Antes de chegar à capital francesa, a dona de casa chinesa Wu Shuyun,
56, imaginava a cidade como o cenário perfeito de uma história de amor,
visualizando-se como princesa cercada de parisienses elegantes,
vestindo modelitos Chanel.
Em vez disso, disse Wu, vinda de Kunming, no sul da China, ela se chocou
com as pontas de cigarros e fezes de cachorros, a atitude brincalhona e
grosseira dos parisienses e as demonstrações de afeto em locais
públicos.
Embora amigos a tivessem avisado sobre ladrões, ela contou que se
espantou quando um membro de seu grupo foi assaltado num vagão do metrô,
sob o olhar de outros passageiros.
"Nos diziam que 'Deus vive na França'", comentou Wu recentemente, após
duas semanas em Paris em que passou pela torre Eiffel e pela elegante
loja de departamentos Galeries Lafayette.
"Quando notei que os parisienses são indiferentes, decidi aproveitar a viagem ao máximo, mas nunca mais voltar."
Profissionais do setor de turismo chinês em Paris dizem que mais e mais
turistas chineses -munidos de muito dinheiro, normalmente incapazes de
falar francês e um pouco ingênuos quanto aos costumes ocidentais- são
vítimas de ladrões porque são facilmente identificáveis como asiáticos.
Recentemente o governo chinês cogitou em mandar policiais chineses a
Paris. A capital francesa é o maior destino turístico europeu da classe
média e dos milionários, segundo a Federação Europeia do Turismo Chinês.
O Escritório de Turismo de Paris informou que em 2013 quase 1 milhão de
chineses foi à cidade, gastando mais de € 1 bilhão (R$ 3,1 bilhões) com
relógios Cartier, refeições em restaurantes dotados de estrelas Michelin
e mais.
O dispêndio foi maior que o de japoneses e americanos. Agora, porém, em
meio às denúncias sobre assaltos a turistas, Paris estaria perdendo sua
atratividade.
O escritório de turismo da cidade disse que o número de chineses em
Paris subiu 21% no ano passado, mas que o crescimento caiu quase pela
metade em 2014.
Muitos chineses já estavam com os nervos à flor da pele depois de 23
turistas serem atacados, em março do ano passado, numa área periférica
da cidade.
O líder do grupo de turistas se feriu, e os ladrões fugiram com € 7.500
(R$ 23.025), passaportes e passagens aéreas. Após estudantes chineses de
produção de vinho serem assaltados em Bordeaux, três meses depois,
Pequim exigiu uma reação da França.
Thomas Deschamps, diretor de pesquisas do Escritório de Turismo de
Paris, disse que o choque cultural é especialmente forte entre turistas
asiáticos.
"Eles assistem a filmes como 'Amélie Poulain' e pensam que todos andam
com bolsas Louis Vuitton e usam perfumes da Dior. Não sabem nada sobre a
periferia, os garçons explorados, as partes mais violentas da cidade.
Paris não é um museu."
Deschamps disse ainda que a prefeitura intensificou a segurança em
locais turísticos, além de ter distribuído avisos em mandarim sobre
furtos. Mas os próprios chineses reconhecem sua parcela de culpa.
"Os chineses estão acostumados a cuspir no chão, a estalar os dedos ou
até gritar para chamar um funcionário", disse Pierre Shi, da Federação
Europeia de Turismo Chinês. "Se você fizer isso com um garçom francês,
ele o ignorará ainda mais."
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