Esta cidade que mal existia duas décadas atrás hoje tem 26 shopping centers, sete campos de golfe e lojas de luxo. Mercedes-Benz e BMW brilham nos showrooms de automóveis. Torres de apartamentos brotam como mato de concreto, e um pólo comercial futurista chamado Cyber City abriga muitas das empresas mais respeitadas do mundo.
Gurgaon, situada a cerca de 25 quilômetros ao sul da capital indiana, Nova Déli, pareceria ter tudo, exceto o que não tem: um esgoto ou sistema de drenagem do tamanho da cidade; eletricidade e água confiáveis; estacionamento adequado; ruas decentes e transporte público de amplo alcance. O lixo ainda é atirado na beira da estrada.
Gurgaon é tratada como símbolo de uma "nova" Índia em ascensão, mas também representa um enigma: como uma nova cidade pode se tornar uma locomotiva econômica internacional sem serviços públicos básicos? Como um país enorme pode flertar com um crescimento de dois dígitos apesar da corrupção generalizada, da ineficiência e da disfunção governamental?
A resposta é que o crescimento na Índia ocorre apesar do governo, e não por causa dele. A Índia e a China são muitas vezes consideradas as potências econômicas em ascensão no mundo, mas se o crescimento da China foi conduzido pelo Estado, o da Índia é impedido pelo Estado. Os líderes autoritários chineses construíram uma infraestrutura de Primeiro Mundo; a infraestrutura e a burocracia na Índia são consideradas terrivelmente superadas.
Mas, durante a última década, a Índia surgiu como uma das novas máquinas de crescimento mais importantes do mundo. Economistas preveem que a Índia se tornará a terceira maior economia do mundo dentro de 15 anos e poderá antes disso superar a China como economia de crescimento mais rápido.
Além disso, o caminho heterodoxo da Índia ilustra em escala grandiosa as lutas de muitos países menores em desenvolvimento para gerar crescimento apesar de governos fracos e ineficazes.
Na Índia, Gurgaon é o símbolo disso, conseguindo ser uma confusão total e uma locomotiva econômica, um microcosmo do dinamismo e da disfunção vistos no país.
O crescimento econômico em Gurgaon é o produto de um setor privado que improvisa para superar as inadequações do governo.
Para compensar os blecautes de eletricidade, as empresas de Gurgaon operam geradores a diesel. Não há água? Cave poços particulares. Não há transporte público? As companhias contratam ônibus e táxis. Crime? Gurgaon tem quase quatro vezes mais seguranças privados do que policiais.
Gurgaon não é uma exceção. Em Bangalore, companhias de terceirização como Infosys e Wipro transportam trabalhadores com frotas de ônibus e usam seus próprios geradores de energia. Muitos prédios de apartamentos em Mumbai, o polo financeiro do país, contam com abastecimento de água privado. E mais da metade das famílias urbanas indianas paga para mandar seus filhos a escolas privadas, em vez das escolas gratuitas do governo, cujos professores, muitas vezes, não comparecem para trabalhar.
Com 1,2 bilhão de habitantes, a Índia é a maior democracia do mundo, um laboratório para se testar até que ponto a democracia pode melhorar a vida de uma população enorme. A Índia está mais rica do que nunca. Mas seu desenvolvimento é dividido. Ela experimenta uma era dourada de novos bilionários, enquanto é marcada pela desigualdade.
Gurgaon é um dos distritos de maior crescimento da Índia, com mais de 1,5 milhão de habitantes. Ele representa quase a metade da receita do seu Estado e acrescentou 50 mil veículos às ruas no ano passado. Os valores dos imóveis aumentaram acentuadamente. A cidade tem 2,8 milhões de metros quadrados de espaço comercial, superando até Nova Déli.
Há não muito tempo, Gurgaon era um terreno baldio econômico. Foi criada em 1979 sobre um solo rochoso, sem governo local e quase sem base industrial. Mas suas desvantagens se transformaram em vantagens, nenhuma mais importante do que a ausência de um governo distrital, o que significava menos burocracia para sufocar o desenvolvimento.
O crescimento foi lento até depois de 1991, quando o governo evitou a moratória da dívida externa e começou a implantar reformas econômicas. A demanda por moradia aumentou, seguida pela busca por espaço comercial, enquanto multinacionais começavam a chegar para aproveitar a emergente indústria de terceirização. A ausência de governo local ajudou Gurgaon a se tornar líder no boom de crescimento indiano. Mas essa ausência também criou uma cidade disfuncional.
O fornecimento de água é inadequado. Ativistas dizem que o lençol freático perde 3 m por ano.
A força policial inadequada de Gurgaon é superada por esse crescimento; quase 12 mil guardas de segurança privada trabalham na cidade. Depois que uma empregada terceirizada foi atacada sexualmente, as companhias instalaram GPS em carros privados e contrataram mais guardas.
Mas a terceirização prospera em Gurgaon. No ano passado, uma importante associação industrial indiana determinou que a terceirização era responsável por cerca de 500 mil empregos na cidade.
Os críticos dizem que a corrupção é generalizada. Em Haryana, as empreiteiras fazem doações de campanha para políticos e exercem um enorme poder. "O governo pensa que o setor privado vai dar conta", disse Sanjeev Ahuja, um jornalista veterano em Gurgaon.
O novo conselho municipal de Gurgaon deveria criar uma voz política capaz de forçar ações, mas alguns moradores duvidam.
Alguns decidiram agir. Latika Thukral está envolvida na criação de um parque de biodiversidade. Ela lidera os esforços para limpar um depósito de lixo ilegal e está organizando uma campanha para plantar um milhão de árvores ainda neste verão. "Se pessoas como nós não exigirmos nossos direitos, nosso país não vai mudar", ela disse. "O ponto de virada chegou para a Índia."
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