O caráter ácido das relações entre Israel e a União Europeia se deve às críticas desta última à ocupação dos territórios palestinos e à política sistemática de colonização efetuada pelo governo de Binyamin Netanyahu. A ira das autoridades israelenses foi atiçada recentemente por vários relatórios europeus que condenam o recrudescimento das construções na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, as agressões cometidas pelos colonos, bem como o tratamento considerado discriminatório da minoria árabe israelense (20,5% da população de Israel).
Por falta de um consenso dentro da UE, esses documentos raramente são publicados, o que não impede sua divulgação, cedo ou tarde. É o caso de um estudo europeu a respeito da marginalização e da exclusão crescente dos palestinos da Zona C, parte do território que representa 62% da Cisjordânia e, onde, segundo os Acordos de Oslo (1993), Israel exerce um controle total no plano da segurança, e quase completo em se tratando de questões civis.
O relatório anual dos cônsules gerais alocados em Jerusalém, entregue na sexta-feira (13) a Bruxelas, condena com o mesmo vigor a deterioração da situação dos palestinos na parte oriental da Cidade Santa, e recomenda à Comissão Europeia que considere respostas legais para que acabem com os investimentos europeus nas colônias judaicas, o que extraoficialmente equivale a rejeitar produtos das colônias.
Como no ano passado, essas conclusões não serão adotadas, uma vez que vários países europeus, a começar pela Holanda, pela Alemanha, pela Itália e pela República Tcheca, são tradicionalmente contra qualquer condenação oficial de Israel. Precauções que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, não se preocupou em ter, no sábado, durante sua passagem por Beirute.
“A ocupação por Israel dos territórios árabes e palestinos deve cessar. As colônias, novas e antigas, são ilegais. Elas dificultam o nascimento de um Estado palestino viável”, insistiu Ban Ki-moon.
O secretário-geral da ONU se pronunciou no dia em que os negociadores palestinos e israelenses se encontravam em Amã. Suas discussões se revelaram tão estéreis quanto as dos dois encontros anteriores, nos dias 3 e 9 de janeiro.
O relatório europeu ressalta que eram 1.200 colonos na Zona C em 1972, depois 110 mil em 1993, e 310 mil (sem contar os cerca de 200 mil colonos que se assentaram em Jerusalém Oriental) hoje, ou seja, mais que o dobro da população palestina (150 mil).
Na Zona C, os colonos estão distribuídos entre as 124 colônias chamadas “oficiais”, ou seja, construídas com a anuência das autoridades israelenses, e cerca de cem postos avançados, ou seja, pequenas implantações não autorizadas constituídas, dependendo dos casos, de trailers, caravanas, ou até algumas tendas.
“A janela para uma solução de dois Estados está se fechando rapidamente, com a expansão contínua das colônias e as restrições de acesso para os palestinos na Zona C”, observa o relatório.
Mas a política de colonização não é a única ferramenta à disposição de Israel para substituir a presença dos palestinos com a de colonos: a área das “zonas militares fechadas” e das “reservas naturais” não para de crescer, ao passo que as destruições e as demolições de estruturas que pertencem a palestinos continuam.
Se a constatação dos europeus não é exatamente nova, mais inesperada é a longa lista de recomendações que visam apoiar custe o que custar a presença palestina na Zona C, através de medidas que favorecem a irrigação, a construção de estradas e diferentes tipos de infraestrutura, como escolas, hospitais, etc. Implicitamente, os europeus estão defendendo a intensificação de uma política que vai contra àquela instaurada por Israel nessa parte da Cisjordânia.
A constatação feita pelos 27 países-membros da UE para a parte oriental de Jerusalém constitui outro alerta. “Ela exprime um sentimento de urgência”, resume um diplomata europeu, “frente a uma nítida deterioração da situação dos palestinos, quer se trate da colonização, das expulsões, das destruições de casas, e de maneira geral, da degradação de suas condições de vida, devido sobretudo à violência crescente dos colonos. Esse relatório diz que é preciso agir, e que um dos meios é lutando contra o financiamento dos produtos das colônias’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário