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"O Cordão", que estreou este mês atraindo plateias de 1.000 pessoas ou mais ao auditório principal de Gaza, critica todas as partes envolvidas nas divergências amargas, às vezes sangrentas, que vêm dificultando a campanha pela criação de um Estado palestino independente.
Mas no enclave costeiro da Faixa de Gaza, bloqueado por Israel, o desespero sentido por muitos tem como alvo o Hamas islâmico, que vem exercendo o virtual monopólio sobre a política e a economia da Faixa de Gaza desde 2007, quando expulsou do território as forças do presidente Mahmoud Abbas, que tem o apoio do Ocidente.
A peça proporciona ao público -- e a quaisquer líderes do Hamas que possam sentir-se ofendidos -- muitas oportunidades de zombar do movimento Fatah, de Abbas, e de outros partidos palestinos, todos os quais, para o povo comum, compartilham a responsabilidade pela condução caótica e frequentemente corrupta dos assuntos palestinos ao longo das décadas.
"Já ouvimos vocês! Já os conhecemos, já os experimentamos e estamos fartos de vocês!", grita um personagem da peça a um grupo de lideranças políticas reunidas sobre o palco.
A fidelidade partidária de cada personagem é revelado pela cor do cordão que amarra o feixe de papéis burocráticos que eles carregam de um lado a outro. Cada cordão chega até os bastidores do teatro, sugerindo ao público que os cordões funcionem como cordões umbilicais que amarrem os personagens às potências estrangeiras ocultas que os financiam.
O cordão verde representa o Hamas, apoiado pelo Irã islâmico; o amarelo é o Fatah, apoiado pela ajuda ocidental; o cordão vermelho é para os grupos de esquerda, como a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), e o negro denota a Jihad Islâmica e seus aliados.
Cada ironia era saudada com aplausos do público, que se identificava com o clima de desespero criado por um cenário representando as favelas de um campo de refugiados, com os muros recobertos de pichações das diferentes facções.
As autoridades comandadas pelo Hamas aprovaram a encenação da peça, mas, para os artistas, podem não ter tido plena consciência de seu teor.
Para o dramaturgo Eyad Abu Shareea, foi importante dar voz ao povo comum da Faixa de Gaza e também da Cisjordânia ocupada, cujo principal desejo na política é que seus líderes se entendam e cooperem.
Muitas pessoas na plateia confessaram que reprimiram lágrimas em meio aos risos, à medida que a sátira dava lugar aos pesares e ansiedades de uma população farta de discursos e promessas vazias de lideranças rivais ao longo dos anos.
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