"Eu estava indo encontrar alguns amigos na manifestação, por volta das 20h, na Praça Tahrir. Uns rapazes começaram a me empurrar e a gritar para chamar a atenção. Eu gritei de volta. Então vários deles me agarraram, dizendo que iam me tirar de lá. Foi aparecendo um número cada vez maior deles, dezenas, me cercando."
Vestida com uma elegante calça de alfaiataria e cuidadosamente maquiada, Hania Moheeb, jornalista egípcia de cerca de quarenta anos, diante de um grupo de militantes reunidos em um café no centro da cidade, começa seu relato sobre o estupro do qual foi vítima durante a manifestação de 25 de janeiro, no Cairo. Um trauma que muitas outras mulheres viveram naquele dia: pelo menos 22 foram atendidas pelos comitês de vigilância anti-assédio da Praça Tahrir. Frente à escalada do fenômeno desde novembro de 2012 e do uso de armas brancas pelos agressores, essas voluntárias agora respondem com Tasers (pistolas elétricas paralisantes) e lança-chamas improvisados.
"Eles enfiavam as mãos dentro da minha calça, por baixo das minhas roupas. Agarravam meu peito com violência. Fiquei seminua. Eles me insultavam. Pensei que ia morrer. Eles me faziam ficar em pé para poderem me estuprar mais facilmente. Tentei me jogar no chão", ela continua. "As vozes que sussurravam no meu ouvido e garantiam que iam me defender eram de homens que estavam com os dedos enfiados em mim. Dois homens me pegaram pelos ombros, enquanto seguravam meu peito, e me arrastaram para fora do grupo sem me deixarem recolocar minha calça. Até o momento em que cheguei à ambulância, senti mãos em mim", conta Hania. "Foi um estupro, mas no Egito ele não é reconhecido, pois as únicas coisas que levam em conta são a perda da virgindade e a gravidez", observa a jornalista.
Através de conversas com outras vítimas, Hania Moheeb chegou a uma certeza: essas agressões são "crimes organizados", de caráter mais político do que sexual. "É sempre o mesmo cenário, com uma tática conhecida onde intervêm diferentes grupos de jovens de vinte a trinta anos. Nenhum exprime qualquer desejo sexual", ela observa.
"Existe uma vontade deliberada de atingir as mulheres para impedi-las de participarem das manifestações", concorda Engy Ghozlan, da organização Operação Contra o Assédio e as Agressões sexuais – OpAntiSH. "Não sabemos quem organiza isso, mas lembra os ataques sofridos pelas mulheres jornalistas que se manifestavam pelo boicote do referendo sobre a reforma constitucional em 2005, na época do regime Mubarak", diz a ativista, mencionando um possível envolvimento da Irmandade Muçulmana. Uma acusação refutada na quinta-feira por Azza al-Garf, membro do Partido da Liberdade e da Justiça, governista.
O apoio de seu marido, de amigos, familiares e de ativistas deu a Hania Moheeb a coragem de depor na televisão. "Quis encorajar as outras mulheres a se organizarem e pedir aos partidos políticos que façam algo para proteger as manifestantes. Não cabe somente aos grupos de vigilância fazê-lo", ela explica.
Convocados por partidos políticos e organizações de defesa dos direitos humanos, centenas de homens e mulheres participaram na quarta-feira, no Cairo, de uma marcha contra a violência sexual e pelo direito das mulheres de participarem de manifestações em segurança.
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