Dois hotéis de luxo estão abrindo em Gaza. Milhares de carros novos estão nas estradas. Um shopping center -com escadas rolantes importadas de Israel- será inaugurado ainda neste mês.
Com ativistas tentando manter a atenção internacional em Gaza, esse enclave isolado palestino localizado em área costeira está experimentando seu primeiro crescimento econômico desde 2007, quando o Hamas tomou o poder, e o cerco israelense começou.
"As coisas melhoraram", disse Jamal Khoudary, presidente do conselho da Universidade Islâmica, que organizou o Comitê Popular de Gaza para trabalhar contra o cerco. "O isolamento sobre os produtos está agora 70% acabado."
Ala al Rafati, o ministro da Economia para o Hamas, disse, em entrevista, que cerca de mil fábricas estão operando aqui, e ele estima que o desemprego não esteja maior do que 25%. "Somente ontem, o governo de Gaza lançou 12 projetos para pavimentação de estradas, abertura de poços e criação de jardins", disse.
Por outro lado, milhares de casas destruídas durante a invasão israelense dois anos e meio atrás não foram reconstruídas. Os hospitais estão cancelando cirurgias por falta de suprimentos. A eletricidade permanece irregular. Os residentes que vivem com menos de US$ 1,60 por dia triplicaram em quatro anos. Três quartos da população depende de ajuda alimentar para sobreviver.
Gaza nunca esteve entre os lugares mais pobres do mundo. Há quase alfabetização universal entre os seus 1,6 milhão de habitantes, a mortalidade infantil é relativamente baixa, e as condições de saúde são superiores às de grande parte do mundo em desenvolvimento.
O governo de Israel e seus defensores usam esses dados para dizer o quanto a política israelense é humana e adequada.
Críticos dizem que Israel com suas políticas de segurança tem conscientemente estrangulado as oportunidades de desenvolvimento de uma população educada. A pressão precisa ser mantida, segundo eles, para que o cerco termine completamente, eles dizem.
As recentes mudanças resultam de uma combinação de mudanças na política israelense e do recente caos vivido no Egito. No ano passado, Israel passou a permitir quase tudo em Gaza, mas ainda proíbe cimento, aço e outros materiais de construção com a justificativa de que tais materiais podem ser usados pelo Hamas para fabricação de bombas. Assim, nos últimos meses, os túneis na fronteira sul com o Egito que foram usados para trazer bens de consumo tornaram-se quase totalmente voltados para o contrabando de materiais de construção, totalizando cerca de 2.700 toneladas por dia. Desde a derrubada do ditador Hosni Mubarak, as autoridades de segurança egípcias deixaram de perseguir os contrabandistas. Como resultado, ruas estão sendo pavimentadas, e prédios, construídos.
"Mubarak nos esmagava", disse Mahmoud Mohammad, chefe de dez homens que descarregavam barras de aço destinadas a um novo restaurante. "No ano passado, estávamos sentados em casa. O empresário para quem trabalho possui três grandes projetos em construção."
Karim Gharbawi é arquiteto e designer de construção com 10 obras em andamento. Ele disse que há cerca de 130 empresas de engenharia e design em Gaza. Há dois anos, nenhuma delas estava trabalhando. Hoje, ele disse, todas estão.
Outro resultado das mudanças regionais é o número de carros novos. Israel permite 20 novos por semana, mas tal número está muito abaixo da necessidade. Centenas de BMW, de picapes e de outros veículos, por meio do Egito, chegaram nos últimos meses da Líbia e foram vendidos nos túneis que não contam com fiscalização.
Mas a falta de monitoramento nos túneis egípcios também significa maior acesso do Hamas a armas, cujo controle de Gaza parece mais firme do que nunca, embora as pesquisas comprovem que o rival Fatah seja efetivamente mais popular.
Samah Saleh é uma estudante de 21 anos. Seu pai decidiu aumentar a casa agora que o material está disponível. Saleh vai ter seu próprio quarto, mas ela vê sua sorte no contexto. "Para a grande maioria em Gaza, as coisas não estão melhorando", disse. "A maioria das pessoas na Faixa de Gaza continua esquecida."
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