Aamir Khan passou mais de duas décadas como um dos mais admirados astros do cinema indiano. Agora ele está ficando ainda mais famoso como apresentador de um programa semanal de TV que chama a atenção para alguns dos tradicionais problemas sociais do país.
Misturando entrevistas e reportagens curtas, o "Satyamev Jayate" ("A Verdade Prevalece") aborda questões degradantes, como os dotes, a violência doméstica e o sistema de casta.
Em apenas três meses, o programa matinal dos domingos se tornou um fenômeno nacional, atraindo quase meio bilhão de espectadores, segundo a rede Star India, a principal do país.
Numa das primeiras edições, Khan, 47, destacou uma reportagem investigativa feita ao longo de sete anos por dois jornalistas que haviam denunciado mais de cem médicos que se ofereciam para abortar ilegalmente fetos do sexo feminino.
Os processos judiciais contra os médicos se arrastavam nos tribunais notoriamente lentos do país.
Mas, dias depois do programa, o ocupante do principal cargo eletivo no Estado do Rajastão, onde a investigação jornalística foi feita, reuniu-se com Khan e prometeu transferir os processos para tribunais especiais que acelerariam a tramitação.
Esse tipo de resposta imediata faz com que Khan seja cada vez mais procurado por formuladores de políticas, ativistas sociais e outros que o veem como um paladino das suas causas.
Depois de fazer um programa sobre erros médicos, ele depôs numa CPI sobre o sistema nacional de saúde. E, no mês passado, se reuniu com o primeiro-ministro Manmohan Singh para defender a proibição da prática pela qual urinas e fezes são limpos por pessoas nascidas nas castas mais desprivilegiadas.
"O sr. Khan está prestando um serviço à nação ao abordar questões importantes que precisam de um maior debate público", disse K. Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia.
O ex-parlamentar Shyam Benegal, um respeitado diretor de cinema e TV, disse que Khan faz o que muitos outros não conseguiram -alcançar o grande público indiano, ao colocar a linguagem de Bollywood a serviço de causas maiores.
"Isso é eficaz porque Aamir Khan é um astro do cinema", disse Benegal.
Khan comparou seu trabalho no programa ao seu filme "Taare Zameen Par" ("Como Estrelas sobre a Terra", de 2007), que mostrava as dificuldades de uma família e de uma escola para lidar com uma criança disléxica.
"Se eu lhe disser que estou fazendo um filme sobre dislexia, quanta gente vai entrar no cinema?", perguntou ele.
"Ninguém", prosseguiu, "então preciso dizer que é um filme sobre a infância e as crianças". Da mesma forma, afirmou, o "Satyamev Jayate" não anuncia seus temas de antemão.
Khan largou a faculdade para fazer carreira no cinema e seu primeiro sucesso, em 1988, foi num musical de Bollywood. Depois, em "Lagaan - A Coragem de Um Povo" (2001), filme indicado ao Oscar, ele interpretou um aldeão da Índia colonial que desafia um regimento britânico para uma partida de críquete, na qual seria decidido se a aldeia dele precisaria pagar um extorsivo imposto fundiário chamado "lagaan".
Em seguida, ele estrelou ou produziu filmes que tratam de questões como a corrupção, o endividamento dos camponeses e o rigoroso ensino superior indiano.
Seu programa é criticado pela abordagem às vezes simplista de temas complexos. A Associação Médica Indiana disse que seus filiados são retratados como pessoas gananciosas e antiprofissionais.
Outros afirmam que a atração é dócil demais na hora de apontar culpados.
Khan disse que nunca pretendeu fazer um programa investigativo e argumentou que está obtendo um impacto muito maior ao colocar questões perturbadoras diante de grandes audiências, de uma forma que busca constrangê-las a abandonar sua apatia.
"Nossa atitude não é a de culpar esta ou aquela pessoa. A culpa é de todos nós."
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