Muhammad al Maskati é atualmente um prisioneiro em seu próprio apartamento, seu BlackBerry foi desligado pelo governo, enquanto as ruas foram tomadas por tanques, e os hospitais estão realmente lotados de feridos.
Al Maskati, 24, ativista de direitos humanos, ainda há pouco se sentia prestes a participar de uma revolução pacífica como a do Egito, por meio de um obstinado compromisso com a não violência. Mas os tanques sauditas entraram no Bahrein, e o Estado impôs todo o seu poderio sobre civis desarmados.
"Achávamos que funcionaria", disse Al Maskati. "Mas a agressão agora está demais. Agora não é mais uma questão de protesto, é uma questão de autodefesa."
A Primavera Árabe não necessariamente terminou, mas tem esbarrado em ditadores dispostos a usar a força letal para preservar o seu valioso poder.
O ímpeto juvenil por mudança estancou primeiro na Líbia, onde o coronel Muammar Gaddafi lançou as tropas contra o seu povo e, em seguida, no Bahrein, onde o rei Hamad bin Isa al Khalifa pediu a ajuda da Arábia Saudita para esmagar as manifestações.
No início, os jovens manifestantes do Oriente Médio, livres do medo que havia dominado seus pais, pareciam uma força imparável, impossível de ser dominada, impulsionada pelo poder da demografia -cerca de 60% dos árabes têm menos de 30 anos.
Eles começaram a alterar sociedades onde os jovens se submetem aos mais velhos, derrubando não só governos mas também hierarquias até então consolidadas.
O movimento ainda provoca mudanças em lugares como Marrocos e Jordânia, guia as transições no Egito e na Tunísia, e vai se desenrolando em países como Argélia e Iêmen. Os jovens continuam na linha de frente, empunhando as ferramentas digitais com as quais cresceram, a fim de mobilizar protestos, burlar a vigilância e ultrapassar os limites das classes sociais.
O acesso dessa geração a uma vida sem fronteiras, por meio da internet e de redes pan-árabes de TV como a Al Jazeera, os expôs a outras sociedades, alimentando o ódio contra a repressão política e a estagnação econômica.
O que surpreendeu a muitos foi a ausência do discurso religioso -e a adoção do pluralismo- por parte de uma geração mais praticante que a dos seus pais. Os antigos, muitas vezes, buscavam no islã um consolo diante dos governantes despóticos e das suas vidas obliteradas.
Essa nova geração rejeitou os líderes tradicionais da oposição, como os inofensivos partidos políticos, que serviam aos ditadores por lhes darem um verniz de legitimidade democrática ou a Irmandade Muçulmana, que muitos passaram a ver como parte do chamado status quo.
Jovens entrevistados em toda a região ecoaram as mesmas ideias, táticas e motivações que desencadearam as revoluções no Egito e na Tunísia.
É uma força guiada por jovens como Tarek al Naimat, 26, da Jordânia, que ao aderiu ao Facebook há algumas semanas, dizendo ser essa rede social uma ferramenta mais poderosa que a Irmandade Muçulmana.
Ou Oussama el Khlifi, 23, que deixou a União Socialista de Forças Populares de Marrocos para fundar um movimento não ideológico -inicialmente organizado pelo Facebook- que já reuniu números inéditos nas ruas do país, pressionando o rei a anunciar planos para modificar a Constituição.
"Vimos que a mudança não aconteceria por meio dos partidos, aconteceria por meio das pessoas", afirmou El Khlifi.
"Criamos o grupo "Marroquinos Discutem o Rei" no Facebook e, em quatro ou cinco dias, já tínhamos 3.000 membros." As vitórias iniciais na Tunísia e no Egito os encorajaram.
"Cresci em um mundo onde acreditávamos que não podíamos fazer nada. Mas agora, em questão de semanas, sabemos que podemos", disse Mariam Abu Adas, 32, uma ativista digital da Jordânia que participou da criação de uma empresa, chamada Hiber, que ensina os jovens como usar as mídias sociais.
Esse é um novo modelo para o Oriente Médio, não só porque os jovens estão assumindo a liderança mas também porque os mais velhos começaram a ouvir e seguir.
"Dos jovens, nós tínhamos medo, mas acabamos por ver que a juventude está movimentando a região", disse Mustafa Rawashdeh, ex-diretor de uma escola em Karak, na Jordânia, que foi demitido após tentar formar um sindicato de professores. "Os jovens viram os ventos da mudança e nos guiaram."
Mas, então, as forças de Gaddafi abriram fogo, e, em seguida, o rei Hamad reprimiu os manifestantes no Bahrein. No Iêmen, as forças de apoio ao regime também mataram dezenas de manifestantes.
O idealismo dos jovens ativistas foi desafiado pela amarga realidade da repressão, deixando-os desanimados, mas resolutos.
É uma pausa com ar grave, para que os bareinitas tratem dos seus feridos, e a oposição líbia, com ajuda dos bombardeios internacionais, reaja às forças pró-Gaddafi.
No Iêmen, a oposição mantém por enquanto as suas táticas pacíficas, enquanto pressiona pela renúncia imediata do presidente Ali Abdullah Saleh, rejeitando sua oferta de sair no começo do próximo ano.
Mas o futuro da Primavera Árabe está em jogo.
"Eu não acredito que os protestos pacíficos vão continuar", disse Al Maskati. "Agora, trata-se de resistir à agressão."