quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Mapa de Exército da China incorpora áreas em disputa
Publicação inclui regiões marítimas do sul do país e provoca protestos da Índia e de outros quatro vizinhos
Incidente eleva alerta na Ásia, já preocupada com a expansão militar de Pequim e a corrida armamentista na região
Incidente eleva alerta na Ásia, já preocupada com a expansão militar de Pequim e a corrida armamentista na região
MARCELO NINIO DE PEQUIM
A notícia de que o Exército da China está distribuindo a seus soldados
uma nova versão do mapa do país, com traçado mais amplo das fronteiras
nacionais, intensificou o alerta nos países vizinhos.
A publicação do mapa, que foi revisado depois de 30 anos, foi anunciada
em julho pelo jornal oficial do Exército da Libertação Popular.
Segundo militares, esta versão é "mais precisa" e já teve mais de 15 milhões de cópias entregues até 9 de julho.
Poucos dias depois, a principal agência de notícias da Índia (PTI, sigla
em inglês) publicou reportagem dizendo que o novo mapa incorpora áreas
de fronteira em disputa com outros países.
O artigo foi reproduzido pela imprensa indiana. A repercussão provocou
mal-estar e levou Nova Déli a emitir um protesto contra Pequim.
Em encontro à margem da cúpula do grupo Brics em Fortaleza, em julho, o
primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, enfatizou ao presidente
chinês, Xi Jinping, a necessidade de resolver a crise.
China e Índia têm uma fronteira comum de mais de 4.000 quilômetros.
Disputas territoriais que já levaram a uma guerra, em 1962, continuam
sendo motivo de tensão entre os dois países mais populosos do mundo.
O potencial politicamente explosivo dos mapas chineses já havia se manifestado em outras ocasiões.
Em novembro passado, Japão, Taiwan e Coreia do Sul declararam sua
irritação com a criação de uma zona de defesa aérea, que incorporava
territórios disputados no mar do Leste da China.
Há dois meses, foi a vez de uma editora de Hunan, província na região
central da China, divulgar um mapa em que inclui o Estado indiano de
Arunachal Pradesh no território chinês e outras dez ilhas no mar do Sul
da China.
Trata-se de uma expansão em relação à controvertida "linha de nove
traços", que demarca as reivindicações marítimas chinesas. Feita em
1947, é usada como base para a política territorial adotada por Pequim.
Ricas em recursos naturais, as águas reivindicadas pela China são
disputadas com pelo menos quatro vizinhos: Vietnã, Filipinas, Brunei e
Malásia.
Em maio, as tensões entre China e Vietnã aumentaram depois que uma
empresa estatal chinesa instalou uma plataforma de petróleo em águas que
estão sob disputa.
Após várias escaramuças no mar, protestos violentos no Vietnã deixaram
pelo menos três chineses mortos e causaram prejuízos a centenas de
empresas chinesas.
Nesta semana, o governo vietnamita enviou uma delegação para tentar reduzir as tensões entre os dois países comunistas.
Outro motivo de preocupação dos vizinhos é o aumento da força militar
chinesa. No ano passado, o país lançou seu primeiro porta-aviões e, em
janeiro, testou mísseis nucleares, abrindo caminho para uma corrida
armamentista no Extremo Oriente.
Além dos chineses, o Japão e a Coreia do Sul também ampliaram seu gasto
militar para proteger suas áreas marítimas. No caso japonês, foi a maior
modernização e expansão desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
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