O modesto jazigo familiar de uma dinastia militar fica na encosta de uma colina no município de Changshou.
Em uma lápide está entalhado o nome de Zhang Zhen, patriarca da família,
que completaria cem anos em outubro e foi um dos generais mais
influentes no Exército Popular de Libertação. Abaixo estão os nomes de
seus filhos.
Um deles assegura que os soldados que controlam as armas nucleares da China se mantenham leais ao Partido Comunista (PC).
Outro, Zhang Lianyang, foi general antes de se tornar homem de negócios e é citado ao lado de sua mulher, Chen Xiaoying.
O casal também comanda a Citic 21CN, empresa de telemarketing e dados
farmacêuticos agora controlada pelo grupo chinês de comércio eletrônico
Alibaba e pela Yunfeng Capital, empresa de private equity parcialmente
pertencente ao fundador e diretor-executivo do Alibaba, Jack Ma.
Chen é vice-diretora-executiva da Citic 21CN, da qual seu marido, Zhang,
foi diretor até abril. O Alibaba é um dos maiores casos de êxito de uma
empresa privada na China, onde estatais geralmente dominavam a
economia.
O grupo começou a comercializar suas ações em Nova York no dia 19, com
um salto de 36% em relação ao valor inicial logo no primeiro dia. Com a
valorização, a empresa foi avaliada em US$ 228,5 bilhões (R$ 543,8
bilhões).
Desde que o Alibaba divulgou que aplicaria US$ 170 milhões (R$ 405
milhões) em ações da Citic 21CN e assumiria 54,3% da empresa, as ações
de Chen passaram a valer US$ 500 milhões (R$ 1,19 bilhão), um dinheiro
caído do céu conforme foi noticiado.
Todavia, as conexões familiares por trás da transação não eram
conhecidas. O enriquecimento da elite política com a vendas de ações e
aquisições de empresas tem gerado protestos na China, onde funcionários
públicos não precisam divulgar seu patrimônio.
Não há evidências de que o Alibaba soubesse dessas conexões. A empresa
disse que comprou a Citic 21CN devido a sua "vasta base de dados de
produtos farmacêuticos", como um esforço para instituir padrões de
tecnologia para informações médicas e de saúde.
Procurado antes da oferta de ações em Nova York, o Alibaba se recusou a
comentar, citando restrições vigentes nesse período. Anteriormente,
porém, a empresa afirmou que confia no mercado para conduzir seus
negócios.
"Para quem está de fora e aponta as várias 'ligações suspeitas' da
empresa, afirmamos que nunca tivemos isso antes nem agora, e não
precisaremos disso no futuro", declarou a empresa em julho.
O comunicado foi feito após um relato de que empresas ligadas a líderes
do PC tinham participação no Alibaba, incluindo a New Horizon Capital,
que, dentre os fundadores, está o filho do ex-premiê Wen Jiabao. Chen
não deu retorno a solicitações para entrevistá-la.
Até abril, a maior acionista da Citic 21CN era a estatal Citic Group, no
qual trabalham muitos membros da elite. Chen é a segunda figura mais
poderosa.
O presidente da Citic 21CN até abril era Wang Jun, ex-presidente do
Citic Group. Seu pai foi vice-presidente da China e um dos responsáveis
pelo Massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989.
Como parte de seu cargo, Wang tinha direito a opções, o que ele exerceu
em março para comprar 30 milhões de ações a um preço abaixo do valor de
mercado.
Executivos do mundo inteiro estabelecem laços com políticos influentes.
Caso sejam encobertos, porém, esses laços podem levantar dúvidas sobre a
transparência e as operações de uma empresa.
No ano passado, o Alibaba gastou mais de US$ 4 bilhões (R$ 9,5 bilhões)
em aquisições, incluindo um time de futebol. Essa agressividade suscitou
dúvidas sobre se o Alibaba preda as empresas.
Fundada em 1998, a Citic 21CN lucra principalmente com um serviço de
telemarketing terceirizado. Todavia, o Alibaba declarou ter interesse
pelo ramo farmacêutico.
A Citic 21CN não declara lucros desde 2006, mas a divisão farmacêutica
teve receita de US$ 7,4 milhões (R$ 17,6 milhões) em 2013.
"Antes do investimento do Alibaba na Citic 21, a empresa parecia
pequena, não lucrativa e sem perspectivas de crescimento", comentou o
analista Jeff Dorr.
Poucos dias antes do anúncio do acordo do Alibaba com a Citic 21CN, Chen
comprou uma casa em Hong Kong por US$ 68,4 milhões (R$ 162,8 milhões),
uma das dez transações imobiliárias mais vultosas de todos os tempos no
país.
De volta a Changshou, parentes dizem que o nome de Chen foi gravado na
lápide muito depois dos outros. Ela entrou no lugar da primeira mulher
do general Zhang, que se divorciou dele.
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