A relação eternamente tensa entre o Azerbaijão e o Irã se deteriorou nas últimas semanas em meio à profunda inquietação de Teerã com a crescente cooperação militar entre o Azerbaijão e Israel.
A fronteira de Bilasuvar entre os dois países foi fechada durante dias, causando longas filas de caminhões. Não muito longe, navios de guerra iranianos manobravam no mar Cáspio. Um importante assessor do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, teve sua entrada recusada recentemente no aeroporto de Baku, capital do Azerbaijão, e embaixadores dos dois lados voltaram para casa.
As autoridades trocaram comentários desagradáveis na internet e na mídia impressa -incluindo um diálogo em que os dois países muçulmanos se acusaram mutuamente de ser amistosos demais com os gays.
Em março, as autoridades do Azerbaijão prenderam 22 pessoas que, segundo disseram, faziam parte de um complô apoiado pelo Irã para matar diplomatas americanos e israelenses.
"As relações entre o Azerbaijão e o Irã estão muito tensas", disse Elhan Shahinoglu, diretor da Atlas, uma organização de pesquisa de política externa em Baku.
Oficialmente, o Azerbaijão diz que quer permanecer neutro na discussão sobre o programa nuclear iraniano. Mas o governo do presidente Ilham Aliyev defendeu seu direito de reforçar os laços militares com Israel. É o que indica a compra pelo Azerbaijão de armas fabricadas em Israel no valor de US$ 1,6 bilhão. Os dois países negaram relatos de que o Azerbaijão cedeu a Israel acesso às suas bases militares para manter vigilância sobre o Irã.
A Otan está contando com campos de pouso no Azerbaijão para mover suprimentos no Afeganistão. Mas as ligações com o Ocidente são apenas um fator de tensão com o Irã. O Azerbaijão há muito tempo se irrita com o apoio dado pelo Irã à Armênia na longa guerra sobre o território disputado de Nagorno-Karabakh.
As autoridades americanas veem o Azerbaijão como uma situação insolúvel, em que qualquer sinal de amizade atrairá críticas de américo-armênios ou de grupos de observadores locais e internacionais, que documentaram vários casos de abusos de direitos humanos pelo governo Aliyev.
A Rússia também teme a relação do Azerbaijão com o Ocidente.
Moscou agora tenta renegociar o aluguel de uma grande instalação de radar em Gabala, no Azerbaijão, que é usada para rastrear mísseis. Baku pede US$ 300 milhões por um novo contrato de cinco anos, um salto do atual aluguel de US$ 7 milhões.
A Rússia acusou os EUA de pressionarem o Azerbaijão para aumentar o aluguel e recentemente ameaçou abandonar a estação de radar no país.
A tensão entre o Azerbaijão e o Irã também aumenta a perspectiva de inquietação entre as mais de 20 milhões de pessoas de etnia azerbaijana que vivem no Irã, na maioria em sua fronteira norte.
Nas áreas de fronteira, as tensões ficam mais palpáveis. Emiro Rovshan, motorista de caminhão, disse que nos últimos três ou quatro meses os bloqueios na fronteira, aparentemente coordenados pelo Irã, tornaram-se mais comuns, às vezes deixando os motoristas parados durante dias.
Leyla Yunus, diretora do Instituto Paz e Democracia, que monitora violações aos direitos humanos no Azerbaijão, disse que a repressão política pelo governo Aliyev beneficia o Irã. Para ela, a falta de oportunidades econômicas, especialmente para os jovens das áreas rurais, poderia levá-los a adotar o fervor religioso das autoridades teocráticas de Teerã.
"O que as pessoas veem nas áreas rurais?", perguntou Yunus. "A TV iraniana."
Ela disse que os EUA silenciaram suas críticas às violações aos direitos humanos no Azerbaijão para proteger seus interesses.
Para Israel, o país surgiu como um aliado extraordinário -uma nação muçulmana amiga, disposta a cooperar em questões militares e estratégicas.
Do ponto de vista do Azerbaijão, Israel tem sido mais compreensivo do que os países europeus, que não reconhecem os desafios nas fronteiras do país e a dificuldade para construir uma cultura secular em um país predominantemente muçulmano. Os europeus também dizem que em Baku há violações aos direitos humanos.
Em uma clara crítica à teocracia iraniana, a cidade enfatizou seu desejo de ser uma sociedade secular, evidenciado por seu papel como anfitriã do festival de música Eurovision este ano. Foi em reação ao Eurovision, que atrai muitos fãs gays, que os sites da web do Irã disseram que Baku planejava realizar uma enorme parada gay.
Ali M. Hasanov, assessor político do presidente Aliyev, disse acreditar que o Azerbaijão e o Irã afinal chegarão a um acordo. "Vamos encontrar uma fórmula em que o Estado secular viva em paz com o Estado religioso", disse. "Temos orgulho de sermos muçulmanos e temos orgulho de sermos um país secular."
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