Quando as
primeiras comissárias de bordo decolaram em voos da Turkish Airlines, no final
da década de 1940, elas usavam blusas de algodão sob conjuntos azuis desenhados
para "acentuar os contornos do corpo", como revela uma história dos
uniformes da companhia. Nos anos 1960 e 1970, a tendência foi mantida, com
uniformes inspirados pelas passarelas de Paris e concebidos para mostrar as
inclinações europeias da Turquia nos aviões de sua linha aérea de bandeira.
Agora, a
mudança nos costumes do país se reflete em uma proposta para uma nova linha de
uniformes: vestidos longos, saias abaixo do joelho e quepes ao estilo do fez, o
tradicional chapéu da Turquia otomana.
Já que se
trata da Turquia, onde questões inócuas como essa podem se tornar amargas
disputas de identidade, o vazamento de cópias dos desenhos para a mídia causou
ruído e despertou reações passionais, tanto entre os laicos quanto entre os
religiosos.
No
Twitter, alguns turcos zombaram dos novos uniformes, que definiram como
inspirados nos figurinos de "O Século Magnífico", uma popular novela
turca sobre o reinado do sultão Suleiman, o Magnífico, e a vida decadente em
sua corte, no século 16. A disputa se agravou ainda mais quando a companhia
aérea anunciou que deixaria de servir bebidas alcoólicas em alguns de seus
voos.
Houve
também quem criticasse os novos modelos por eles serem conservadores demais e
representarem um esforço claro para agradar o Partido da Justiça e
Desenvolvimento, uma organização de bases islâmicas comandada pelo
primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. Os dez anos do partido no poder
trouxeram mudanças à cultura tradicionalmente laica da Turquia, como a
aceitação do uso de véus islâmicos em lugares públicos e campi universitários e
restrições ao consumo de álcool.
"É
uma reação contra a imposição de determinado estilo de vida a todas as
instituições da Turquia", disse Ayse Saktanber, socióloga da Universidade
Técnica do Oriente Médio, em Ancara. Ela acrescentou: "Até as minhas
alunas que usam véus acharam os uniformes ridículos".
Em
comunicado à imprensa local, a Turkish Airlines tentou conter os protestos,
afirmando que os desenhos haviam vazado prematuramente e que eram apenas uma
entre diversas opções.
quem
considere que a Turkish Airlines, na qual o governo detém quase 50% de
participação, está simplesmente tentando satisfazer Erdogan.
Em
comunicado escrito, o presidente do conselho da empresa confirmou que ela
estava atendendo a um pedido do governo.
A
controvérsia colocou em destaque o nome de Dilek Hanif, a estilista turca
contratada pela companhia aérea para redesenhar os uniformes. "Continuo a
trabalhar em desenhos, cores e alternativas diferentes", disse Hanif.
"Quando os desenhos estiverem prontos, serão apresentados."
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