As ilhas possuem
tudo o que se poderia querer de um destino turístico tropical: areia branca,
água turquesa e ventos marítimos. Mas elas só tomaram forma nos últimos meses e
são motivo de desavença entre a China e seus vizinhos.
A China vem
colocando areia sobre recifes e baixios, criando novas ilhas no arquipélago de
Spratly. Para autoridades estrangeiras, trata-se de um novo esforço para
expandir a presença chinesa no mar do Sul da China. Segundo elas, as ilhas
poderão conter grandes construções, inclusive residências e equipamentos de
vigilância, como radares.
A construção das
ilhas preocupa o Vietnã, as Filipinas e outros países do Sudeste Asiático que
reivindicam a soberania das ilhas Spratly. Desde abril, as Filipinas
registraram protestos junto à China contra o trabalho de aterramento realizado
em dois recifes. Recentemente, o presidente filipino, Benigno S. Aquino 3°,
criticou a movimentação de navios chineses que, segundo ele, podem estar
envolvidos na construção de ilhas em dois outros pontos.
Numa conferência realizada
em maio, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, repreendeu a China por
suas "atividades de aterramento marítimo em múltiplos pontos" no mar
do Sul da China.
Críticos dizem que
as novas ilhas vão permitir que a China instale mais equipamentos de vigilância
e estações de reabastecimento de embarcações do governo. Para alguns analistas,
os militares chineses enxergam sua presença nas ilhas Spratly como parte de uma
estratégia de longo prazo de projeção de poder no Pacífico ocidental.
Um fato que talvez
seja igualmente importante é que as novas ilhas podem permitir que a China
alegue ter uma zona econômica exclusiva que se estende por 200 milhas náuticas
em volta de cada ilha, algo definido na Convenção de Direito Marítimo das
Nações Unidas.
"Ao criar a
aparência de uma ilha, a China pode estar querendo reforçar o mérito de suas
reivindicações", opinou o cientista político Taylor Fravel, do
Massachusetts Institute of Technology.
A China alega que
tem o direito de construir nas ilhas Spratly porque elas são território chinês.
"A China detém a soberania indiscutível das ilhas Nansha", disse
recentemente uma porta-voz do Ministério do Exterior, Hua Chunying, usando o
nome chinês do arquipélago. As autoridades chinesas também afirmam que o Vietnã
e as Filipinas já construíram mais estruturas que a China na região em disputa.
Mas analistas
observam que outros países não construíram ilhas e que, de modo geral, ergueram
suas estruturas antes de 2002, quando a China e nove países do Sudeste Asiático
firmaram um pacto que prevê que as partes devem "autolimitar
atividades" e não devem habitar qualquer área terrestre atualmente
desabitada.
Um funcionário
ocidental disse que, desde janeiro, a China vem construindo três ou quatro
ilhas, projetadas para ter entre oito e 16 hectares cada.
Segundo ele, parece
haver pelo menos uma instalação destinada a uso militar, e as novas ilhas
poderão ser usadas para o reabastecimento de navios, incluindo embarcações
chinesas de patrulha marítima.
A China acendeu
alarmes na região e em Washington em maio, quando uma petrolífera estatal
posicionou uma plataforma exploratória mais ao norte no mar do Sul da China, ao
lado das disputadas ilhas Paracel, perto do Vietnã. A plataforma suscitou
desentendimentos diplomáticos e violentos protestos contra a China no Vietnã.
Autoridades dizem
que o recife Johnson South, que a China tomou em 1988 depois de matar 70
soldados e marinheiros vietnamitas em uma escaramuça, é o local com mais
construções até o momento. "Ela já é a ilha Johnson, não é mais o recife
Johnson", disse o funcionário ocidental. Autoridades filipinas divulgaram
em maio fotos aéreas mostrando estruturas e um grande navio ali.
Le Hai Binh, do
Ministério das Relações Exteriores vietnamita, disse que o Vietnã tem soberania
sobre todo o arquipélago Spratly e que a "China vem implementando
ilegalmente atividades de expansão e construção" no recife Johnson e
outros pontos reivindicados pelo Vietnã.
O arquipélago
Spratly abrange centenas de recifes, pedras, bancos de areia e atóis que se
espalhavam por uma área de 41 mil quilômetros quadrados. Seis governos
reivindicam partes da área. China e Vietnã reivindicam as ilhas Paracel, na
área onde ainda se encontra a plataforma exploratória chinesa.
As duas áreas
possuem pesca em abundância e algumas reservas de petróleo e gás.
O analista
australiano Carlyle A. Thayer disse ainda não ter visto sinais de que a China
esteja construindo grandes instalações militares ou uma pista de pouso nas
novas ilhas.
Mas ele destacou:
"Nada disso é um incidente isolado. Parece ser um novo plano para afirmar
a soberania chinesa".
"Não parece ser algo que vá desaparecer, no
entanto. Ainda deve alimentar muitas tensões."
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