A cerveja Kirin Ichiban Shibori tem 10% mais lúpulo. A rival Asahi Super
Dry diz ter um sabor mais acentuado devido a um "gerenciamento de
levedura" de alta tecnologia. Em outra gôndola do mercado, a novidade é
um molho curry mais saudável, com menos óleo e calorias.
O lançamento acelerado de produtos e a reformulação de antigos são
algumas das saídas das empresas japonesas para se proteger do aumento do
imposto sobre consumo que começa a valer hoje.
O aumento do tributo (de 5% para 8%) acontece simultaneamente a um raro
surto de inflação. E, para um país acostumado a deflação desde os anos
1990, esse incentivo duplo para o aumento de preços é um choque não só
psicológico como financeiro --e que exige a criatividade dos
publicitários.
"Há vários produtos que serão lançados neste mês para que as pessoas não
se deem conta de que os preços estão subindo", diz Naoko Miyagawa, da
Hakuhodo, a segundo maior agência de publicidade japonesa.
Miyagawa faz parte de uma equipe que está aconselhando as empresas sobre
como lidar com a alta do tributo, que deve afetar os gastos dos
consumidores.
A mudança nos tributos faz parte da política expansionista promovida
pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecida como Abenomics, e visa
reduzir a dívida publica, que supera os 200% do PIB da terceira maior
economia global.
A última vez que o governo japonês tinha aumentado esse imposto foi em
1997, quando teve início uma profunda recessão e cujos efeitos são
sentidos até hoje: o período de crise deu início ao processo
deflacionário que Abe tenta encerrar agora.
A expectativa é que, com a alta do tributo, a inflação no Japão supere
os 2% (o índice anual chegou a 1,3% em fevereiro, no nono mês seguido de
aceleração dos preços).
A inflação japonesa ficou acima de 2% pela última vez em 1991, ou seja,
há toda uma geração que não conheceu aumento tão forte e isso tem
reflexo no mundo publicitário.
"Muitas empresas se acostumaram a fazer campanhas para deflação", afirma
Toshihiro Tsujita, que também trabalha na agência Hakuhodo. Ele cita o
exemplo da proliferação de alternativas à cerveja --bebidas com pequenas
mudanças na receita para pagar menos tributos que o fermentado
tradicional. "Agora que os preços estão subindo, elas precisam oferecer
mais qualidade para deixar feliz o consumidor", diz Tsujita.
Porém Yoshiyuki Sodegawa, pesquisador do Instituto de Inovação Dentsu,
diz que o consumidor está preparado para descobrir se a oferta é apenas
uma estratégia, e não uma mudança real.
"A era da deflação deixou os consumidores muito atentos. Para muitos, encontrar um bom negócio é praticamente um hobby."
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