Wang Haifeng gostaria de ter, pelo menos uma vez, a oportunidade de conversar com Yao Ming. Não para falar sobre esportes. Para o gigante do basquete, adorado pelos jovens chineses, esse empresário diria que ele está enganado quanto à pesca de tubarões.
No vilarejo de Puqi, 500 quilômetros ao sul de Xangai, onde mais de 500 pessoas trabalham com processamento do peixe, ninguém gosta muito do engajamento do astro do basquete contra o consumo da apreciadíssima sopa de barbatana de tubarão. "Está tendo um impacto sobre nossos negócios", se irrita Wang, diretor da fábrica Haideli, que escoa mil toneladas de tubarão por ano. "Os jovens que não conhecem bem essa iguaria são dissuadidos de consumi-la, talvez para sempre".
Na fábrica, o sangue é lavado com uma mangueira. As peles espalhadas pelo chão exalam um forte odor marinho. Em vários cestos, há cabeças de tubarão azul empilhadas. Colocadas sobre grades mantidas por cavaletes, milhares de barbatanas secam ao ar livre, ocupando a maior parte do pátio da fábrica.
Ninguém saberia dizer desde quando esse grande vilarejo costeiro se especializou em corte de tubarão. "Bem antes da libertação da China", explica Li Weijie, presidente de uma empresa concorrente, referindo-se ao ano de 1949. Quando era jovem, os métodos eram mais básicos: "Uma faca e um saco de sal", ele lembra.
Hoje, "não é mais um bom negócio", se preocupa Li. Os dois atribuem a responsabilidade a essas intervenções publicitárias nas quais apareceu o ex-jogador da NBA; uma primeira campanha em 2009, outra um ano atrás. Ali o campeão declara, com um ar sério: "Quando o consumo acabar, o massacre também acabará".
"A sociedade está se voltando contra nós; é por causa de todos esses artigos na mídia", pensa Wang Haifeng. "Estão tentando fazer com que pensem que todos os tubarões são protegidos, mas é mentira!" De fato, somente três espécies de tubarões fazem parte da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção (Cites): o tubarão-baleia, o tubarão-elefante e o grande tubarão branco. Países como o Japão, a Indonésia e a China são contra o acréscimo de outras espécies a essa lista.
No entanto, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), das 270 espécies avaliadas, 55% estão ameaçadas ou quase ameaçadas de extinção, devido à pesca excessiva. O tubarão-martelo estaria "em risco mundialmente". No mês de março de 2010, essa espécie teria chegado perto de ser incluída na lista negra da Cites. Com 75 votos a favor e 45 contra, o tubarão-martelo não atingiu a maioria de dois terços requerida para proibir seu comércio.
Logo, em Puqi, Wang Haifeng não hesita em tirar do congelador do armazém uma embalagem a vácuo contendo três fetos de tubarão-martelo, com cerca de 20 centímetros cada um, retirados do ventre de uma fêmea. Alguns metros adiante, seu concorrente conta que essa espécie é a mais apreciada pelo seu sabor.
Esses empresários de Puqi se sentem abandonados pelo poder público chinês. Eles não acreditam que isso possa ser por preocupação ambiental, mas sim por simples populismo. "Nossa indústria é modesta e Yao Ming é muito respeitado, portanto o governo não nos apoia, é frustrante", lamenta o dono da fábrica Haideli.
Em Puqi, eles negam comprar dos pescadores as barbatanas retiradas na costa antes de atirar o animal agonizante ao mar, prática criticada pelas associações. Os empresários dão como prova as inúmeras carcaças que recobrem o chão. Eles até negam que a prática possa existir. "Impossível, as outras partes do tubarão têm valor!", diz Li Weijie. Já Wang se gaba de não desperdiçar nada do animal: o estômago pode ser frito; da espinha dorsal se extrai o pó de cálcio; a carne é consumida na província ou exportada depois de salgada para o Sri Lanka; os dentes viram pingentes.
A barbatana é a parte mais vendida. Ela representa somente 4% do corpo do animal, mas pelo menos 30% do faturamento da empresa de Li Weijie. As quantidades restritas justificam seu preço proibitivo no cardápio dos restaurantes. De cada 5 quilos brutos de barbatanas, a empresa só tira uma libra de produto final, segundo Wang. É preciso contar 1.000 yuans por quilo (cerca de R$ 320) de barbatana de tubarão azul processado pela fábrica Haideli.
Nenhum dos dois acha que a população de tubarões está em declínio. "Os recursos continuarão a crescer", quer acreditar Wang Haifeng. "É isso que Yao Ming não entende, as quantidades no mar não diminuíram. Existe bastante tubarão".
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