Quando chegou ao colégio católico DePaul para se integrar à turma dos
formandos de 2014, Di Wang olhou para uma figura de Jesus extenuado
pregado a um crucifixo de madeira no saguão. Ficou tão espantada que
exclamou: "Meus Deus, este colégio é católico!"
A estudante chinesa não chega a ser uma anomalia. Em toda parte nos
Estados Unidos, escolas católicas e de outras denominações cristãs estão
atraindo filhos de magnatas imobiliários, executivos de empresas
energéticas e funcionários governamentais chineses. As escolas fazem
esforços ativos para atrair esses alunos, mandando funcionários de
admissão para a China, contratando agências para produzir folhetos de
divulgação em chinês e criando páginas na internet com fotos de alunos
loiros praticando esportes e se divertindo com seus sorridentes colegas
chineses.
Os estudantes, alguns dos quais pagam cinco vezes mais que os alunos
locais, estão conferindo a essas escolas uma sensibilidade internacional
e as ajudando com suas finanças, muitas vezes em mau estado.
No colégio DePaul, 39 dos 625 alunos vêm da China. Além de fazer cursos
como química, história europeia, arte de estúdio e coro, eles podem
estudar teologia, presidir as reuniões dos clubes de serviço cristãos e
assistir à missa mensal, onde podem ir até o altar para receber uma
bênção durante a comunhão, mas não podem receber a hóstia, pois não são
batizados.
No colégio católico Marquette, em Michigan City, Indiana, 20 estudantes
chineses vivem numa casa vitoriana de tijolinhos e outra casa próxima
que foi reformada recentemente para acomodar o crescente programa
internacional da escola. Há 60 estudantes internacionais no colégio
católico Melbourne Central, em Cabo Canaveral, Flórida -quase 10% dos
alunos da escola. A maioria dos alunos estrangeiros é chinesa.
Os colégios não exigem que os alunos se convertam ao catolicismo. Mas,
disseram vários funcionários das escolas, eles precisam demonstrar
respeito durante as orações, matricular-se nos cursos obrigatórios de
teologia e cumprir as horas obrigatórias de serviço cristão. Isso pode
significar, por exemplo, ajudar a ensinar estudantes de baixa renda num
salão de igreja ou servir refeições aos pobres em refeitórios sociais.
No colégio católico John F. Kennedy, em Somers, Nova York, onde 9% dos
alunos vêm da China, o padre Mark Vaillancourt, diretor da escola, disse
que as mensalidades pagas pelos alunos estrangeiros lhe permitiram
modernizar os laboratórios de informática, concluir uma reforma do
ginásio de esportes, instalar iluminação com lâmpadas LED, reformar o
teto e incluir mais estudantes locais na lista dos bolsistas.
Vaillancourt disse que a mensalidade mais alta paga pelos alunos vindos
do exterior se justifica porque seus pais não participam de eventos de
levantamento de fundos nem contribuem para a escola de outras maneiras.
Também porque ele não crê que esses estudantes irão tornar-se alumni
ativos. Além de ajudar suas próprias escolas, disse o diretor, ele e
outros diretores de colégios católicos estão fomentando relações
positivas entre a igreja e os jovens chineses que terão participação
ativa no futuro.
Os pais chineses ricos não procuram tanto uma educação católica quanto
uma educação americana, para ajudar a preparar seus filhos para a
universidade nos EUA e para escapar do sistema educacional chinês,
descrito por muitos como redutivo e enviesado para os exames. Escolas
particulares não religiosas americanas também vêm buscando muitos alunos
na China nos últimos anos.
Jiacheng Wang, aluno do ensino médio na escola John F. Kennedy e natural
de Ningbo, disse que deixou a China para obter uma formação completa em
artes e ciências. Disse que a filiação religiosa da escola não foi
levada em conta em sua decisão de se matricular, mas que hoje ele sente
que as orações diárias feitas no colégio o acalmam. Hoje ele às vezes
ora sozinho. "Acredito na ciência", disse Wang. "Mas hoje já sou mais ou
menos 50% cristão. Comecei a acreditar nesta história de Deus."
Di Wang, que pretende fazer faculdade também nos EUA, diz que gostou de
aprender sobre a doutrina da igreja, que ela resume com as palavras:
"Faça o bem, evite o mal". Mas ela pretende continuar ateia. Mesmo
assim, hoje em dia ela reza de vez em quando. "Obrigado, Deus, por este
dia lindo", murmura.
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