Em uma tarde ensolarada de sábado de fim de outubro em Doha, aplausos e assovios podiam ser ouvidos em um auditório na Katara Cultural Village, um espaço à beira-mar para performance e exposição, que abriga a sede do Festival de Cinema de Doha Tribeca.
A sala estava lotada com 400 pessoas, uma mistura de qatarianos e estrangeiros, aplaudindo os oito cineastas do Qatar cujos filmes de 10 minutos tinham acabado de ser exibidos como parte da programação do festival.
Após a exibição, os jovens diretores foram chamados ao palco para serem festejados pelos diretores do Instituto de Cinema de Doha, que financiou um programa de treinamento de nove meses e a produção dos filmes.
Os temas variavam do paranormal e uma história saída do folclore de horror qatariano, até a fé e o relacionamento entre a geração mais jovem de qatarianos e os mais velhos, presos às tradições.
“Esses cineastas são nosso futuro”, disse Amanda Palmer, uma jornalista nascida na Austrália que é a diretora executiva do instituto de cinema e do festival.
Para os cineastas na região do Golfo, estes são tempos promissores. Nos últimos anos, os governos da região passaram a financiar ativamente o desenvolvimento de uma nascente indústria cinematográfica.
Apesar da ausência de uma indústria organizada no passado, a história do cinema na região data do final dos anos 50. Cineastas autodidatas como Khalifa Shaheen e Bassam al Thawadi no Bahrein, Khaled al Siddiq no Kuait, Abdullah al Mohaisen na Arábia Saudita, e Ali al Abdul nos Emirados Árabes Unidos, iniciaram um movimento que introduziria a tradição árabe de contar histórias a um meio de imagens em movimento.
“O Golfo pode não ser notado pelo cinema, mas é o que as pessoas consomem”, disse David Shepheard, diretor da Comissão de Cinema de Abu Dhabi. “O governo de Abu Dhabi reconhece o valor do cinema e televisão como fonte de empregos e uma ferramenta para desenvolvimento de uma indústria que dissemine uma melhor imagem do Oriente Médio e seu povo.”
A comissão de Shepheard organiza oficinas de treinamento o ano todo, supervisiona um concurso anual internacional de roteiros no valor de US$ 100 mil, conhecido como Subvenção Shasha e promove Abu Dhabi como locação cinematográfica.
Os cineastas do Golfo nunca foram tão prolíficos. No ano passado, mais de 70 diretores dos Emirados apresentaram filmes –em sua maioria curtas– mas conseguir com que sejam vistos por sociedades que ainda preferem as grandes produções de Hollywood, musicais de Bollywood e comédias egípcias é um desafio contínuo. Foi necessária uma agressiva campanha online do diretor Ali Mostafa para que seu filme de estreia, “City of Life”, fosse lançado comercialmente. Mesmo assim, ele foi exibido em apenas 12 salas nos Emirados. Um drama urbano em várias línguas que acompanha várias narrativas paralelas, ele foi o primeiro filme dos Emirados a contar com um elenco internacional. Ele foi assistido por aproximadamente 50 mil pessoas durante um mês em cartaz.
“‘City of Life’ é apenas o começo”, disse Shepheard. “Nós temos que ser pacientes. O desenvolvimento de uma indústria cinematográfica é um investimento a longo prazo e não produzirá resultados da noite para o dia.”
Os filmes do Golfo costumam ser apolíticos em seu conteúdo, mas encorajados pela disponibilidade de novos recursos, os cineastas estão começando a produzir obras que tocam, mesmo que levemente, em assuntos tabus –sexo, álcool, relacionamos antes do casamento e homossexuais e estilos de vida não convencionais.
“O tratamento é muito diferente. De onde eu venho, nós nos concentramos no tema e no quadro maior”, disse Scandar Copti, um cineasta palestino de Israel, que é chefe de educação do Instituto de Cinema de Doha. “Os diretores do Golfo, por outro lado, são muito atentos aos detalhes.”
O apoio oficial à indústria nascente inclui um número crescente de eventos, como o Festival de Cinema de Abu Dhabi, o Festival Internacional de Cinema de Dubai e o Festival de Cinema do Golfo, além de uma variedade impressionante de subvenções, competições e veículos de financiamento. Quando se trata de dinheiro, pode parecer que os cineastas do Golfo são mimados com uma rica variedade de opções –mas na verdade não são. Grande parte dos fundos e subvenções estão ligados a competições e colocam os cineastas do Golfo contra outros talentos árabes mais experientes. E eles enfrentam outros desafios.
“A censura me faz ter vontade de arrancar os cabelos”, disse Nayla al Khaja, uma diretora dos Emirados.
As propostas para filmes nos Emirados devem ser apresentadas com seus roteiros ao Conselho Nacional de Mídia para aprovação. Entre os filmes que tiveram permissão negada estavam “Rede de Mentiras” de Ridley Scott, em Dubai, e “Sex and the City 2”, em Abu Dhabi.
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