sábado, 4 de abril de 2015


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Enquanto tentam a duras penas se posicionar em meio ao caos que domina boa parte do Oriente Médio, os Estados Unidos começam agora a se envolver num outro conflito.
O governo Obama está apoiando a campanha militar saudita contra os rebeldes iemenitas da milícia xiita houthi, patrocinados pelo Irã, apesar dos riscos associados a uma escalada no conflito regional com a República Islâmica.
No Iraque e na Síria, porém, os Estados Unidos estão do mesmo lado que o governo de Teerã na luta contra a facção Estado Islâmico -embora os dois países se acotovelem para assumir uma posição de liderança na operação-, realizando ataques aéreos em áreas dominadas pelos terroristas, como Tikrit.
As negociações nucleares do governo Obama com o Irã estão alarmando a Arábia Saudita e Israel.
Em resposta, os sauditas, o Egito, a Jordânia e a maioria das monarquias do golfo Pérsico decidiram criar uma força militar conjunta para combater tanto a influência iraniana quanto o extremismo islâmico, um gesto que muitos analistas atribuem à desconfiança causada pelo diálogo entre Washington e Teerã.
Os Estados Unidos se veem na situação de tentar sustentar uma colcha de retalhos cada vez maior de campos de batalha e alianças turbulentas, o que Tamara Cofman Wittes, pesquisadora do Instituto Brookings, em Washington, e ex-funcionária do Departamento de Estado, descreve como um quebra-cabeça.
"Esse quebra-cabeça reflete a falta de uma política coerente por parte do governo ou simplesmente a complexidade das disputas de poder na região? Bem, ambas as coisas provavelmente são verdadeiras", disse ela.
Em países árabes como Egito, Síria, Iraque, Iêmen e Líbia, regimes autoritários e ineficazes perderam credibilidade, após resistirem por meio século, porque deixaram de atender às necessidades dos seus cidadãos. Mas nenhum novo modelo surgiu.
Em vez disso, atores locais e potências regionais estão travando escaramuças em toda a região, competindo para moldar uma nova ordem.
"Estamos tentando vencer o EI -e há complicações", disse um alto funcionário do governo Obama, sob anonimato. "Temos um parceiro que está desmoronando no Iêmen, e estamos tentando apoiá-lo. E estamos tentando chegar a um acordo nuclear com o Irã. Isso tudo é parte de alguma grande estratégia? Infelizmente, o mundo é que vai decidir."
A campanha militar liderada pela Arábia Saudita contra os houthis motivou temores de que estaria em gestação uma guerra "terceirizada" entre as grandes potências do Oriente Médio.
Porém, não está claro como, ou se, o Irã vai reagir diretamente a uma campanha liderada por uma coalizão de nações sunitas contra a milícia xiita houthi. Alguns especialistas em Oriente Médio advertem que os rebeldes houthis não são propriamente títeres de Teerã, e que o Irã durante anos praticamente ignorou as lutas do grupo no Iêmen.
"Os sauditas e os sunitas transformaram isso numa questão sectária", disse Stephen Seche, ex-embaixador americano no Iêmen. "Essa campanha militar é o mundo sunita dizendo ao Irã: saia do nosso quintal."
Autoridades sauditas afirmam que o Irã orquestrou o avanço militar da milícia houthi para poder assim estender sua influência a outra capital do Oriente Médio e desestabilizar fronteira sul da Arábia Saudita. Adel al Jubeir, embaixador saudita em Washington, disse a jornalistas que não há provas de que agentes da Guarda Revolucionária iraniana e combatentes do Hezbollah tivessem se incorporado aos houthis.
Leslie Campbell, diretor regional dos programas do Oriente Médio e do Norte da África do Instituto Democrático Nacional, ONG que promove causas democráticas, disse que é difícil ignorar a ideia de que a ofensiva saudita no Iêmen seria em parte uma mensagem aos EUA num momento em que Washington negocia com o Irã e encontra, até certo ponto, uma causa em comum com as milícias xiitas pró-iranianas no Iraque.
A mensagem, segundo ele, é que "se vocês querem ficar amigos do Irã, vão em frente -isto é o que vocês vão arranjar".
"Os desafios para a nossa segurança nacional são graves, e conseguimos diagnosticar as razões por trás disso", afirmou o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, sem especificar quais seriam tais razões.
O governo Obama até recentemente citava o Iêmen como um modelo bem-sucedido no contraterrorismo, mas o governo pró-americano de Sanaa ruiu.
No Iêmen, na Síria, no Iraque e em outros países, o governo Obama fala como se estivesse patrocinando ordeiras transições rumo à solidificação das instituições, mas suas ações na verdade estão ajudando a desmantelar os Estados centrais, disse o pesquisador Peter Harling, da ONG International Crisis Group, que tem sede em Bruxelas e Washington.
Em todos esses casos, atores locais, como o Estado Islâmico ou a milícia houthi, buscaram ocupar um vazio de poder, mas sem terem credibilidade nem recursos para unificar e governar.
Já Washington, segundo Harling, em todos esses casos insistiu na ficção de que o ator local favorecido pelos EUA tinha chances reais de reconstruir um Estado de forma ordeira -fossem eles os rebeldes moderados na Síria, o gabinete dominado pelos xiitas em Bagdá ou o governo do presidente Abdo Rabbo Mansur Hadi no Iêmen.
Alguns especialistas consideram que é impossível para Washington manter atualmente uma política abrangente no Oriente Médio. "Eu estaria mais preocupada se tivéssemos alguma política excessivamente rígida", disse Barbara Bodine, também ex-embaixadora dos EUA no Iêmen.
"É confuso. É contraditório. Assim é a política externa."

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