As ruínas de Nimrud, outrora capital do Império Assírio, sobreviveram à
pilhagem de seus inimigos durante o século 7º a.C e, enterradas pelo
descaso, resistiram à passagem dos séculos. Até a chegada das
britadeiras dos militantes do Estado Islâmico.
Essa organização terrorista tem levado a cabo, nas últimas semanas, uma
violenta campanha de destruição do patrimônio histórico da região, onde
impérios se empilharam uns sobre os outros e deixaram vestígios
fundamentais à compreensão da Antiguidade.
Além de Nimrud, sofreram locais como Mossul, Hatra e Khorsabad.
A justificativa da facção fundamentalista, que controla áreas na Síria e
no Iraque, é de que tais artefatos, anteriores à chegada da religião
islâmica à região, são alvo de idolatria. Os objetos seriam condenados
por essa interpretação rígida do islã.
"Pense em elementos essenciais à trajetória da humanidade", diz à Folha
Marcelo Rede, professor de história antiga na USP. "A domesticação de
animais, o aparecimento da agricultura, os primeiros textos. Destruir
isso é condenar parte do passado ao esquecimento."
Rede faz parte de um laboratório francês que atua na região. Em 2014, a
França não permitiu a viagem de uma equipe de arqueólogos ao Iraque,
após a escalada da violência. "Tive muito medo, e fiquei bem contente
por amigos que conheço há quase 20 anos não terem arriscado a vida ali",
diz.
Para o professor da USP, o Estado Islâmico usa a destruição do
patrimônio como "propaganda de guerra". "Os locais destruídos estão no
imaginário de muitos, muitas vezes porque são citados na Bíblia ou por
autores clássicos, como Heródoto", diz.
O norte do Iraque é especificamente rico nesses resquícios
arqueológicos. "A má coincidência é que essa região, que foi o coração
da Assíria, está sob domínio do Estado Islâmico."
As autoridades ainda investigam a dimensão do dano. "Estátuas foram
esmigalhadas a marretadas. Para esse tipo de dilapidação, dificilmente
haverá possibilidade de restauração", diz Rede.
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