As "infratoras" geralmente aparecem ao anoitecer em parques ou praças
públicas, onde dançam ao som de sucessos pop chineses, com movimentos
sincronizados.
Nos últimos anos, esses bandos de "vovós dançantes" vêm invadindo
bairros tranquilos em todo o país, às vezes provocando reações iradas de
moradores que reclamam da música alta.
Em 2013 um morador de Pequim que tentava afugentar aposentadas que
dançavam perto de sua casa foi detido depois de dar um tiro de
espingarda no ar e atacar o grupo com três mastins tibetanos. No mesmo
ano, em Wuhan, vizinhos irados jogaram fezes dos andares superiores de
um prédio sobre um grupo de mulheres grisalhas que dançavam na rua.
No ano passado, em Wenzhou, moradores fizeram uma "vaquinha" de US$
42.300 para comprar um sistema de som que berrava avisos às dançarinas
sobre a violação das leis de poluição sonora.
Diante da situação, o governo chinês começou a regulamentar as danças públicas.
Segundo a mídia estatal, as normas visam fomentar a dança "saudável,
científica, abrangente e agradável ao olhar". Para isso, um comitê de
especialistas desenvolveu 12 danças que serão ensinadas em todo o país.
"As danças em praças públicas representam o aspecto coletivo da cultura
chinesa, mas agora parece que o entusiasmo excessivo das participantes
gerou efeitos nocivos, como brigas sobre o volume do som e os espaços
utilizados", disse Liu Guoyong, da Administração Geral dos Esportes, ao
jornal "China Daily". "Por isso precisamos regulamentar a atividade,
impondo padrões nacionais."
Em Pequim, onde dezenas de milhares de mulheres lotam parques e praças
depois do jantar, a reação à notícia foi recebida com desdém. "É
ridículo", falou Xiao Kai, 50, descansando por um instante no meio da
dança. "Por que o governo precisa se envolver?"
A intervenção do governo ocorre em um momento em que o Partido Comunista
se esforça para impor sua visão da cultura popular, do discurso
intelectual e do comportamento cívico sobre o país de 1,3 bilhão de
habitantes.
Embora a mídia chinesa frequentemente zombe das "vovós dançantes", as
novas normas parecem ter sensibilizado alguns setores. Um comentário
postado pelo "Xinmin Evening News" dizia: "A maior tragédia não é a
quadrilha dançada pelas vovós, mas o fato de vovós não terem nada a
fazer senão dançar a quadrilha".
As danças públicas começaram na China na década de 1990.
As fileiras de dançarinas foram engrossadas pela legião crescente de
mulheres obrigadas pelo governo a se aposentar na metade da casa dos 50
anos.
Numa noite recente, numa rodovia conhecida como Segundo Anel Rodoviário,
havia um grupo de valsa cujas participantes dançavam ao som de canções
popularizadas durante a Guerra da Coreia.
Questionada sobre as reclamações devido ao barulho, uma dançarina de 58
anos riu e fez alguns passinhos. "Quanto mais alta a música, maior a
diversão."
Muitas mulheres disseram que suas vidas mudaram depois que elas
começaram a dançar. Yu Xiuhya, 64, ex-operária de uma fábrica de papel,
contou: "Antigamente eu perdia a paciência com qualquer coisa, mas agora
nada me incomoda. Quando danço, esqueço das preocupações. E agora
consigo escalar montanhas sem me cansar."
Alguns críticos dizem que as danças desenvolvidas pelo governo são muito
difíceis. Um jornal sugeriu que as danças públicas podem ser perigosas
se praticadas por mais de uma hora.
Wang He, 47, riu da sugestão de que dançar possa fazer mal à saúde. "É muito melhor que ficar sentada em casa, vendo televisão."
Nenhum comentário:
Postar um comentário