Os líderes do Partido Comunista Chinês temem que o dalai-lama não
tenha uma vida após a morte. As autoridades estão tão preocupadas que
elas já advertiram o líder religioso várias vezes de que ele deve
reencarnar, e sob suas condições.
As tensões sobre o que acontecerá quando o 14° dalai-lama, que está com
79 anos, morrer, e particularmente sobre quem decide quem o sucederá
como líder mais destacado do budismo tibetano, intensificaram-se na
reunião anual dos legisladores chineses em Pequim, recentemente.
As autoridades defenderam o argumento de que o governo comunista é o
guardião da sucessão do dalai-lama, decidida após um intricado processo
no qual os lamas (monges graduados) visitam um lago sagrado e
interpretam sonhos.
Funcionários do PC se irritaram com os rumores de que o dalai-lama
poderia encerrar sua linhagem espiritual e não reencarnar. Isso
atrapalharia os planos do governo chinês de elaborar uma sucessão que
produziria um 15° dalai-lama que aceita a presença da China e suas
políticas no Tibete.
Zhu Weiqun, autoridade do Partido Comunista que há muito tempo lida com
questões tibetanas, disse a repórteres em Pequim que o dalai-lama não
tem poder de decisão sobre sua reencarnação.
Isso caberia em última instância ao governo chinês, disse ele, segundo
uma transcrição de seus comentários no site do "Diário do Povo", o
principal jornal do partido.
"O poder de tomar decisões sobre a reencarnação do dalai-lama, e sobre o
fim ou a sobrevivência dessa linhagem, está com o governo central da
China", disse Zhu.
Zhu acusou o dalai-lama de desrespeitar tradições sagradas. "Em termos
religiosos, é uma traição à sucessão dos dalai-lamas no budismo
tibetano", disse ele.
O ex-governador da região autônoma do Tibete, Padma Choling, disse que o
dalai-lama havia profanado a fé budista tibetana ao sugerir que ele
poderia não reencarnar.
A ideia das autoridades do Partido Comunista, que defendem os preceitos
da reencarnação e atiram acusações de heresia contra o líder tibetano,
poderia fazer Karl Marx revirar em sua tumba. O partido está
comprometido com o ateísmo em suas fileiras, embora aceite a crença
religiosa no público.
Lobsang Sangay, o primeiro-ministro do governo tibetano no exílio,
disse: "É como se Fidel Castro dissesse: 'Vou escolher o próximo papa e
todos os católicos terão de aceitar'. É ridículo".
Mas a disputa tem implicações profundas para Pequim e seu poder nas
áreas tibetanas, onde os protestos puseram em foco um descontentamento
fervilhante. Líderes do partido prefeririam se inserir discretamente em
um processo de sucessão que encerra o pleno peso da tradição tibetana,
ao instalar um novo dalai-lama por decreto.
Por isso, se o atual líder tibetano usar seu poder para anular o
processo histórico de seleção, a China enfrentará a perspectiva de um
constante descontentamento após sua morte.
Seria basicamente o último ato de desafio do dalai-lama, que fará 80 anos em julho e vive em exílio desde 1959.
Nenhum comentário:
Postar um comentário