Déli, e em fóruns populares de bichos de estimação, buscando por um basset hound fêmea. Mas não teve nenhum retorno.
A preferência dos indianos por cães machos é em parte o resultado de uma preferência social ao sexo masculino, dizem criadores. Em algumas regiões da Índia, os filhos são muito mais valorizados do que as filhas. Tal fato é refletido na razão desequilibrada de meninos e meninas em alguns estados, evidência de aborto ilegal de bebês do sexo feminino, uma prática ainda disseminada.
Também existe a percepção, falsa em grande parte, de que fêmeas dão mais trabalho do que machos por causa de seus ciclos menstruais. Além disso, no passado, quando a maioria das pessoas tinha cães para tomarem conta da casa, a percepção de que os machos eram mais agressivos dava a eles uma vantagem.
Sandeep Chopra, cuja empresa, Classic Kennels, fornece cães para pet shops do país inteiro, disse que pessoalmente preferia fêmeas por seu temperamento dócil. Já seus clientes são outra história.
"Quando um cliente compra um cão, 99% adquirem um macho e, posteriormente, quando precisam de uma companheira, eles encontram problemas", Chopra disse.
Ele tentou montar uma agência de encontros canina, relacionando machos e fêmeas da mesma raça, mas era simplesmente impossível encontrar combinações. Segundo ele, a maioria das fêmeas permanece com criadores profissionais, que preferem cães procriadores. Isso também mantém a oferta de raças populares limitada -- se as pessoas não conseguirem gerar filhotes em seus quintais, elas não cortarão os lucros dos criadores.
Raças específicas entram e saem de moda. O buldogue pug é a sensação do momento. A Vodafone, uma empresa de celular, colocou um dos cães de rostinho enrugado em uma popular campanha publicitária. O envergonhado bichinho do anúncio, com suas orelhas pontudas, papo enrugado e cabeça alegremente inclinada, fez com que o preço de um filhote de buldogue pug subisse para mais de US$ 400.
Vidushi Sinha, atriz de 23 anos, amava sua cadela, Betsy, o filhote de uma vira-lata da vizinhança. Mas há alguns anos, sua mãe viu um filhote de buldogue pug em um pet shop que fez seu coração derreter. "Ele era tão fofo", Sinha disse.
Eles chamaram o filhote de Julian. Ele ainda é adorável, Sinha disse, mas a família rapidamente descobriu as desvantagens de ensinar um macho a fazer xixi no lugar adequado.
"Machos levantam a pata em qualquer lugar", ela disse. E agora há outro problema: Julian gosta de ser amoroso com móveis e pessoas -- de modo mais íntimo do que muitos gostariam.
Por isso, há um ano, ela colocou um cartaz em um mercado de luxo em Nova Déli. Houve algumas ligações de retorno, mas até agora nenhuma parceira deu certo.
"Já arrumei duas ou três namoradas e ele não se interessou", ela disse. "Acho que ele já está comprometido. Não há motivo para procurar por uma namorada porque ele já tem um namorado. Ouvi dizer que muitos desses cães pequenos são gays."
Julian se apegou muito a outro buldogue da rua chamado Chotabhai, que significa irmão caçula em hindi. "Eu não me incomodo", Sinha disse, com um tom de resignação indiferente em sua voz. "Contanto que ele esteja feliz."
"Oi, meu nome é Musti", diz um cartaz. "Sou um educado, bonito e respeitoso. Preocupo-me com a saúde e adoro cenouras. Sou um homem de uma só mulher e prometo cuidar bem de você."
E lá está Foster, com sua papada e olhos cobertos por pálpebras espessas. "Foster se recusa a comer até que encontremos uma namorada para ele!", diz o cartaz
Na Índia obcecada por matrimônios, onde o casamento é um evento central da vida de uma pessoa, esses cartazes poderiam ser facilmente de solteirões de pequenas cidades em busca de amor, pressionados pelos pais ansiosos por uma noiva.
Porém, a moça adequada que esses solteiros procuram é peluda e quadrúpede. Encontrá-la, no entanto, não é fácil.
"Tenho procurado por meses, mas sem sorte", disse Kunal Shingla, que busca uma parceira para Foster, seu basset hound de dois anos.
A elite de Nova Déli há muito tempo aprecia cães de raça pura. Com mais indianos se tornando parte da classe média, ter um cão pomerânio, shih tzu ou mastim napolitano preso à coleira virou um símbolo de nova riqueza e status.
Diferente dos vira-latas de quintal do passado, esses cães, como os mimados bichos de estimação de ocidentais abastados, são parte da família. Com indianos jovens de classe média esperando mais tempo para se casar e ter filhos, e com os pais impacientes para terem netos, cães de pedigree preenchem um vazio criado pela realidade da vida urbana moderna.
"Hoje as famílias são menores, apenas marido e mulher, que não têm ninguém com quem conversar", disse Partha Chatterjee, um conhecido jurado de exposições de cães na Índia. "Eles têm acesso a todos esses programas de televisão em que podem ver como os cães são tratados no exterior. E também desejam esse tipo de símbolo de riqueza."
Porém, os cães da emergente classe média indiana têm um problema. Todos, ao que parece, desejam um cão macho. E por se tratar da Índia, todos também querem que seu cão tenha uma companheira. A esterilização simplesmente está fora de questão.
"Ele é um bom cachorro", disse Shingla, um próspero executivo de marketing que trabalha na fábrica da família, referindo-se a Foster. "Quero que ele tenha toda a felicidade em sua vida."
Há três meses, ele colocou anúncios com a foto de Foster de língua para fora em pet shops de toda Nova Déli, e em fóruns populares de bichos de estimação, buscando por um basset hound fêmea. Mas não teve nenhum retorno.
A preferência dos indianos por cães machos é em parte o resultado de uma preferência social ao sexo masculino, dizem criadores. Em algumas regiões da Índia, os filhos são muito mais valorizados do que as filhas. Tal fato é refletido na razão desequilibrada de meninos e meninas em alguns estados, evidência de aborto ilegal de bebês do sexo feminino, uma prática ainda disseminada.
Também existe a percepção, falsa em grande parte, de que fêmeas dão mais trabalho do que machos por causa de seus ciclos menstruais. Além disso, no passado, quando a maioria das pessoas tinha cães para tomarem conta da casa, a percepção de que os machos eram mais agressivos dava a eles uma vantagem.
Sandeep Chopra, cuja empresa, Classic Kennels, fornece cães para pet shops do país inteiro, disse que pessoalmente preferia fêmeas por seu temperamento dócil. Já seus clientes são outra história.
"Quando um cliente compra um cão, 99% adquirem um macho e, posteriormente, quando precisam de uma companheira, eles encontram problemas", Chopra disse.
Ele tentou montar uma agência de encontros canina, relacionando machos e fêmeas da mesma raça, mas era simplesmente impossível encontrar combinações. Segundo ele, a maioria das fêmeas permanece com criadores profissionais, que preferem cães procriadores. Isso também mantém a oferta de raças populares limitada -- se as pessoas não conseguirem gerar filhotes em seus quintais, elas não cortarão os lucros dos criadores.
Raças específicas entram e saem de moda. O buldogue pug é a sensação do momento. A Vodafone, uma empresa de celular, colocou um dos cães de rostinho enrugado em uma popular campanha publicitária. O envergonhado bichinho do anúncio, com suas orelhas pontudas, papo enrugado e cabeça alegremente inclinada, fez com que o preço de um filhote de buldogue pug subisse para mais de US$ 400.
Vidushi Sinha, atriz de 23 anos, amava sua cadela, Betsy, o filhote de uma vira-lata da vizinhança. Mas há alguns anos, sua mãe viu um filhote de buldogue pug em um pet shop que fez seu coração derreter. "Ele era tão fofo", Sinha disse.
Eles chamaram o filhote de Julian. Ele ainda é adorável, Sinha disse, mas a família rapidamente descobriu as desvantagens de ensinar um macho a fazer xixi no lugar adequado.
"Machos levantam a pata em qualquer lugar", ela disse. E agora há outro problema: Julian gosta de ser amoroso com móveis e pessoas -- de modo mais íntimo do que muitos gostariam.
Por isso, há um ano, ela colocou um cartaz em um mercado de luxo em Nova Déli. Houve algumas ligações de retorno, mas até agora nenhuma parceira deu certo.
"Já arrumei duas ou três namoradas e ele não se interessou", ela disse. "Acho que ele já está comprometido. Não há motivo para procurar por uma namorada porque ele já tem um namorado. Ouvi dizer que muitos desses cães pequenos são gays."
Julian se apegou muito a outro buldogue da rua chamado Chotabhai, que significa irmão caçula em hindi. "Eu não me incomodo", Sinha disse, com um tom de resignação indiferente em sua voz. "Contanto que ele esteja feliz."
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