Na China, 10 de setembro é Dia do Professor. A comemoração anual,
instaurada em 1985, celebra a contribuição dos educadores para a
sociedade chinesa, e costumava ser o momento dos estudantes expressarem
sua gratidão por meio de cartões e flores. Mais recentemente, porém, a
data ganhou novos contornos e tornou-se comum os pais comprarem
presentes extravagantes para os mestres de seus filhos, como iPads,
cosméticos de luxo, bolsas de design e vale-compras opulentos.
Esses itens raramente refletem a sincera gratidão dos
estudantes. Contrariamente, fazem parte da grande competição que se
tornou a educação na China. E ser o preferido do professor é uma das
facetas desse jogo.
Alguns pais com carteiras recheadas acreditam que um bom
presente pode ajudar seus pequenos a obterem sucesso escolar - o que
pode ser caracterizado como propina. Essas gratificações também
perpetuam a desigualdade: nem todos os pais podem arcar com presentes
desse porte, e um sistema que recompensa a riqueza com mais oportunidade
é profundamente problemático.
A gratificação escusa de professores, contudo, está com os
dias contados. Em 2012, o presidente condenou essa prática nas escolas
durante uma campanha anticorrupção - durante a qual também recriminou
outras atitudes como a realização de banquetes, a fabricação de tortas
da lua (típico doce chinês) em ouro maciço e o consumo de bebidas
alcoólicas caras. No ano passado, o governo de Xi Jinping elaborou um
projeto de lei que propõe a mudança da comemoração do Dia do Professor
para 28 de setembro, considerado o aniversário de Confúcio.
Há alguns dias, o Ministro da Educação aproveitou a
proximidade do 10 de setembro e proibiu as gratificações extravagantes
em todas as instituições educacionais do país. Nos anos anteriores,
diversos sites vendiam vale-compras para o Dia do Professor de até mil
yuans (US$ 160). Este ano, os presentes ofertados online são menores e
mais baratos, como marcadores de livros e porta-canetas.
Os estudantes de uma escola de ensino fundamental com quem
conversei na semana passada pretendiam homenagear seus professores com
presentes simples; um deles planejava até fazer ele mesmo uma lembrança,
pois "o esforço pessoal é o que conta". Outros falaram em cartões e
flores, ou ainda em dizer um sonoro "feliz Dia do Professor" quando se
curvassem ao mestre no início da aula (na China, as crianças inclinam-se
para saudar o professor no início de todas as aulas).
Uma professora de inglês que trabalha há dez anos nessa mesma
escola disse que guarda centenas de lembranças dos estudantes em casa,
"todas pequenas e singelas". A coisa mais estranha que recebeu nesse
período foi uma calcinha rosa, conta ela, sorrindo.
Segundo o jornal China Daily, o próprio Xi aceitou um
presente de um estudante às vésperas do Dia do Professor, quando
visitava a Universidade de Pequim: um chapéu uigur. Mas o verdadeiro
presente de Xi é muito maior: apesar de muitos pais terem perdido a
oportunidade de influenciar o desempenho escolar dos filhos, sua
campanha anticorrupção ganhou popularidade entre muitos chineses.
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