Durante os 18 anos que viveu diante de campos de arroz, Malinee Khammon nunca plantou uma única muda. A filha de agricultores está no último ano do colégio e se tornou hábil em recusar os pedidos cada vez mais desesperados de seus pais para que ela ajude na fazenda.
"É quente e exaustivo ", diz Malinee. "Prefiro ficar em casa."
Cansativo e enlameado, o cultivo de arroz precisa de pessoas, como os jovens, com força para se curvar durante horas sob o sol escaldante, transplantando fileiras de mudas, uma de cada vez.
Mas a rizicultura na Tailândia virou uma ocupação de velhos, já que os jovens ficam mais tempo na escola, e a metrópole de Bancoc os atrai para carreiras em locais de trabalho com ar-condicionado.
"Tudo o que eles sabem fazer com as mãos é usar o celular", disse Sudarat Khammon, que aos 33 anos é o mais jovem agricultor em Baan Khlong Khoo, aldeia de casas sobre palafitas perto de Phitsanulok, no centro da Tailândia.
Malinee diz que seu sonho é ser professora. Suas amigas da escola querem ser médicas, farmacêuticas e engenheiras.
Somente 12% dos agricultores tailandeses hoje têm menos de 25 anos, contra 35% em 1985, segundo as estatísticas oficiais. Sua idade média saltou de 31 anos, em 1985, para 42 em 2010.
O abandono das plantações de arroz não é algo surpreendente: a Tailândia e outros países que cultivam arroz na Ásia estão seguindo padrões de industrialização vistos em outros lugares.
Mas a transição é especialmente pesada para a Tailândia, onde o cultivo do arroz -da variedade jasmine, a mais valorizada- está ligado à identidade do país e sua sobrevivência. Desde 1983, a Tailândia é o principal exportador de arroz do mundo, segundo o Departamento da Agricultura dos EUA. Em 2011, suas exportações passaram de US$ 6 bilhões.
Com a morte da geração mais velha de rizicultores, especialistas temem que a Tailândia possa ter dificuldades para encontrar pessoas dispostas a trabalhar em seus 13 milhões de hectares de campos de arroz.
O motivo pelo qual os jovens recusam a agricultura é a crença de que a vida nas cidades é mais fácil ou mais excitante.
O agricultor tailandês também é visto como "pobre, idiota e doentio", disse Iam Thongdee, especializado no estudo da rizicultura. "Os agricultores dizem: se eu reencarnar dez vezes, não quero mais uma vida como agricultor."
Os programas de televisão habitualmente mostram agricultores como pessoas rudes e incultas. E sua pele, escurecida pelo sol, tornou-se uma marca de posição social inferior.
Mas também há motivos econômicos. Como grupo, os agricultores estão cada vez mais endividados. O declínio do número de rizicultores é "um fenômeno generalizado em toda a Ásia", disse Robert Zeigler, diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, nas Filipinas.
Binh Nguyen Ngoc, professor de culturas e linguística asiáticas da Universidade Nacional de Hanói, diz que os jovens no Vietnã, também um dos maiores exportadores de arroz, estão fugindo do campo.
Zeigler acredita que o declínio do número de rizicultores causará problemas a curto prazo, mas a falta de mão-de-obra também é geralmente um catalisador do maior uso de máquinas eficientes, como as plantadeiras de arroz.
"Estamos vendo o início da mecanização na agricultura asiática", disse. "No ano passado, fiquei surpreso ao ver máquinas sendo usadas na Índia e em lugares onde você pensaria que há abundância de mão-de-obra."
A transição da Tailândia de uma sociedade rural e feudal para um dos principais produtores de tecnologia, como discos rígidos para computadores, e um polo para empresas de carros japonesas e americanas foi abrupta.
Isso causa uma forte divisão de gerações entre pais que não tinham opção além da agricultura e seus filhos, que são expostos a uma série de possibilidades no colégio e na universidade.
Boonmee Khammon, 41, pai de Malinee, fala amargamente sobre a recusa de suas duas filhas em ajudá-lo nos campos de arroz. "Elas têm um mundo próprio."
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