As ruas em torno da Centre Street, no bairro de Sai Ying Pun, em
Hong Kong, são um microcosmo vibrante de pequenos negócios que tornam a
cidade tão colorida.
Há lojas vendendo blocos grandes e molengas
de tofu fresco, brotos de feijão e papaias. Há tendas minúsculas que
vendem almôndegas de peixe, porco, "noodles" ou copiam livros para as
crianças que frequentam a escola.
Há lojas de hardware, de
roupas baratas e oficinas mecânicas barulhentas, cujos altares para o
deus chinês da terra fornecem um contraponto colorido para o chão
manchado de óleo no interior.
A maior parte dessa vida,
entretanto, está em processo de desaparecer, à medida que um novo
acréscimo arquitetônico à Centre Street - uma escada rolante ao ar livre
que sobe a inclinação acentuada da rua sob um teto modernista -
prejudica o ecossistema comercial do bairro.
Hong Kong é uma
cidade muito montanhosa. Os arranha-céus que abrigam moradores e
escritórios que transformaram a antiga colônia britânica num centro
financeiro internacional estão espremidos entre o mar e os picos altos.
Antigamente, os moradores ricos se faziam carregar em liteiras quando
queriam viajar para os cantos mais altos da cidade.
Em 1888, um bonde começou a subir e descer a ladeira até o Pico Vitória.
Mais recentemente, os planejadores urbanos chegaram ao conceito de
escadas rolantes ao ar livre para tornar os bairros acima do morro mais
acessíveis, especialmente durante os meses quentes e úmidos.
Há
pouco mais de duas décadas, uma escada-rolante que sobe o morro em cerca
de 20 trechos e se tornou uma atração turística começou a operar numa
área hoje conhecida como Soho.
A escada-rolante trouxe mais do
que conveniência. Ela imediatamente se transformou num ímã para
restaurantes, bares, butiques de estilo ocidental e para moradores ricos
- e ajudou a revitalizar o bairro em torno.
"Logo que eles
construíram a escada-rolante no Soho, houve muita oposição porque as
pessoas não entendiam o que ela faria", disse Wayne Parfitt, um
australiano que fundou um grupo de restaurantes que tem filiais em Soho e
agora em Sai Ying Pun.
Mas, disse ele, a escada-rolante deu ao bairro uma injeção de
energia. "Sim, você perde um pouco da personalidade, mas você também
cria algo novo."
O que se perdeu foi boa parte do clima chinês
antigo da área: muitas das barracas de comida ao ar livre e lojas de
impressão que costumavam a prosperar aqui se foram, expulsas pelos
aumentos nos aluguéis.
Há todos os indícios de que a
escada-rolante da Centre Street, que foi concluída no final do ano
passado - e uma nova estação de metrô que deve ser inaugurada em breve
ainda este ano - terão um impacto similar sobre Sai Ying Pun.
Nos últimos meses, a High Street, que cruza a Centre Street, recebeu um
elegante restaurante francês ao lado da nova escada-rolante, bem como
meia dúzia de restaurantes e pizzarias italianos, dois restaurantes
tailandeses, alguns restaurantes indianos, japoneses e ocidentais e uma
loja de vinhos.
A Jaspas, que serve hambúrgueres e comida
internacional e faz parte da companhia de restaurantes Mr. Parfitt's,
abriu em fevereiro num local antes ocupado por uma loja que vendia
roupas baratas.
"Tudo ficou caro", disse Yeung Sun, coproprietário de uma loja que
vende e repara pneus e baterias de carros. "Há muito mais restaurantes
ocidentais aos quais só os estrangeiros vão. Eu nunca vou lá. São muito
caros."
Dois restaurantes pequenos de noodles e um lugar que
vende tigelas de congee, uma espécie de canja, por cerca de 16 dólares
de Hong Kong, cerca de US$ 2, são os únicos restaurantes populares que
restam na High Street.
Na frente da oficina de Yeung, um restaurante italiano recentemente substituiu uma oficina mecânica.
Pontos comerciais no térreo na região agora custam cerca de 55 ou 60
dólares de Hong Kong por metro quadrado por mês, de acordo com o
corretor Au. Há dois anos, custavam de 30 a 35 dólares.
"A nova
escada-rolante traz mais gente, mas não traz muito negócio", disse Lee
In-yu, cuja pequena papelaria e lojas de brinquedos está repleta de
canetas, bonecas e adesivos de astros pop de Hong Kong.
Em seus
20 anos na High Street, Lee e seu marido, Cheng Chi-ming, sobreviveram à
chegada da internet e dos computadores: eles reduziram o negócio de
cópias que costumava ser sua principal fonte de renda e acrescentaram
capas de telefone e cabos às prateleiras quando os celulares decolaram.
Pode ser difícil sobreviver à revitalização de Sai Ying Pun.
Como muitos restaurantes baratos fecharam no verão assado, um número
bem menor de estudantes das escolas próximas visita o lugar, disse Lee.
"Eles costumavam vir para este bairro para almoçar, e compravam aqui
antes de voltar para a aula. Isso não acontece mais."
Os
estrangeiros que começaram a se mudar para a área frequentam sua pequena
loja de tempos em tempos, mas não compram muita coisa.
A
abertura de uma nova estação do metrô no final deste ano pode trazer
mais gente, disse Lee. Mas com os alugueis aumentando rápido, ela tem
pouca esperança de conseguir pagar as contas. "Nós provavelmente
fecharemos em dois anos, se não este ano", disse.
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