domingo, 5 de fevereiro de 2012


O exército sírio continua crivando os subúrbios de Damasco e lançou uma nova ofensiva contra Homs, o principal bastião de oposição. Bashar el Assad recorre a todas as forças à sua disposição para sufocar como possível a revolta, e já não emprega só as tropas alauítas dirigidas por seu irmão Maher, absolutamente fiéis ao regime, como também soldados da reserva sunitas. Isso disparou o ritmo das deserções, segundo a oposição. Khaled Khoja, representante do Conselho Nacional Sírio na Turquia, declarou na última terça-feira (31) ao jornal "Hurriyet" que muitos militares haviam abandonado as fileiras nos últimos dois dias para se unir ao Exército da Síria Livre, devido ao uso de tropas regulares nas operações ao redor de Damasco. "A maioria dos soldados da reserva é sunita e não quer matar gente em bairros sunitas", disse Khoja, que garantiu que entre os desertores desta semana estavam dois generais. O Exército da Síria Livre diz já possuir 40 mil efetivos, embora essa cifra seja provavelmente exagerada. A Guarda Republicana e a Quarta Divisão Mecanizada, as duas unidades alauítas dirigidas por Maher el Assad, irmão do presidente, estão há dez meses em campanha ininterrupta. Nos primeiros compassos da revolta, iniciada em Daraa, os soldados de Maher el Assad se limitaram a apoiar a atuação da polícia e dos "shabiha", as milícias de civis alauítas patrocinadas pelo regime. Mas desde que Homs praticamente escapou ao controle governamental, no verão, e alguns grupos da oposição começaram a se armar, os 30 mil fiéis de Maher não pararam de se deslocar pelo país, deixando em sua passagem milhares de mortos; 5.400 cadáveres, segundo estimativas da ONU, entre os quais não se incluem os de soldados e policiais governamentais. O Ministério do Interior declarou que "grande quantidade de terroristas" tinham sido "liquidados ou detidos" na operação lançada contra os subúrbios de Damasco. Testemunhas citadas pela Associated Press afirmaram que as tropas de Maher anunciavam anteriormente sua chegada e sua intenção de arrasar bairros inteiros com o fim de que os moradores fugissem, e depois realizavam batidas entre os fugitivos para deter os homens jovens. Um ativista de oposição afirmou à agência Reuters que em Ain Tarm, junto da capital, havia-se estabelecido algo parecido com um toque de recolher permanente e que os soldados impediram que os comércios e os serviços públicos funcionassem. Outras fontes da oposição disseram que Homs voltava a ser "uma zona de guerra" e que mais de 70 pessoas morreram durante a jornada de segunda-feira (30). A oposição afirma que o exército utiliza tanques e artilharia em alguns bairros de Homs. É impossível verificar os detalhes, já que o regime civil começou a conceder vistos para jornalistas, mas restringe severamente seus movimentos.
O presidente El Assad, que ainda goza de um importante nível de popularidade em Alepo e Damasco, e conta com uma enorme superioridade militar (no último ano recebeu da Rússia armamento no valor de quase 4 bilhões de euros) e enfrenta uma oposição dividida, usa todos os recursos e toda a violência ao seu alcance para sufocar a revolta. Mas não o consegue. O crescente número de vítimas e o uso sistemático da tortura jogam contra ele, assim como a rápida deterioração econômica. Há um ano US$ 1 era trocado por 47 libras sírias; hoje vale oficialmente 57 libras, mas no mercado negro se conseguem 70 libras por dólar. E os preços subiram quase 50% desde o início da revolta.

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