"Quero me tornar um ícone do k-pop [ou pop coreano], como o Psy", disse
Chae-young, 13, referindo-se ao rapper sul-coreano do viral "Gangnam
Style". "Todas as horas que eu passo aqui são meu investimento para
esse sonho."
Há quatro anos, ela treina passos de hip-hop na Def Dance Skool, em
Seul, que está entre as milhares de escolas do tipo na Coreia do Sul.
Mesmo as escolas particulares tradicionais de música e dança -mais
acostumadas a ensinarem balé- alteraram seus currículos para torná-los
mais pop.
Elas estão atendendo a uma crescente demanda. Numa pesquisa feita no
ano passado pelo Instituto Coreano de Educação Vocacional e
Treinamento, a carreira artística, junto com o magistério e a medicina,
eram as escolhas mais populares dos alunos como futuras profissões
-algo muito distante de uma era mais tradicional, em que o trabalho
como artista era considerado ocupação inferior. Agora, a música pop é
uma das mais disputadas carreiras universitárias, sob o nome de "música
prática".
"Há 11 anos, quando criei esta escola, os pais achavam que só
adolescentes delinquentes vinham para cá", disse Yang Sun-kyu, que
dirige a Def Dance Skool. "A atitude dos pais mudou."
Isso se deve, em grande parte, à ampliação das oportunidades de
carreira. A golfista Se Ri Pak dominou a temporada da Associação de
Golfe Profissional Feminino, e a patinadora Kim Yu-na conquistou o ouro
olímpico. Aí apareceu Park Jae-sang, mais conhecido como Psy, mostrando
em "Gangnam Style" uma dança esquisita e uma letra que ironizava a
rígida estrutura social da Coreia do Sul.
A Def Dance Skool, que em 2006 tinha cerca de 400 alunos, hoje tem mil.
Quase metade deles está tentando entrar para alguma das principais
agências sul-coreanas de k-pop, que recrutam e treinam jovens talentos
para colocá-los em bandas adolescentes.
Alguns desses grupos, como Girls' Generation, Super Junior e Big Bang,
produzem clipes que geram milhões de acessos no YouTube. Fãs de toda a
Ásia e de outros lugares viajam à Coreia do Sul para participar de
lançamentos de álbuns, shows e premiações envolvendo seus ídolos.
O faturamento das três principais agências sul-coreanas de k-pop -SM
Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment- saltaram de 106,6
bilhões de wons em 2009 para 362,9 bilhões (US$ 326 milhões).
"Na minha época, empenhar-se nos estudos era tudo, mas agora há outras
opções", disse a dona de casa Lee Byeong-hwa, 48, cuja filha Kim
En-jae, 11, sonha em fazer carreira como estrela do k-pop.
Num dia recente, Lee e En-jae estavam sentadas entre milhares de jovens
num ginásio de Incheon, a oeste de Seul. Elas estavam entre os 2
milhões de aspirantes a participar do "Superstar K", a versão
sul-coreana do "American Idol".
Woo Ji-won, 18, tentava pelo terceiro ano. "Meus colegas estão ralando
para passar no vestibular", disse ela. "Mas eu vou a um curso de k-pop
sete noites por semana. Depois de chegar em casa, passo horas estudando
vídeos do k-pop no YouTube."
Críticos dizem que a Coreia do Sul tem produzido apresentações sem
imaginação. Hong Dae-kwang, quarto colocado no "Superstar K" do ano
passado, partilha dessa opinião, mas disse que a febre do k-pop ajudou
a mudar sua vida. Ele, que antes dividia um apartamento de um quarto,
entregava pizzas e se apresentava nas ruas, agora participa de um
programa de rádio, mora em um apartamento de três dormitórios e tem um
agente.
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