Em um
moderno escritório com ar-condicionado, Gagan Choudhary examinava uma esmeralda
com um espectroscópio: assim como a maioria das pedras verdes enviadas ao seu
laboratório, ela não era exatamente o que parecia.
"Toda
pedra é diferente", disse. "Algumas são tão sofisticadas que, em
alguns casos, passamos pelo menos duas horas em uma esmeralda."
Como
vice-diretor e chefe de testes do Laboratório de Testes de Gemas em Jaipur,
Choudhary examina milhares de pedras coloridas por ano, determinando se elas
são naturais, criadas em laboratório ou tratadas com resina e injetadas com
cores para dar um falso brilho.
O
resultado: quase 95% das esmeraldas, 99% dos rubis e pelo menos metade das
safiras testadas são artificiais. O tratamento artificial não é raro para
corrigir imperfeições em pedras preciosas, mas é ilegal se não for revelado aos
compradores.
Entre os
preços disparados por pedras preciosas no mercado global, os lapidadores e
joalheiros de Jaipur se viram superados por rivais maiores e em melhor situação
financeira.
Durante
séculos, Jaipur atraiu as melhores pedras do mundo para ser lapidadas, polidas
e montadas, uma tradição que remonta ao início do século 18, quando o marajá
governante Sawai Jai Singh 2° fundou a cidade como a capital do Rajastão. Ele
atraiu os melhores artesãos de toda a Índia para criar bainhas de espadas
cravejadas de joias, brincos e colares e até braceletes para os tornozelos dos
elefantes reais. Com o tempo, os artesãos de Jaipur ganharam fama por sua
habilidade para lapidar pedras especialmente frágeis como as esmeraldas.
Mas seu
legado está sendo ameaçado pela mudança das forças do mercado e pelos novos
concorrentes, notadamente na China e na Tailândia. Em um mercado em expansão
para pedras coloridas, alimentado pela riqueza das economias emergentes e hoje
avaliado em cerca de US$ 10 bilhões anuais, a indústria artesanal de Jaipur
está sendo dominada por grandes empresas capazes de controlarem o fornecimento
e os preços com seu poder financeiro e de marketing.
"Existe
uma verdadeira mudança no poder global", disse Alexander Mees, um
especialista em pedras coloridas no JP Morgan Cazenove. "O mercado ainda
está fragmentado e é menos maduro que o de diamantes, por isso é provável a
presença de empresas de grande escala."
A
Gemfields, empresa sediada em Londres que tem 48% de sua propriedade controlada
pelo grupo de "private equity" Pallinghurst, controla 28% do
suprimento mundial de esmeraldas com sua mina Kagem, na Zâmbia. Ela
comercializa suas pedras pela marca de luxo Fabergé, adquirida pela
Pallinghurst.
Os
diamantes historicamente tiveram a maior participação no comércio de pedras
preciosas, mas a demanda crescente, especialmente dos mercados emergentes,
levou empresas a buscarem novas oportunidades. Jean-Claude Michelou, da
Associação Internacional de Pedras Preciosas Coloridas, disse estar trabalhando
em um certificado global e um sistema de rastreamento de pedras preciosas
semelhante ao criado para os diamantes.
Enquanto
isso, os leilões têm vendas recordes, com clientes da China e do Oriente Médio
comprando pedras como investimento. "Enquanto houver mulheres na face da
Terra, haverá demanda", disse Rajiv Jain, ex-presidente do Conselho de
Exportação de Pedras Preciosas e Joias da Índia. "Sou otimista. Se Jaipur
lutar, ficará mais forte."
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