domingo, 25 de julho de 2010
Esta é uma fábula sobre dois veículos indianos –o Jaguar e o jugaad.
O primeiro é um dos melhores carros do mundo. Era um produto estritamente britânico e hoje é propriedade da Tata Motors da Índia. O XJL Supersport, que pode custar até US$ 100.000 (em torno de R$ 200.000) vem com um motor de 510 cavalos, assentos que massageiam, iluminação variável, disco rígido e cortinas traseiras elétricas.
Depois tem o jugaad, que não é em nada parecido com um Jaguar.
Para começar, é ilegal: um caminhão construído de peças, como uma colcha de retalhos, nos barracos do Norte da Índia, longe da vista dos fiscais. Partes de jipes velhos são cortadas e soldadas e combinadas com tábuas de madeira para formar um chassis. Depois, a estrutura recebe um motor comumente usado para bombas de irrigação.
Sinos de verdade e apitos podem ser acrescentados como adornos e as rodas são pintadas a mão.
O caminhão dá aos moradores das aldeias da Índia uma carona barata: US$ 0,10 por uma viagem de meia hora com algumas dúzias de pessoas. A lógica do negócio é tão atraente que os jugaads passaram a fazer parte de dotes.
O caminhão pode ser desconhecido, mas a cultura por trás dele agora é moda de gerenciamento. Jugaad, não como nome, mas como verbo subitamente é tema de firmas de consultoria como McKinsey e empresas como Best Buy nos EUA.
O verbo “jugaad” de gíria híndi, traduzido para os gerentes significa fazer algo como o veículo jugaad. Ou seja, ser inovador face à escassez de recursos –uma fórmula vencedora para tempos de turbulências econômicas. Gurus de gerenciamento citam criações de muito baixo custo na Índia como inspiração: o eletrocardiograma de US$ 800, o filtro de água de US$ 24, o carro de US$ 2.500, o inversor de eletricidade de US$ 100, a lâmpada solar de US$ 12.
Esses exemplos, contudo, representam apenas uma faixa do que é jugaad. É mais do que uma inovação frugal; o jugaad é uma forma de vida, aqui como em outros lugares, que anteciparam importantes movimentos do século 21, desde a tecnologia aberta até a fusão cultural. Anos de observação da Índia permitem-nos evocar alguns princípios, muitos deles úteis fora do mundo empresarial.
A Índia não é um país fácil; ser fatalistamente criativo é transcender suas dificuldades. É irritar-se diariamente contra a forma que as coisas funcionam; resistir à tentação idealista de mudar tudo isso; e lutar em vez disso por sucessos e soluções em meio às limitações.
Por exemplo, na Índia é comum as pessoas não terem troco. Pequenas empresas raramente têm moedas e notas de 10 e 50 rúpias, necessárias na maior parte das transações. Elas resolvem o problema com açúcar, à maneira jugaad. Uma farmácia pode lhe dar um chiclete Orbit em vez de 5 rúpias; um amigo recentemente recebeu três chocolates Cadbury e uma revista Tehelka quando um operador de pedágio não conseguiu encontrar 25 rúpias.
Você talvez possa ouvir os ecos do espírito do jugaad no idealismo carreirista da geração Y no Ocidente. Aqueles cujos pais formaram barricadas, sonhando com uma nova ordem, parecem muito mais dispostos a trabalhar em um projeto de microcrédito do Citibank hoje –fatalistas diante do sistema como um todo, mas criativos em seu meio. O Jugaad, como caminhão e estilo de vida, envolve um capitalismo diferente da filosofia de mercado que informa o Ocidente –e que prefigurou as novas e interessantes direções que o capitalismo está assumindo hoje.
Muito antes do movimento local decolar, o jugaad aconselhava um capitalismo cara a cara, no qual você conhece as pessoas que produziram os produtos que você compra, no qual você casou seus filhos com famílias que emprestaram dinheiro a você e rezou junto com seus clientes e fornecedores.
Muito antes de Wall Street sinalizar os perigos do capitalismo da realidade virtual, o jugaad desconfiava do que não podia ver. Ele estimulou o capitalismo tangível do pequeno empresário, que precisa sobreviver em um mercado em mutação, não de empresas do tamanho do governo que são grandes demais para falir.
E muito antes dos empresários sociais descobrirem o “investimento de impacto”, o jugaad fomentou um capitalismo humanista que apagava a linha entre serviço comunitário e lucro, no qual criadores de instituições não sentiam a compulsão ideológica de escolher entre os dois.
O taxi amarelo e preto de Mumbai, um exemplo de jugaad, era uma resultante do conhecimento coletivo antes da Wikipédia e uma fonte aberta antes do Firefox.
Os taxis, sedãs Padmini com design da Fiat fabricados no meio do século passado, não foram atualizados em décadas. Seu fabricante saiu de cena. Mas na Índia do jugaad, isso significa que uma pessoa pode ser mecânica de Padmini, fornecedora ou decoradora.
Os taxis de Mumbai estão cheios de experimentos: luzes azuis, hastes de metal, tomadas de energia, imagens de santos que tocam música, enormes auto-falantes, minúsculos ventiladores, rádios controlados por interruptores.
Hoje, enquanto esses taxis dão lugar a novos Hyundais e similares, o espírito prossegue com os telefones celulares: diferentemente do Ocidente, onde você precisa contatar a Vodafone e só a Vodafone para questões de conectividade ou a Nokia e somente a Nokia para problemas com o aparelho, nas ruas da Índia e no mundo em desenvolvimento, uma em cada três lojas é de um especialista em telefonia celular. Eles apertam seu aparelho com chaves de fenda e canetas, recarregam seu crédito e respondem perguntas em nome da empresa para a qual não trabalham.
Certa vez perguntaram a A. K. Ramanujan, falecido folclorista indiano, se havia uma forma especialmente indiana de pensar. Sua conclusão foi que os ocidentais se sentiam melhores com verdades aplicadas universalmente a todos os casos, enquanto os indianos resistiam ao universal, preferindo soluções específicas para cada situação.
Esse é o jugaad filosófico: uma abordagem aos dilemas humanos que rejeita a escolha ou um ou outro.
No âmbito da mudança social atual, os indianos parecem sentir menos necessidade do que a maior parte do mundo de rotular e se definir. Eles ficam satisfeitos com a mistura de identidades à moda do caminhão do norte da Índia fabricado no barraco.
Jovens nas cidades atualmente buscam o amor romântico, em desafio ao casamento arranjado. Mas frequentemente não se importam com os pais tentando arrumar casamentos paralelamente. Podem cheirar cocaína e massagear os pés dos pais na mesma noite, sem ver contradições.
Os indianos gays também aplicam o jugaad navegando em uma sociedade que é hiper globalizada na superfície e conservadora nos seus interstícios. Como me disse Parmesh Shahani, autor de “Gay Bombay: Globalization, Love and (Be)longing in Contemporary Índia” (Mumbai gay: globalização, amor e pertencer à Índia contemporânea”, os indianos gays são diferentes do resto do mundo ao preservarem o contato com os pais, avós, tios e tias mesmo circulando em um universo gay. Eles circulam facilmente das reuniões de negócios da família para boates gays e para casamentos de primos.
“Não é o caso de ‘vamos ter nosso próprio gueto no Castro e tudo vai ser ótimo’”, disse ele. “Eles preferem o caminho difícil de negociar, diariamente, com uma quantidade tremenda de jugaad, a rede complicada de relacionamentos que os envolve”.
O primeiro é um dos melhores carros do mundo. Era um produto estritamente britânico e hoje é propriedade da Tata Motors da Índia. O XJL Supersport, que pode custar até US$ 100.000 (em torno de R$ 200.000) vem com um motor de 510 cavalos, assentos que massageiam, iluminação variável, disco rígido e cortinas traseiras elétricas.
Depois tem o jugaad, que não é em nada parecido com um Jaguar.
Para começar, é ilegal: um caminhão construído de peças, como uma colcha de retalhos, nos barracos do Norte da Índia, longe da vista dos fiscais. Partes de jipes velhos são cortadas e soldadas e combinadas com tábuas de madeira para formar um chassis. Depois, a estrutura recebe um motor comumente usado para bombas de irrigação.
Sinos de verdade e apitos podem ser acrescentados como adornos e as rodas são pintadas a mão.
O caminhão dá aos moradores das aldeias da Índia uma carona barata: US$ 0,10 por uma viagem de meia hora com algumas dúzias de pessoas. A lógica do negócio é tão atraente que os jugaads passaram a fazer parte de dotes.
O caminhão pode ser desconhecido, mas a cultura por trás dele agora é moda de gerenciamento. Jugaad, não como nome, mas como verbo subitamente é tema de firmas de consultoria como McKinsey e empresas como Best Buy nos EUA.
O verbo “jugaad” de gíria híndi, traduzido para os gerentes significa fazer algo como o veículo jugaad. Ou seja, ser inovador face à escassez de recursos –uma fórmula vencedora para tempos de turbulências econômicas. Gurus de gerenciamento citam criações de muito baixo custo na Índia como inspiração: o eletrocardiograma de US$ 800, o filtro de água de US$ 24, o carro de US$ 2.500, o inversor de eletricidade de US$ 100, a lâmpada solar de US$ 12.
Esses exemplos, contudo, representam apenas uma faixa do que é jugaad. É mais do que uma inovação frugal; o jugaad é uma forma de vida, aqui como em outros lugares, que anteciparam importantes movimentos do século 21, desde a tecnologia aberta até a fusão cultural. Anos de observação da Índia permitem-nos evocar alguns princípios, muitos deles úteis fora do mundo empresarial.
A Índia não é um país fácil; ser fatalistamente criativo é transcender suas dificuldades. É irritar-se diariamente contra a forma que as coisas funcionam; resistir à tentação idealista de mudar tudo isso; e lutar em vez disso por sucessos e soluções em meio às limitações.
Por exemplo, na Índia é comum as pessoas não terem troco. Pequenas empresas raramente têm moedas e notas de 10 e 50 rúpias, necessárias na maior parte das transações. Elas resolvem o problema com açúcar, à maneira jugaad. Uma farmácia pode lhe dar um chiclete Orbit em vez de 5 rúpias; um amigo recentemente recebeu três chocolates Cadbury e uma revista Tehelka quando um operador de pedágio não conseguiu encontrar 25 rúpias.
Você talvez possa ouvir os ecos do espírito do jugaad no idealismo carreirista da geração Y no Ocidente. Aqueles cujos pais formaram barricadas, sonhando com uma nova ordem, parecem muito mais dispostos a trabalhar em um projeto de microcrédito do Citibank hoje –fatalistas diante do sistema como um todo, mas criativos em seu meio. O Jugaad, como caminhão e estilo de vida, envolve um capitalismo diferente da filosofia de mercado que informa o Ocidente –e que prefigurou as novas e interessantes direções que o capitalismo está assumindo hoje.
Muito antes do movimento local decolar, o jugaad aconselhava um capitalismo cara a cara, no qual você conhece as pessoas que produziram os produtos que você compra, no qual você casou seus filhos com famílias que emprestaram dinheiro a você e rezou junto com seus clientes e fornecedores.
Muito antes de Wall Street sinalizar os perigos do capitalismo da realidade virtual, o jugaad desconfiava do que não podia ver. Ele estimulou o capitalismo tangível do pequeno empresário, que precisa sobreviver em um mercado em mutação, não de empresas do tamanho do governo que são grandes demais para falir.
E muito antes dos empresários sociais descobrirem o “investimento de impacto”, o jugaad fomentou um capitalismo humanista que apagava a linha entre serviço comunitário e lucro, no qual criadores de instituições não sentiam a compulsão ideológica de escolher entre os dois.
O taxi amarelo e preto de Mumbai, um exemplo de jugaad, era uma resultante do conhecimento coletivo antes da Wikipédia e uma fonte aberta antes do Firefox.
Os taxis, sedãs Padmini com design da Fiat fabricados no meio do século passado, não foram atualizados em décadas. Seu fabricante saiu de cena. Mas na Índia do jugaad, isso significa que uma pessoa pode ser mecânica de Padmini, fornecedora ou decoradora.
Os taxis de Mumbai estão cheios de experimentos: luzes azuis, hastes de metal, tomadas de energia, imagens de santos que tocam música, enormes auto-falantes, minúsculos ventiladores, rádios controlados por interruptores.
Hoje, enquanto esses taxis dão lugar a novos Hyundais e similares, o espírito prossegue com os telefones celulares: diferentemente do Ocidente, onde você precisa contatar a Vodafone e só a Vodafone para questões de conectividade ou a Nokia e somente a Nokia para problemas com o aparelho, nas ruas da Índia e no mundo em desenvolvimento, uma em cada três lojas é de um especialista em telefonia celular. Eles apertam seu aparelho com chaves de fenda e canetas, recarregam seu crédito e respondem perguntas em nome da empresa para a qual não trabalham.
Certa vez perguntaram a A. K. Ramanujan, falecido folclorista indiano, se havia uma forma especialmente indiana de pensar. Sua conclusão foi que os ocidentais se sentiam melhores com verdades aplicadas universalmente a todos os casos, enquanto os indianos resistiam ao universal, preferindo soluções específicas para cada situação.
Esse é o jugaad filosófico: uma abordagem aos dilemas humanos que rejeita a escolha ou um ou outro.
No âmbito da mudança social atual, os indianos parecem sentir menos necessidade do que a maior parte do mundo de rotular e se definir. Eles ficam satisfeitos com a mistura de identidades à moda do caminhão do norte da Índia fabricado no barraco.
Jovens nas cidades atualmente buscam o amor romântico, em desafio ao casamento arranjado. Mas frequentemente não se importam com os pais tentando arrumar casamentos paralelamente. Podem cheirar cocaína e massagear os pés dos pais na mesma noite, sem ver contradições.
Os indianos gays também aplicam o jugaad navegando em uma sociedade que é hiper globalizada na superfície e conservadora nos seus interstícios. Como me disse Parmesh Shahani, autor de “Gay Bombay: Globalization, Love and (Be)longing in Contemporary Índia” (Mumbai gay: globalização, amor e pertencer à Índia contemporânea”, os indianos gays são diferentes do resto do mundo ao preservarem o contato com os pais, avós, tios e tias mesmo circulando em um universo gay. Eles circulam facilmente das reuniões de negócios da família para boates gays e para casamentos de primos.
“Não é o caso de ‘vamos ter nosso próprio gueto no Castro e tudo vai ser ótimo’”, disse ele. “Eles preferem o caminho difícil de negociar, diariamente, com uma quantidade tremenda de jugaad, a rede complicada de relacionamentos que os envolve”.
Aproximadamente dois anos atrás, Rowdha Yousef começou a notar uma tendência perturbadora: mulheres sauditas como ela estavam organizando campanhas por mais liberdade pessoal.
Ela ficou especialmente surpresa no ano passado, quando leu reportagens sobre uma ativista do leste da Arábia Saudita, Wajeha al Huwaider, que foi à fronteira com Bahrein e pediu para atravessar usando só seu passaporte, sem um acompanhante homem ou a autorização por escrito de um guardião.
Huwaider não teve permissão para deixar o país desacompanhada e, como outras mulheres sauditas que fazem campanha por novos direitos, não conseguiu -até agora- mudar as leis ou os costumes vigentes.
Mas Yousef continua revoltada, e em agosto passou a atacar as ativistas com as mesmas armas. Com outras 15 mulheres, iniciou a campanha "Meu guardião sabe o que é melhor para mim". Em dois meses elas haviam reunido mais de 5.400 assinaturas em um abaixo-assinado, pedindo "punições para aqueles que pedem igualdade entre homens e mulheres, a mistura de homens com mulheres em ambientes mistos e outros comportamentos inaceitáveis".
A luta de Yousef contra as supostas liberalizadoras faz parte de uma polêmica maior na sociedade saudita sobre os direitos das mulheres, que subitamente tornou o fator feminino uma questão importante para reformistas e conservadores que lutam para moldar o futuro da Arábia Saudita.
Yousef, 39, divorciada e mãe de três crianças (de 13, 12 e nove anos), é mediadora voluntária em casos de agressão doméstica. Uma mulher alta e confiante, com modos efusivos e sandálias de salto alto brilhantes, sua conversa abrange do racismo no reino (Yousef tem ascendência somali e chama a si mesma de saudita negra) a sua admiração por Hillary Clinton e às agressões que ela diz ter sofrido nas mãos das liberais sauditas.
Ela acredita que a maioria das sauditas compartilha seus valores conservadores, mas insiste em que a adesão à sharia (lei islâmica) e aos costumes familiares não precisa restringir a mulher que quer ter voz ativa. As ativistas no campo das reformas, ela diz, são influenciadas por ocidentais que não compreendem as necessidades e as crenças das sauditas.
"Esses grupos de direitos humanos vêm e só escutam um lado, o das que pedem liberdade para as mulheres", ela disse. Toda mulher saudita, independentemente da idade ou da posição social, deve ter um parente homem que atue como seu guardião e tenha responsabilidade e autoridade sobre ela em uma série de questões legais e pessoais.
Yousef, cujo guardião é seu irmão mais velho, diz que ela desfruta de grande liberdade enquanto respeita as regras de sua sociedade. Ela diz que pôde começar sua campanha, por exemplo, sem pedir a permissão de seu guardião.
O esforço de Yousef pode parecer supérfluo. Afinal, as mulheres sauditas ainda não podem dirigir carros ou votar e são obrigadas a vestir mantos até os pés, conhecidos como abayas, e lenços na cabeça fora de casa.
As mulheres não podem comparecer ao tribunal e, embora possam se divorciar por meio de breves declarações verbais de seus maridos, frequentemente acham difícil obter o divórcio elas mesmas. Os pais podem casar filhas de dez anos, prática defendida pela mais alta autoridade religiosa, o grande mufti Abdul Aziz al Sheikh.
A separação de gêneros na vida pública saudita é radical -há lojas só para mulheres, filas só para mulheres nos restaurantes de fast food e escritórios só para mulheres em empresas privadas.
Membros da hai'a, o Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, um órgão governamental, patrulha para garantir que não ocorra a ikhtilat, ou "mistura" dos sexos.
Enquanto conservadoras como Yousef atribuem a recente mobilidade das ativistas pró-direitos à influência ocidental, as liberais dizem que o próprio rei Abdullah apoia cautelosamente mais liberdade para as mulheres sauditas.
O rei de 85 anos apareceu em jornais ao lado de mulheres sauditas com o rosto descoberto, uma situação que antes seria inimaginável. No ano passado, ele indicou uma mulher para um cargo de vice-ministra.
O xeque Ahmad al Ghamdi, chefe do ramo de Meca do Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, causou sensação quando disse ao jornal "The Okaz" que a mistura de gêneros faz "parte da vida normal". Já o xeque Abdul Rahman al Barrak emitiu, em fevereiro, uma "fatwa" pedindo a morte dos defensores da mistura de gêneros.
Hatoon al Fassi, professora-assistente de história das mulheres na Universidade Rei Saud, em Riad, disse que a mudança será lenta. "As pessoas passaram a vida inteira fazendo uma coisa e acreditando em uma coisa, e de repente o rei e os principais religiosos estão dizendo que misturar-se é certo", disse Fassi.
Huwaider, a que foi criticada ao tentar atravessar a fronteira de Bahrein, concordou com a alegação de que a maioria dos homens sauditas "se orgulha de seu cavalheirismo". "Mas é o mesmo tipo de sentimento que eles têm pelas pessoas deficientes ou por animais", disse Huwaider.
Em um blog, Eman Fahad, 31, uma estudante de linguística, chamou a campanha de Yousef de um esforço para "se opor às mulheres que exigem ser tratadas como adultas".
Mas Fahad admitiu que a maioria das sauditas prefere a tradição. "Se você realmente conversar com as pessoas comuns", inclusive em seu círculo, disse, "verá que a maioria quer que as coisas fiquem como estão".
Ela ficou especialmente surpresa no ano passado, quando leu reportagens sobre uma ativista do leste da Arábia Saudita, Wajeha al Huwaider, que foi à fronteira com Bahrein e pediu para atravessar usando só seu passaporte, sem um acompanhante homem ou a autorização por escrito de um guardião.
Huwaider não teve permissão para deixar o país desacompanhada e, como outras mulheres sauditas que fazem campanha por novos direitos, não conseguiu -até agora- mudar as leis ou os costumes vigentes.
Mas Yousef continua revoltada, e em agosto passou a atacar as ativistas com as mesmas armas. Com outras 15 mulheres, iniciou a campanha "Meu guardião sabe o que é melhor para mim". Em dois meses elas haviam reunido mais de 5.400 assinaturas em um abaixo-assinado, pedindo "punições para aqueles que pedem igualdade entre homens e mulheres, a mistura de homens com mulheres em ambientes mistos e outros comportamentos inaceitáveis".
A luta de Yousef contra as supostas liberalizadoras faz parte de uma polêmica maior na sociedade saudita sobre os direitos das mulheres, que subitamente tornou o fator feminino uma questão importante para reformistas e conservadores que lutam para moldar o futuro da Arábia Saudita.
Yousef, 39, divorciada e mãe de três crianças (de 13, 12 e nove anos), é mediadora voluntária em casos de agressão doméstica. Uma mulher alta e confiante, com modos efusivos e sandálias de salto alto brilhantes, sua conversa abrange do racismo no reino (Yousef tem ascendência somali e chama a si mesma de saudita negra) a sua admiração por Hillary Clinton e às agressões que ela diz ter sofrido nas mãos das liberais sauditas.
Ela acredita que a maioria das sauditas compartilha seus valores conservadores, mas insiste em que a adesão à sharia (lei islâmica) e aos costumes familiares não precisa restringir a mulher que quer ter voz ativa. As ativistas no campo das reformas, ela diz, são influenciadas por ocidentais que não compreendem as necessidades e as crenças das sauditas.
"Esses grupos de direitos humanos vêm e só escutam um lado, o das que pedem liberdade para as mulheres", ela disse. Toda mulher saudita, independentemente da idade ou da posição social, deve ter um parente homem que atue como seu guardião e tenha responsabilidade e autoridade sobre ela em uma série de questões legais e pessoais.
Yousef, cujo guardião é seu irmão mais velho, diz que ela desfruta de grande liberdade enquanto respeita as regras de sua sociedade. Ela diz que pôde começar sua campanha, por exemplo, sem pedir a permissão de seu guardião.
O esforço de Yousef pode parecer supérfluo. Afinal, as mulheres sauditas ainda não podem dirigir carros ou votar e são obrigadas a vestir mantos até os pés, conhecidos como abayas, e lenços na cabeça fora de casa.
As mulheres não podem comparecer ao tribunal e, embora possam se divorciar por meio de breves declarações verbais de seus maridos, frequentemente acham difícil obter o divórcio elas mesmas. Os pais podem casar filhas de dez anos, prática defendida pela mais alta autoridade religiosa, o grande mufti Abdul Aziz al Sheikh.
A separação de gêneros na vida pública saudita é radical -há lojas só para mulheres, filas só para mulheres nos restaurantes de fast food e escritórios só para mulheres em empresas privadas.
Membros da hai'a, o Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, um órgão governamental, patrulha para garantir que não ocorra a ikhtilat, ou "mistura" dos sexos.
Enquanto conservadoras como Yousef atribuem a recente mobilidade das ativistas pró-direitos à influência ocidental, as liberais dizem que o próprio rei Abdullah apoia cautelosamente mais liberdade para as mulheres sauditas.
O rei de 85 anos apareceu em jornais ao lado de mulheres sauditas com o rosto descoberto, uma situação que antes seria inimaginável. No ano passado, ele indicou uma mulher para um cargo de vice-ministra.
O xeque Ahmad al Ghamdi, chefe do ramo de Meca do Comitê para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, causou sensação quando disse ao jornal "The Okaz" que a mistura de gêneros faz "parte da vida normal". Já o xeque Abdul Rahman al Barrak emitiu, em fevereiro, uma "fatwa" pedindo a morte dos defensores da mistura de gêneros.
Hatoon al Fassi, professora-assistente de história das mulheres na Universidade Rei Saud, em Riad, disse que a mudança será lenta. "As pessoas passaram a vida inteira fazendo uma coisa e acreditando em uma coisa, e de repente o rei e os principais religiosos estão dizendo que misturar-se é certo", disse Fassi.
Huwaider, a que foi criticada ao tentar atravessar a fronteira de Bahrein, concordou com a alegação de que a maioria dos homens sauditas "se orgulha de seu cavalheirismo". "Mas é o mesmo tipo de sentimento que eles têm pelas pessoas deficientes ou por animais", disse Huwaider.
Em um blog, Eman Fahad, 31, uma estudante de linguística, chamou a campanha de Yousef de um esforço para "se opor às mulheres que exigem ser tratadas como adultas".
Mas Fahad admitiu que a maioria das sauditas prefere a tradição. "Se você realmente conversar com as pessoas comuns", inclusive em seu círculo, disse, "verá que a maioria quer que as coisas fiquem como estão".
terça-feira, 20 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Um homem sem camisa acende velas no quarto. Uma mulher aparece na porta. "Vamos, não podemos nos atrasar", ela suplica, mas seus olhos transmitem outra mensagem.
É apenas um dia de trabalho como outro qualquer para os astros e estrelas de "Gumus", a telenovela turca que, nos dois anos desde que entrou em cartaz no Kanal D, vem oferecendo ao país não apenas o milagre das preliminares ao sexo na televisão diurna, como também o compêndio de praxe de reviravoltas malucas em sua trama.
Não há nada nisso que surpreenderia um espectador ocidental. Mas a TV turca inovou no setor das telenovelas, ao mostrar sequestradores, adúlteros e personagens envolvidos em tramas rocambolescas -todos muçulmanos. E o público árabe está fascinado.
Liderada por "Gumus" (ou "Noor" em árabe), uma onda de seriados e novelas turcos, incluindo melodramas, seriados policiais e thrillers sobre conspirações, vem abrindo caminho nos aparelhos de TV árabes, exercendo uma espécie de "soft power".
Pela telinha, a Turquia começou a exercer sobre a cultura árabe uma influência profunda de um tipo com o qual os EUA só podem sonhar. E, não por coincidência, suas exportações culturais também têm favorecido as ambições políticas da Turquia.
As mulheres árabes, em especial, estão deixando clara a admiração que sentem pela história da personagem-título de "Noor", uma mulher forte, com tino para os negócios e que tem um marido chamado Muhannad que a adora.
A pediatra saudita Shafira Alghamdi, que passava férias em Istambul neste mês, explicou que os maridos árabes com frequência ignoram suas mulheres. Em "Noor", dentro de um contexto de casamentos arranjados ainda familiar para os árabes, Noor e Muhannad se amam e se admiram abertamente.
"Muitos homens sauditas sentem ciúmes sérios de Muhannad, porque suas mulheres dizem 'por que você não pode ser mais como ele?'", contou Alghamdi. Enquanto isso, ela própria ilustrava outra consequência da novela: o repentino e espetacular boom do turismo árabe na Turquia.
Mesmo os "fatwas" (decretos) de clérigos sauditas pedindo o assassinato dos distribuidores da telenovela não desencorajaram uma loja em Gaza de vender cópias dos vestidos usados em "Noor", sem mangas.
Uma charge recente em um jornal saudita mostrou uma pessoa procurando um cirurgião plástico, carregando uma foto do marido de Noor e perguntando ao cirurgião se pode ficar bonito como o ator.
"Os homens árabes dizem que não veem esses programas, mas assistem, sim", disse Arzum Damar, que trabalha em Istambul.
"Em última análise, o importante é a cultura local", disse Irfan Sahin, executivo-chefe da Dogan TV Holding, a maior empresa de mídia da Turquia, à qual pertence o Kanal D. "As pessoas reagem ao que lhes é familiar."
"É preciso entender que há pessoas vivendo hoje, até mesmo nesta cidade, que dizem que só aprenderam a beijar, e só souberam que o sexo envolve beijar, quando assistiram a 'Noor'", explicou Sengul Ozerkan, professora de TV em Istambul. "Então você pode imaginar por que o impacto da novela foi tão grande no mundo árabe."
É apenas um dia de trabalho como outro qualquer para os astros e estrelas de "Gumus", a telenovela turca que, nos dois anos desde que entrou em cartaz no Kanal D, vem oferecendo ao país não apenas o milagre das preliminares ao sexo na televisão diurna, como também o compêndio de praxe de reviravoltas malucas em sua trama.
Não há nada nisso que surpreenderia um espectador ocidental. Mas a TV turca inovou no setor das telenovelas, ao mostrar sequestradores, adúlteros e personagens envolvidos em tramas rocambolescas -todos muçulmanos. E o público árabe está fascinado.
Liderada por "Gumus" (ou "Noor" em árabe), uma onda de seriados e novelas turcos, incluindo melodramas, seriados policiais e thrillers sobre conspirações, vem abrindo caminho nos aparelhos de TV árabes, exercendo uma espécie de "soft power".
Pela telinha, a Turquia começou a exercer sobre a cultura árabe uma influência profunda de um tipo com o qual os EUA só podem sonhar. E, não por coincidência, suas exportações culturais também têm favorecido as ambições políticas da Turquia.
As mulheres árabes, em especial, estão deixando clara a admiração que sentem pela história da personagem-título de "Noor", uma mulher forte, com tino para os negócios e que tem um marido chamado Muhannad que a adora.
A pediatra saudita Shafira Alghamdi, que passava férias em Istambul neste mês, explicou que os maridos árabes com frequência ignoram suas mulheres. Em "Noor", dentro de um contexto de casamentos arranjados ainda familiar para os árabes, Noor e Muhannad se amam e se admiram abertamente.
"Muitos homens sauditas sentem ciúmes sérios de Muhannad, porque suas mulheres dizem 'por que você não pode ser mais como ele?'", contou Alghamdi. Enquanto isso, ela própria ilustrava outra consequência da novela: o repentino e espetacular boom do turismo árabe na Turquia.
Mesmo os "fatwas" (decretos) de clérigos sauditas pedindo o assassinato dos distribuidores da telenovela não desencorajaram uma loja em Gaza de vender cópias dos vestidos usados em "Noor", sem mangas.
Uma charge recente em um jornal saudita mostrou uma pessoa procurando um cirurgião plástico, carregando uma foto do marido de Noor e perguntando ao cirurgião se pode ficar bonito como o ator.
"Os homens árabes dizem que não veem esses programas, mas assistem, sim", disse Arzum Damar, que trabalha em Istambul.
"Em última análise, o importante é a cultura local", disse Irfan Sahin, executivo-chefe da Dogan TV Holding, a maior empresa de mídia da Turquia, à qual pertence o Kanal D. "As pessoas reagem ao que lhes é familiar."
"É preciso entender que há pessoas vivendo hoje, até mesmo nesta cidade, que dizem que só aprenderam a beijar, e só souberam que o sexo envolve beijar, quando assistiram a 'Noor'", explicou Sengul Ozerkan, professora de TV em Istambul. "Então você pode imaginar por que o impacto da novela foi tão grande no mundo árabe."
A música estilo dance trovejava entre a multidão de milhares de fãs bêbados, passando pelos pavilhões onde mulheres magras com saltos incrivelmente altos giravam em torno de barras de metal e ecoando nas ruas cheias de táxis que trazem os festeiros para esse show gratuito, banhado a uísque, no parque.
"Nossos pais não permitem, mas fazemos de qualquer modo", disse Zun Pwint Phyu, uma das dançarinas.
Em Mianmar (antiga Birmânia), possuir um aparelho de fax sem autorização é ilegal, as reuniões espontâneas de mais de cinco pessoas são tecnicamente proibidas, e os críticos do governo são habitualmente trancados durante décadas em pequenas celas de prisão.
Mas, apesar dessa repressão, ou talvez em parte por causa dela, os jovens birmaneses estão forçando os limites do que o governo militar, e mais ainda seus pais, consideram aceitável como arte e diversão.
Exposições de arte, algumas apresentando arriscadas mensagens políticas ocultas, são inauguradas quase toda semana em Yangun, a principal cidade de Mianmar. Yangun tem um festival de música underground, que inclui bandas punk, duas vezes por ano. Os fãs dos gêneros musicais mais populares, hip-hop e música eletrônica para dançar, usam calças frouxas e longas nos shows realizados regularmente ali.
U Thxa Soe, artista popular que mistura "danças espirituais" tradicionais com algo que parece música tecno, disse acreditar que, nos últimos anos, o governo tolerou os shows selvagens em parte porque se adequava a sua estratégia de controle. "Você precisa apertar e soltar, apertar e soltar", disse.
"Nós vivemos com medo", agregou. "Vivemos sob uma ditadura. As pessoas precisam de ar fresco e liberam sua raiva, sua energia."
O sucesso de artistas como Thxa Soe mina a imagem muitas vezes monocromática de Mianmar como lugar de liberdade zero. Esse país é brutalmente autoritário -grupos de direitos humanos contam 2.100 prisioneiros políticos. Mas mesmo que os generais quisessem, dizem as pessoas dali, o governo provavelmente não seria capaz de exercer um totalitarismo no estilo norte-coreano. A sociedade birmanesa é rebelde demais, desorganizada e corrupta; as pessoas são criativas demais, e o clima é quente demais para uma repressão 24 horas.
"O governo está tentando afastar a população da política", disse um empresário birmanês educado no Ocidente que não quis se identificar porque acha que poderia prejudicar sua empresa. "Não há pão suficiente, mas há muito circo."
Thxa Soe é um dos músicos mais assediados do país, constantemente chamado para ouvir reprimendas dos censores, que proibiram 9 das 12 faixas de seu disco recente.
Eles mandaram que ele apagasse outras canções ao longo dos anos de DVDs e CDs e aprovaram uma lei no ano passado que proíbe seu estilo musical inovador.
Mas, em um sinal revelador das complexidades da sociedade birmanesa, sua música é popular entre funcionários públicos. Às vezes ele brinca com os militares da inteligência enviados para espionar seus shows. Eles também são fãs, explicou. "Algumas pessoas no governo gostam de mim, algumas me odeiam", disse Thxa Soe.
Especular sobre que tipo de atividade o governo vai tolerar é um tema habitual de conversas ali, especialmente entre os que forçam os limites.
U Nyein Chan Su, artista cujo trabalho é frequentemente reprovado pelos censores, disse que o governo parecia estar particularmente preocupado com a arte abstrata. "Minha opinião é que só permitem a arte que eles compreendem", disse. "Eles têm medo que os artistas estejam fazendo coisas políticas usando arte contemporânea."
Ele cita o exemplo da pintura de um artista que foi rejeitada pelos censores porque mostrava mulheres com expressões contemplativas. "Eles disseram: 'Por que você não pinta as mulheres sorrindo?'"
"Nossos pais não permitem, mas fazemos de qualquer modo", disse Zun Pwint Phyu, uma das dançarinas.
Em Mianmar (antiga Birmânia), possuir um aparelho de fax sem autorização é ilegal, as reuniões espontâneas de mais de cinco pessoas são tecnicamente proibidas, e os críticos do governo são habitualmente trancados durante décadas em pequenas celas de prisão.
Mas, apesar dessa repressão, ou talvez em parte por causa dela, os jovens birmaneses estão forçando os limites do que o governo militar, e mais ainda seus pais, consideram aceitável como arte e diversão.
Exposições de arte, algumas apresentando arriscadas mensagens políticas ocultas, são inauguradas quase toda semana em Yangun, a principal cidade de Mianmar. Yangun tem um festival de música underground, que inclui bandas punk, duas vezes por ano. Os fãs dos gêneros musicais mais populares, hip-hop e música eletrônica para dançar, usam calças frouxas e longas nos shows realizados regularmente ali.
U Thxa Soe, artista popular que mistura "danças espirituais" tradicionais com algo que parece música tecno, disse acreditar que, nos últimos anos, o governo tolerou os shows selvagens em parte porque se adequava a sua estratégia de controle. "Você precisa apertar e soltar, apertar e soltar", disse.
"Nós vivemos com medo", agregou. "Vivemos sob uma ditadura. As pessoas precisam de ar fresco e liberam sua raiva, sua energia."
O sucesso de artistas como Thxa Soe mina a imagem muitas vezes monocromática de Mianmar como lugar de liberdade zero. Esse país é brutalmente autoritário -grupos de direitos humanos contam 2.100 prisioneiros políticos. Mas mesmo que os generais quisessem, dizem as pessoas dali, o governo provavelmente não seria capaz de exercer um totalitarismo no estilo norte-coreano. A sociedade birmanesa é rebelde demais, desorganizada e corrupta; as pessoas são criativas demais, e o clima é quente demais para uma repressão 24 horas.
"O governo está tentando afastar a população da política", disse um empresário birmanês educado no Ocidente que não quis se identificar porque acha que poderia prejudicar sua empresa. "Não há pão suficiente, mas há muito circo."
Thxa Soe é um dos músicos mais assediados do país, constantemente chamado para ouvir reprimendas dos censores, que proibiram 9 das 12 faixas de seu disco recente.
Eles mandaram que ele apagasse outras canções ao longo dos anos de DVDs e CDs e aprovaram uma lei no ano passado que proíbe seu estilo musical inovador.
Mas, em um sinal revelador das complexidades da sociedade birmanesa, sua música é popular entre funcionários públicos. Às vezes ele brinca com os militares da inteligência enviados para espionar seus shows. Eles também são fãs, explicou. "Algumas pessoas no governo gostam de mim, algumas me odeiam", disse Thxa Soe.
Especular sobre que tipo de atividade o governo vai tolerar é um tema habitual de conversas ali, especialmente entre os que forçam os limites.
U Nyein Chan Su, artista cujo trabalho é frequentemente reprovado pelos censores, disse que o governo parecia estar particularmente preocupado com a arte abstrata. "Minha opinião é que só permitem a arte que eles compreendem", disse. "Eles têm medo que os artistas estejam fazendo coisas políticas usando arte contemporânea."
Ele cita o exemplo da pintura de um artista que foi rejeitada pelos censores porque mostrava mulheres com expressões contemplativas. "Eles disseram: 'Por que você não pinta as mulheres sorrindo?'"
sábado, 17 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
DE 6 DE JULHO ATÉ 5 DE AGOSTO
A Cinemateca Brasileira, com o apoio do Consulado Geral da Índia em São Paulo e da Academia Internacional de Cinema (AIC), promove a quarta edição da MOSTRA DE BOLLYWOOD E CINEMA INDIANO. Iniciativa consolidada no calendário de programação da Cinemateca, conta com uma seleção imperdível de clássicos e produções recentes do cinema indiano. Com curadoria da cineasta Beatriz Seigner, diretora da primeira co-produção Brasil-Índia, Bollywood dream (2010), e do pesquisador do cinema indiano Ibirá Machado, a mostra é composta por 16 filmes, boa parte deles inéditos no Brasil. Pela primeira vez, os amantes do cinema indiano poderão assistir à maioria dos títulos em cópias 35mm trazidas especialmente para o Brasil pelo Consulado Geral da Índia.
Reunindo nomes consagrados da cinematografia indiana como Satyajit Ray, Mani Ratnam, Santosh Sivan, Shyam Benegal, Raj Kapoor, Rajaram Vankudre Shantaram, entre outros, a curadoria dedica especial atenção às produções que tratam de conflitos históricos ligados à formação da identidade da nação indiana. Dentro deste recorte, a mostra contempla clássicos como Garm hava (1973), de M.S. Sathyu, um dos únicos filmes indianos a tratar do impacto da divisão do país, em 1947, sobre a comunidade muçulmana. Garm hava foi indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1974. Mirch masala (1985), de Ketan Mehta, se passa na Índia sob o domínio britânico, e Dil Se.. (1998) é a última parte da trilogia do diretor Mani Ratnam dedicada ao terrorismo. Fechando este recorte, a mostra exibe novamente Theeviravaathi: The terrorist (1999), premiado filme de Santosh Sivan, comprado e distribuído nos Estados Unidos pelo ator John Malkovich.
Entre muitas atrações, merecem destaque especial clássicos como Awaara (1951), de Raj Kapoor, cineasta batizado por historiadores e fãs como o “Chaplin do cinema indiano”; A canção da estrada (1955), obra-prima de estreia do diretor Satyajit Ray, filme que deu origem à famosa Trilogia de Apu, premiado no Festival de Cannes de 1956; Do Ankhen Barah Haath (1957), de Rajaram Vankudre Shantaram, premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1958. Há também títulos raros como Ghare-Baire, também de Satyajit Ray, indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1984; Ankur (1974), de Shyam Benegal, considerado pela crítica um dos representantes do “Paralellal Cinema”, movimento de vanguarda conhecido como a Nouvelle Vague Indiana. A IV MOSTRA DE BOLLYWOOD E CINEMA INDIANO também inclui uma série de produções dos anos 2000 como Zubeidaa (2001), de Shyam Benegal, Hum tumhare hain sanam (2002), de K.S. Adiyaman, e Baghban (2003), de Ravi Chopra.
CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
Programação no site http://www.cinemateca.gov.br/programacao.php?id=41
Reunindo nomes consagrados da cinematografia indiana como Satyajit Ray, Mani Ratnam, Santosh Sivan, Shyam Benegal, Raj Kapoor, Rajaram Vankudre Shantaram, entre outros, a curadoria dedica especial atenção às produções que tratam de conflitos históricos ligados à formação da identidade da nação indiana. Dentro deste recorte, a mostra contempla clássicos como Garm hava (1973), de M.S. Sathyu, um dos únicos filmes indianos a tratar do impacto da divisão do país, em 1947, sobre a comunidade muçulmana. Garm hava foi indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1974. Mirch masala (1985), de Ketan Mehta, se passa na Índia sob o domínio britânico, e Dil Se.. (1998) é a última parte da trilogia do diretor Mani Ratnam dedicada ao terrorismo. Fechando este recorte, a mostra exibe novamente Theeviravaathi: The terrorist (1999), premiado filme de Santosh Sivan, comprado e distribuído nos Estados Unidos pelo ator John Malkovich.
Entre muitas atrações, merecem destaque especial clássicos como Awaara (1951), de Raj Kapoor, cineasta batizado por historiadores e fãs como o “Chaplin do cinema indiano”; A canção da estrada (1955), obra-prima de estreia do diretor Satyajit Ray, filme que deu origem à famosa Trilogia de Apu, premiado no Festival de Cannes de 1956; Do Ankhen Barah Haath (1957), de Rajaram Vankudre Shantaram, premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1958. Há também títulos raros como Ghare-Baire, também de Satyajit Ray, indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1984; Ankur (1974), de Shyam Benegal, considerado pela crítica um dos representantes do “Paralellal Cinema”, movimento de vanguarda conhecido como a Nouvelle Vague Indiana. A IV MOSTRA DE BOLLYWOOD E CINEMA INDIANO também inclui uma série de produções dos anos 2000 como Zubeidaa (2001), de Shyam Benegal, Hum tumhare hain sanam (2002), de K.S. Adiyaman, e Baghban (2003), de Ravi Chopra.
CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
Programação no site http://www.cinemateca.gov.br/programacao.php?id=41
Essas duas mulheres usam véu, é verdade. Elas são religiosas.
Mas não lhes diga que não podem parar no bar de Sheik Ali. Nelly Rafat, 52, e Magda el Gindy, 52, são amigas de infância que acreditam que, embora sua religião proíba a bebida alcoólica, as pessoas são livres para fazer suas próprias escolhas.
Essa não é a visão típica no Egito. Mas elas se sentam, comem e se divertem sem culpa no pequeno e despretensioso bar.
"Se alguém aqui quiser beber, não é da minha conta", disse Rafat, enquanto Gindy assentia. Existe muita pressão nas ruas, em Alexandria e em todo o Egito, para pelo menos parecer religioso. E definitivamente, sobretudo para as mulheres, ficar longe do álcool, ainda mais em um bar cheio de homens.
Mas não é assim que todo o mundo quer viver.
Especialmente não em Alexandria, uma cidade construída para ser aberta para o mundo. O arco da história não foi benigno com Alexandria, levando-a em uma longa queda desde que foi o centro do conhecimento global, nos tempos antigos, para uma metrópole superlotada e decadente no Mediterrâneo.
Mas, por maior que seja a pressão das forças sociais conservadoras do Egito, Alexandria não pode dar completamente as costas para seu passado, quando a diversidade e a tolerância superavam o conformismo e a tradição.
A antiga Alexandria, cidade construída por Alexandre o Grande, reservou cemitérios no século 19 para todos os seus cidadãos, com terrenos separados para muçulmanos, judeus, cristãos e "livre pensadores". Aqueles dias continuam incrustados na memória coletiva, mesmo para pessoas que são jovens demais para lembrar quando os alfaiates eram franceses ou gregos, os cozinheiros, italianos e os judeus, uma grande e vibrante parte da cidade.
"Crescemos nas mãos de estrangeiros", disse Francis Zarif, 33. "É por isso que gosto daqui. A sensação é da bondade das pessoas no passado, de humanidade."
Existem áreas de Alexandria onde os moradores mantiveram ou estão tentando restaurar um sentido de curiosidade sobre o mundo, tolerância pela diversidade e aceitação do outro.
Mas este pequeno bar é um desses lugares onde a tolerância e uma boa Stella gelada (a mais popular cerveja egípcia, não confundir com a belga) são a regra. É razoavelmente fácil encontrar bebida alcoólica no país. Mas há poucos bares de bairro como este.
"Venho aqui pela história, por um momento de descontração", disse um ginecologista que bebia uma cerveja e fumava cachimbo. São mais de 23h, e ele estava relaxando, disse, "como na Europa". Mas não quis dar seu nome, porque lá fora "a corrente religiosa é forte".
"Sou médico de mulheres", disse. "Não é bom ser visto aqui."
O bar chama-se oficialmente Cap d'Or. Foi inaugurado há cerca de 110 anos por moradores gregos, antes que os egípcios reagissem a décadas de subjugação e forçassem os estrangeiros a partir, nacionalizando as propriedades particulares.
Nos primeiros anos, o bar de Sheik Ali foi um ponto de reunião de intelectuais e artistas, autores e líderes culturais. Militares compartilhavam suas cervejas com artistas e profissionais liberais. Esse não é mais o caso hoje, embora siga sendo um lugar onde as pessoas vão para uma pausa das exigências da sociedade.
"A vida fora destas portas é difícil", disse Osama Tantawi, 40, contador que afirma ter visitado o bar pela primeira vez no dia em que fez 21 anos. "A vantagem de vir aqui é que ele nos separa da vida lá fora."
Mas não lhes diga que não podem parar no bar de Sheik Ali. Nelly Rafat, 52, e Magda el Gindy, 52, são amigas de infância que acreditam que, embora sua religião proíba a bebida alcoólica, as pessoas são livres para fazer suas próprias escolhas.
Essa não é a visão típica no Egito. Mas elas se sentam, comem e se divertem sem culpa no pequeno e despretensioso bar.
"Se alguém aqui quiser beber, não é da minha conta", disse Rafat, enquanto Gindy assentia. Existe muita pressão nas ruas, em Alexandria e em todo o Egito, para pelo menos parecer religioso. E definitivamente, sobretudo para as mulheres, ficar longe do álcool, ainda mais em um bar cheio de homens.
Mas não é assim que todo o mundo quer viver.
Especialmente não em Alexandria, uma cidade construída para ser aberta para o mundo. O arco da história não foi benigno com Alexandria, levando-a em uma longa queda desde que foi o centro do conhecimento global, nos tempos antigos, para uma metrópole superlotada e decadente no Mediterrâneo.
Mas, por maior que seja a pressão das forças sociais conservadoras do Egito, Alexandria não pode dar completamente as costas para seu passado, quando a diversidade e a tolerância superavam o conformismo e a tradição.
A antiga Alexandria, cidade construída por Alexandre o Grande, reservou cemitérios no século 19 para todos os seus cidadãos, com terrenos separados para muçulmanos, judeus, cristãos e "livre pensadores". Aqueles dias continuam incrustados na memória coletiva, mesmo para pessoas que são jovens demais para lembrar quando os alfaiates eram franceses ou gregos, os cozinheiros, italianos e os judeus, uma grande e vibrante parte da cidade.
"Crescemos nas mãos de estrangeiros", disse Francis Zarif, 33. "É por isso que gosto daqui. A sensação é da bondade das pessoas no passado, de humanidade."
Existem áreas de Alexandria onde os moradores mantiveram ou estão tentando restaurar um sentido de curiosidade sobre o mundo, tolerância pela diversidade e aceitação do outro.
Mas este pequeno bar é um desses lugares onde a tolerância e uma boa Stella gelada (a mais popular cerveja egípcia, não confundir com a belga) são a regra. É razoavelmente fácil encontrar bebida alcoólica no país. Mas há poucos bares de bairro como este.
"Venho aqui pela história, por um momento de descontração", disse um ginecologista que bebia uma cerveja e fumava cachimbo. São mais de 23h, e ele estava relaxando, disse, "como na Europa". Mas não quis dar seu nome, porque lá fora "a corrente religiosa é forte".
"Sou médico de mulheres", disse. "Não é bom ser visto aqui."
O bar chama-se oficialmente Cap d'Or. Foi inaugurado há cerca de 110 anos por moradores gregos, antes que os egípcios reagissem a décadas de subjugação e forçassem os estrangeiros a partir, nacionalizando as propriedades particulares.
Nos primeiros anos, o bar de Sheik Ali foi um ponto de reunião de intelectuais e artistas, autores e líderes culturais. Militares compartilhavam suas cervejas com artistas e profissionais liberais. Esse não é mais o caso hoje, embora siga sendo um lugar onde as pessoas vão para uma pausa das exigências da sociedade.
"A vida fora destas portas é difícil", disse Osama Tantawi, 40, contador que afirma ter visitado o bar pela primeira vez no dia em que fez 21 anos. "A vantagem de vir aqui é que ele nos separa da vida lá fora."
Fundada há três temporadas, a Primeira Liga Indiana conseguiu tornar sexy o esporte do críquete. Magnatas empresariais da Índia compraram times, astros de Bollywood infundiram aos jogos o glamour das celebridades, e fãs de Mumbai a Dubai ou Nova Jersey acompanharam o campeonato pela TV enquanto seu valor superou os US$ 4 bilhões.
Para muitos indianos, a liga, conhecida como IPL, tornou-se símbolo de uma nova Índia, dinâmica e confiante. Mas, depois de semanas de alegações de suborno e desvios financeiros, da renúncia de um ministro de governo e da suspensão do carismático comissário da liga, ela se tornou emblemática de outra coisa: o quanto a antiga e muitas vezes corrupta elite política e empresarial ainda domina o país.
"O grande problema da Índia é que criações como a IPL tornam-se vítimas de seu próprio sucesso", escreveu recentemente o editor-chefe da revista "India Today", Aroon Purie. "Onde há dinheiro envolvido, especialmente grandes somas, a corrupção não está longe."
O críquete pode parecer desinteressante para a maior parte do mundo, mas na Índia o esporte é uma obsessão, e por isso o escândalo do críquete assumiu tais proporções.
Fiscais do governo confiscaram registros contábeis, e a Câmara de Controle do Críquete na Índia, o órgão regulador do esporte, deverá realizar em breve uma audiência crucial com o comissário suspenso da liga, Lalit Kumar Modi.
Pessoas do meio retratam Modi como um visionário que dirigiu a liga por decreto e enriqueceu, junto com seus parentes, por meio de participações ocultas em times ou taxas de televisão e contratos de internet. Mas a câmara também está em posição comprometida.
É uma organização não governamental dominada por alguns dos políticos mais poderosos do país, como Arun Jaitley, líder do Partido Bharatiya Janata, de oposição, e Sharad Pawar, ministro da Agricultura.
Muitos comentaristas duvidam que a câmara possa ignorar totalmente os atos de Modi. Este diz que não fez nada errado. Mesmo antes do escândalo, a câmara foi criticada por falta de transparência e acusada de conflitos de interesse. Um membro do órgão também é o proprietário de um time da IPL.
Durante décadas, políticos tiveram influência no jogo. O críquete foi organizado em torno de times estaduais que competem em torneios regionais e nacional, com jogadores de elite selecionados para a equipe nacional da Índia.
Todo Estado tem uma associação de críquete, geralmente dirigida pelo principal ministro local ou algum político ou burocrata influente. Hoje, figuras políticas lideram associações de críquete em pelo menos seis Estados.
G. Rajaraman, antigo jornalista de críquete, disse que essas relações inicialmente beneficiavam o esporte, porque os políticos podiam ajudar um time a obter recursos.
Mas essa equação mudou quando o dinheiro começou a entrar no esporte, primeiro com a televisão, nos anos 1990, e depois com o advento da IPL. Logo, mais políticos tentaram obter o controle. Pawar, o ministro da Agricultura, assumiu a câmara nacional em 2005, com Modi como seu protegido.
Tendo morado nos Estados Unidos, Modi viu como as ligas comerciais, como a Associação Nacional de Basquete (NBA), promoviam astros e times locais para entusiasmar a torcida e gerar renda. O futebol europeu, especialmente a Primeira Liga britânica, já era transmitido pela TV em toda a Ásia, enquanto uma classe média emergente na Índia começava a descobrir os esportes como atividade de lazer. "Modi viu isso e disse: 'Precisamos criar nossos próprios ícones'", explicou Rajaraman.
Modi formatou a IPL como um produto feito para a TV. Ele irritou os puristas ao adotar uma versão condensada do esporte, que reduziu a duração de uma partida de um ou vários dias para três horas, mais adequada à televisão. Modi também introduziu as "cheerleaders" e estrelas de cinema.
O maior astro de Bollywood, Shah Rukh Khan, comprou uma parte de um time, e alguns torcedores pagaram centenas de dólares para ficar perto de jogadores, modelos e celebridades.
Os sites de celebridades na web começaram a publicar fotos das festas ou fofocas sobre que astros de Bollywood eram vistos nas arquibancadas. "Muitas mulheres começaram a assistir", disse Rajaraman. "Há muita gente que assiste para ver o que Shah Rukh Khan faz no final do jogo, ou que nova camiseta ele está vestindo."
Ramachandra Guha, historiador que escreveu um livro sobre críquete, disse que a IPL se adaptou às aspirações e à alienação de uma classe média indiana desiludida com a corrupção e a pobreza do país. Mas Guha disse que a organização da liga -com times situados nas cidades mais ricas do país, e não um em cada Estado- efetivamente reflete a profunda desigualdade social no país.
"É a Índia que vai bem economicamente", ele disse. "Ela ignora os outros 800 milhões de indianos que vivem no interior."
Para muitos indianos, a liga, conhecida como IPL, tornou-se símbolo de uma nova Índia, dinâmica e confiante. Mas, depois de semanas de alegações de suborno e desvios financeiros, da renúncia de um ministro de governo e da suspensão do carismático comissário da liga, ela se tornou emblemática de outra coisa: o quanto a antiga e muitas vezes corrupta elite política e empresarial ainda domina o país.
"O grande problema da Índia é que criações como a IPL tornam-se vítimas de seu próprio sucesso", escreveu recentemente o editor-chefe da revista "India Today", Aroon Purie. "Onde há dinheiro envolvido, especialmente grandes somas, a corrupção não está longe."
O críquete pode parecer desinteressante para a maior parte do mundo, mas na Índia o esporte é uma obsessão, e por isso o escândalo do críquete assumiu tais proporções.
Fiscais do governo confiscaram registros contábeis, e a Câmara de Controle do Críquete na Índia, o órgão regulador do esporte, deverá realizar em breve uma audiência crucial com o comissário suspenso da liga, Lalit Kumar Modi.
Pessoas do meio retratam Modi como um visionário que dirigiu a liga por decreto e enriqueceu, junto com seus parentes, por meio de participações ocultas em times ou taxas de televisão e contratos de internet. Mas a câmara também está em posição comprometida.
É uma organização não governamental dominada por alguns dos políticos mais poderosos do país, como Arun Jaitley, líder do Partido Bharatiya Janata, de oposição, e Sharad Pawar, ministro da Agricultura.
Muitos comentaristas duvidam que a câmara possa ignorar totalmente os atos de Modi. Este diz que não fez nada errado. Mesmo antes do escândalo, a câmara foi criticada por falta de transparência e acusada de conflitos de interesse. Um membro do órgão também é o proprietário de um time da IPL.
Durante décadas, políticos tiveram influência no jogo. O críquete foi organizado em torno de times estaduais que competem em torneios regionais e nacional, com jogadores de elite selecionados para a equipe nacional da Índia.
Todo Estado tem uma associação de críquete, geralmente dirigida pelo principal ministro local ou algum político ou burocrata influente. Hoje, figuras políticas lideram associações de críquete em pelo menos seis Estados.
G. Rajaraman, antigo jornalista de críquete, disse que essas relações inicialmente beneficiavam o esporte, porque os políticos podiam ajudar um time a obter recursos.
Mas essa equação mudou quando o dinheiro começou a entrar no esporte, primeiro com a televisão, nos anos 1990, e depois com o advento da IPL. Logo, mais políticos tentaram obter o controle. Pawar, o ministro da Agricultura, assumiu a câmara nacional em 2005, com Modi como seu protegido.
Tendo morado nos Estados Unidos, Modi viu como as ligas comerciais, como a Associação Nacional de Basquete (NBA), promoviam astros e times locais para entusiasmar a torcida e gerar renda. O futebol europeu, especialmente a Primeira Liga britânica, já era transmitido pela TV em toda a Ásia, enquanto uma classe média emergente na Índia começava a descobrir os esportes como atividade de lazer. "Modi viu isso e disse: 'Precisamos criar nossos próprios ícones'", explicou Rajaraman.
Modi formatou a IPL como um produto feito para a TV. Ele irritou os puristas ao adotar uma versão condensada do esporte, que reduziu a duração de uma partida de um ou vários dias para três horas, mais adequada à televisão. Modi também introduziu as "cheerleaders" e estrelas de cinema.
O maior astro de Bollywood, Shah Rukh Khan, comprou uma parte de um time, e alguns torcedores pagaram centenas de dólares para ficar perto de jogadores, modelos e celebridades.
Os sites de celebridades na web começaram a publicar fotos das festas ou fofocas sobre que astros de Bollywood eram vistos nas arquibancadas. "Muitas mulheres começaram a assistir", disse Rajaraman. "Há muita gente que assiste para ver o que Shah Rukh Khan faz no final do jogo, ou que nova camiseta ele está vestindo."
Ramachandra Guha, historiador que escreveu um livro sobre críquete, disse que a IPL se adaptou às aspirações e à alienação de uma classe média indiana desiludida com a corrupção e a pobreza do país. Mas Guha disse que a organização da liga -com times situados nas cidades mais ricas do país, e não um em cada Estado- efetivamente reflete a profunda desigualdade social no país.
"É a Índia que vai bem economicamente", ele disse. "Ela ignora os outros 800 milhões de indianos que vivem no interior."
sábado, 3 de julho de 2010
O zagueiro Yuichi Komano, cujo pênalti perdido levou à eliminação do Japão da Copa, receberá um prêmio de Yoshinobu Nisaka, governador de seu Estado natal, Wakayama. Nisaka disse que presenteará Komano por ele ter dado "às pessoas sonhos e emoções". Na disputa de pênaltis com o Paraguai, após um empate em 0 a 0, Komano foi o único de sua equipe a errar. O defensor chutou a bola no travessão.
O Toonseum, de Pittsburgh, nos Estados Unidos, está com uma exposição chamada “A arte de Akira”, com celulóides, cenários e rascunhos do animê de 1988. http://www.artofakira.com/index.php
quinta-feira, 1 de julho de 2010
GOLDEN GAI-|-URBE DOURADA
Este vídeo foi criado através de uma colaboração entre duas classes diferentes de estudantes, das disciplinas Histórias de Tóquio e Tóquio Metropolitana, durante o verão de 2009 na Universidade de Temple do Japão. Seis grupos fizeram documentários centrados em diferentes bairros de Tóquio, realizando investigações, fazendo trabalho de campo e coletando relatos orais. Em conjunto com a http://urbz.net/, os alunos também reinventaram a arquitetura e o design dos bairros escolhidos para os documentários. Este documentário enfoca Golden Gai, um bairro de Shinjuku que já foi um distrito da luz azul (classificação da polícia japonesa que significa ilegalidade) e agora é o lar de mais de 200 bares. A área é conhecida como um centro artístico de Tóquio, mas é constantemente confrontada com a ameaça de destruição.
Assinar:
Postagens (Atom)