Quase 15 anos depois do início da "invasão" japonesa, o mercado de
histórias em quadrinhos no Brasil hoje está completamente miscigenado.
Nas bancas, livrarias e nos estandes da Bienal do Livro de São Paulo,
que chega ao fim neste domingo (31), os mangás aparecem em pé de
igualdade com os tradicionais gibis de super-heróis ou mesmo clássicos
brasileiros como a Turma da Mônica.
"O mangá está cada vez mais
presente na vida do leitor", afirma Luciene Araújo, representante da
editora Panini, que lança no Brasil os quadrinhos de heróis da Marvel e
da DC e também HQs japonesas como "Naruto" e "Berserk". A editora
aproveitou a Bienal para apresentar aos fãs o lançamento "Pokémon: Black
& White", que há anos era aguardado pelos leitores em território
nacional. Em poucos dias, as revistas esgotaram no estande da Panini.
Na tenda da Comix, uma das principais lojas dedicada aos quadrinhos em
São Paulo, os mangás já representam 50% dos títulos comercializados,
afirma o diretor comercial Ricardo Rodrigues. "O público jovem parece
ter mais vontade de assimilá-lo", argumenta Rodrigues. "A 'Turma da
Mônica Jovem' tem uma procura tremenda, muito maior do que pela 'Turma
da Mônica' clássica", exemplifica Rodrigues, citando a versão atualizada
dos personagens de Mauricio de Sousa, feita no estilo dos quadrinhos
japoneses, e publicada pela mesma Panini há seis anos. Há também versões
em mangá para heróis americanos como Batman e até para o romance
"Helena", de Machado de Assis.
Um dos segredos para o crescimento e consolidação do mangá no Brasil,
aliás, é justamente a variedade de propostas disponíveis atualmente no
mercado - são mais de 40 títulos novos em bancas por mês. "Existem
mangás shounens (para meninos), seinens (para jovens adultos, que
cresceu muito nos últimos dois anos), shoujos (para meninas) e até yaois
(para meninas, mas que têm relacionamentos afetivos entre garotos). É
mais fácil o leitor encontrar um mangá direcionado para sua idade agora
do que em 2000", explica Marcelo Del Greco, editor da Nova Sampa, outra
casa que aposta no segmento.
Muitos desses leitores são de
gerações que começaram a se interessar por animes e quadrinhos japoneses
após os sucessos televisivos de séries como "Os Cavaleiros do Zodíaco" e
o próprio "Pokémon", nos anos 90. Isso criou uma situação favorável
para que novas editoras surgissem e para que antigas casas olhassem para
o segmento.
Mais recentemente, com a explosão do gênero no
mundo e a consequente exposição de animes (os desenhos animados
japoneses) na internet, o mercado cresceu ainda mais, preenchendo uma
"demanda reprimida", explica Cassius Medauar, editor da JBC, que
participará de uma conversa sobre o tema com o jornalista e autor do
livro "300 Mangás", nesta sexta-feira, às 19h, na Bienal.
Para Medauar, a presença do mangá hoje é tamanha que se torna difícil
dizer exatamente o que é o "quadrinho tradicional". "Se a referência for
só a quadrinhos de 'heróis', dá para dizer que hoje há um empate
técnico. Mas acho que não se deve comparar, e sim lembrar que, no fim,
tudo são histórias em quadrinhos. O importante é o mercado se fortalecer
como um todo", defende o editor no Brasil de títulos como "Sailor
Moon", "Rurouni Kenshin" e "Soul Eater".
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