É difícil imaginar que um cibercafé precário e repleto de moscas em Qalqilya, uma pequena cidade palestina, poderia servir de posto de trabalho a um blogueiro que irritou a comunidade muçulmana na Internet ao promover o ateísmo, escrever paródias de versículos do Corão, zombar do estilo de vida do profeta Maomé e bater papo online usando o sarcástico nick Deus Todo Poderoso.
Até recentemente, o jovem, Waleed Hasayin, levava uma vida relativamente anônima como desempregado formado em ciência da computação e se sustentava ajudando durante algumas horas por dia no trabalho a barbearia de seu pai.
Diversos conhecidos o descreveram como "um cara comum", que orava na mesquita a cada sexta-feira.
Desde o final de outubro, porém, Hasayin, que tem perto de 25 anos, está detido na sede do serviço de inteligência da Autoridade Palestina, sob a suspeita de ser o bloqueiro blasfemo que assina seus posts com o nome Waleed al-Husseini.
O caso atraiu atenção a questões espinhosas como a liberdade de expressão no território da Autoridade Palestina, onde insultar a religião é considerado ilegal, e para a colisão cultural entre uma sociedade conservadora e a Internet.
Embora Hasayin tenha conquistado certa admiração no exterior, há pessoas que apelam por sua execução, no Facebook.
Outros membros do site de redes sociais criaram um grupo de solidariedade para apoiá-lo, e há diversas petições online em sua defesa.
Em sua cidade, a reação parece ser uniformemente furiosa. Muita gente diz que, caso não se desculpe, ele deveria passar o resto da vida na cadeia.
"Todos são muçulmanos aqui, todos se opõem ao que ele fez", disse Alaa Jarar, 20, que se descreveu como não especialmente religioso.
Além de suas páginas no Facebook, que foram apagadas, Husseini postava ensaios em árabe no blog Noor al-Aqel (esclarecimento pela razão), e os traduzia em inglês no blog Proud Atheist (ateu orgulhoso), se identificando como "um ateu de Jerusalém, Palestina".
As descrições dele parecem distantes das ideologias que prevalecem na cidade de Qalqilya, uma comunidade conservadora, de casas baixas e mais de 40 mil habitantes, na qual carroças percorriam as ruas.
A detenção de Hasayin causou sensações desde que foi reportada, pela Maan, agência de notícias da Palestina. Também há quem questione se ele seria capaz de escrever sozinho.
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