Ela é a ex-modelo japonesa que emprestou do mundo da moda um arsenal plástico para criar suas obras.
Seus primeiros trabalhos mesclavam o apelo das garotas dos mangás com uma crítica latente à exploração da imagem feminina. Numa performance, aparece com roupinha de colegial, fones de ouvido gigantes e esferas multicoloridas, avatar da Lolita hype, numa obra com nome predestinado.
"Birth of a Star", ou nascimento de uma estrela, foi parar na capa da "Artforum", maior revista de arte contemporânea do mundo, quando Mori era quase aquilo, uma colegial.
"Não estava criticando a indústria da moda", diz Mori em entrevista à Folha. "Só usava o método para fazer imagens empregado por ela, esse molde comercial."
Na retrospectiva que abre neste mês no CCBB, em Brasília, e que vai depois para Rio de Janeiro e São Paulo, Mori, 43, reúne sua produção mais encorpada.
Estende a crítica à exploração do sexo para vender tendências ao modo de vida vazio que viu surgir com o consumismo exacerbado. Da fusão do japonismo pop com os anos passados em Nova York, onde vive, ela avançou nessa derrubada de fronteiras, inventando um mundo alucinógeno. Tentava prever a cara do século 21 em meados dos anos 1990.
"Queria criar imagens que sugerissem o futuro, tem essa intenção o trabalho", diz Mori. "E mesmo as formas que não sobreviveram ao tempo ainda parecem interessantes, ainda influentes do ponto de vista estético."
Nessa arquitetura futurista, Mori também fez uso amplo da tecnologia. É uma das primeiras artistas a entrar no campo que hoje mais cresce.
"Esse uso da tecnologia também serve para encontrar verdades, inventar espaços", afirma ela. "Mas o artista não pode virar escravo da tecnologia: a ideia deve ser suprema."
Mori leva a ideia suprema a sério e lança mão de todo um repertório religioso e espiritual para afirmar seus pontos. Com a diferença de que seu nirvana passa longe dos templos e vibra com certa ferocidade da era virtual.
24/1; de ter. a dom., das 9h às 21h; até 3/4
Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Trecho 2, lote 22, Brasília, tel. 0/xx/61/ 3310-7087)
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