O governo indiano decidiu na quinta-feira (24) permitir que varejistas estrangeiros como Walmart e Tesco abram lojas no país. É a primeira vez que os autores de políticas abrem o vasto e crescente mercado de varejo da Índia para estrangeiros.
A decisão, há muito aguardada do gabinete do primeiro-ministro Manmohan Singh, permitirá que varejistas que vendem múltiplas marcas de produtos detenham 51% de suas operações na Índia, com o restante de propriedade de um parceiro indiano; antes, esses varejistas não podiam realizar negócios de varejo no país.
Empresas como Apple e Nike, que vendem apenas uma marca de produto em suas operações de varejo, agora poderão ser proprietárias de 100% de suas lojas, não mais de apenas 51%.
Um porta-voz do Partido do Congresso do governo confirmou a decisão na televisão indiana, mas não forneceu detalhes sobre ela. A decisão enfrenta oposição dos pequenos comerciantes e de muitos partidos políticos, incluindo um que apoia o governo de Singh. Um importante ministro deverá fazer uma declaração a respeito da decisão no Parlamento na sexta-feira.
Walmart, Tesco, Carrefour e Ikea estão entre as empresas de varejo multinacionais que demonstraram interesse em investir na Índia caso a lei fosse mudada. Na quinta-feira, o Walmart saudou a decisão como “um primeiro passo importante”, acrescentando que a empresa estudaria “as condições e detalhes da nova política e o impacto que teria sobre nossa capacidade de realizar negócios na Índia”.
Analistas disseram que o fato de os autores de políticas terem seguido em frente e aberto o mercado de varejo, apesar da oposição de outros partidos, sugere que podem estar dispostos a abrir a economia ainda mais.
Nos últimos sete anos, a coalizão de governo liderada pelo Partido do Congresso adiou muitas propostas para abertura de setores domésticos, como seguros e aviação civil, para uma maior concorrência e investimento estrangeiro.
“Muitos já tinham quase perdido a esperança de que o governo tomaria uma decisão tão grande”, disse Arvind Singhal, presidente da Technopak Advisors, uma consultoria especializada no setor de varejo. “Há uma grande sensação de alívio.”
Singhal e outros analistas disseram que a Índia precisa de investimento estrangeiro significativo para ajudar a estabelecer um setor moderno de varejo e um sistema de abastecimento mais eficiente. Lojas modernas correspondem a cerca de 5% do setor de varejo de US$ 500 bilhões da Índia, com o restante correspondendo a lojas de esquina e outras pequenas empresas.
Os analistas estimam que até 35% dos hortifrutis indianos estragam antes de chegar ao mercado, em grande parte devido ao sistema de abastecimento antiquado, que inclui muitos mercados atacadistas e intermediários.
Em parte como resultado, os preços dos alimentos indianos frequentemente sobem rapidamente quando há pequenas perturbações na oferta ou na colheita de itens básicos como cebolas e batatas. A inflação dos alimentos tem pairado nos últimos meses próxima de 10%.
Apesar de algumas empresas terem começado a desenvolver redes de abastecimento em partes da Índia, Singhal disse que serão necessários de três a cinco anos de investimento para o estabelecimento de uma rede de oferta mais eficiente. As empresas precisarão trabalhar da estaca zero na construção de depósitos, compra de caminhões e no estabelecimento de relações com produtores rurais e outros fornecedores.
“Eu não vejo qualquer impacto imediato nos próximos seis meses”, disse Singhal. “O desenvolvimento da cadeia de abastecimento leva tempo. Ela avança de um Estado para outro.”
Nos últimos dois anos, o Walmart, o gigante de varejo americano, tem operado lojas de atacado na Índia que vendem apenas para outras empresas; ela atualmente conta com nove lojas. Ele também estebeleceu relacionamentos com produtores rurais em alguns Estados como o Punjab, para fornecimento de hortifrutis para os supermercados da rede de sua parceira indiana, a Bharti Retail. A Metro, uma rede de varejo alemã, também abriu lojas de atacado na Índia. A medida também ajudará empresas indianas como o Future Group, o maior varejista do país, e FlipKart.com, uma loja online que está crescendo rapidamente, que tenham interesse em levantar dinheiro junto a investidores estrangeiros para expandir suas operações.
Em muitos casos, os varejistas indianos, especialmente aqueles que possuem lojas online, vinham estabelecendo empresas de varejo e atacado separadas para contornar as restrições ao investimento estrangeiro. Seus parceiros americanos de capital de risco investem em empresas de atacado, que vendem bens e serviços para as empresas de varejo.
A decisão enfrentará forte oposição dos partidos políticos, incluindo parceiros do Partido do Congresso como o Congresso Trinamool, um partido importante no leste do país.
O principal partido de oposição no Parlamento, o Partido Bharatiya Janata, disse antes do anúncio da decisão que os varejistas estrangeiros apenas ocupariam o lugar das lojas domésticas.
“O investimento estrangeiro direto com bolsos fundos, ao entrar neste segmento, terá um impacto adverso sobre nosso setor doméstico de varejo, que está crescendo”, disse o partido.
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