O cartel internacional de produtores de petróleo há anos tem a mesma
estratégia. Quando o mercado é desfavorável, o grupo corta a produção
para aumentar os preços.
Mas a Arábia Saudita tem uma nova agenda. Hoje o país está menos
preocupado com o preço de petróleo cru nos mercados globais e mais com
produzir combustível para sua economia em expansão.
A mudança está invertendo as dinâmicas tradicionais do mercado que influenciaram a direção do preço do petróleo por décadas.
A Arábia Saudita, de longe o maior produtor na Organização de Países
Exportadores de Petróleo (Opep), vem bombeando cada vez mais barris. Sua
produção diária em março e abril quase se equiparou ao recorde
alcançado em 1980, quando os preços estavam em alta. Os aliados do país,
Kuwait e Emirados Árabes Unidos, também estão perfurando em índices
recordes, enquanto o Iraque tenta aumentar sua produção. Até o Irã
pretende desenvolver novos campos de petróleo.
A pressão aguda para cortar a produção também terminou: depois de uma
queda acentuada no ano passado, os preços praticamente se estabilizaram
em mais de US$ 60 o barril.
"Não haverá cortes na produção", disse René G. Ortiz, do Equador, que já
participou da Opep. "Cada país, especialmente os sauditas e as outras
monarquias do Golfo, vai proteger sua parcela de mercado e ampliá-la o
máximo possível."
Durante décadas, a Arábia Saudita foi a força básica que fez da Opep o
produtor determinante nos mercados globais, conhecido como swing, ou
oscilante -limitando sua produção conforme a demanda do mercado, para
mantê-lo em equilíbrio.
A produção de petróleo nos EUA quase duplicou nos últimos seis anos,
reduzindo as importações da Arábia Saudita e de outros países da Opep. A
situação obrigou os produtores a endurecerem a concorrência na Ásia com
uma oferta que antes inundava o mercado americano.
A Arábia Saudita também precisa se concentrar em necessidades domésticas
maiores e mais diversificadas. Conforme a população cresceu e a classe
média se expandiu, o consumo disparou nos últimos anos.
A Arábia Saudita vem procurando negócios com margem de retorno mais
alta, como refinarias e petroquímicas. O país tem uma nova joint venture
de US$ 22 bilhões com a Dow Chemical e várias novas refinarias que
custam US$ 12 bilhões cada uma.
Especialistas sauditas dizem que a política do petróleo é cada vez mais
definida por jovens tecnocratas que rodeiam o novo rei Salman, que
chegou ao trono em janeiro. A nova liderança ainda dá ênfase ao preço do
petróleo cru, mas também leva em conta que cortes na produção podem
desacelerar a economia saudita e prejudicar o mercado de trabalho.
"A Arábia Saudita ainda está disposta a fazer o papel de swing e a jogar
com toda a economia doméstica, refinarias, usinas de energia,
dessalinização, petroquímica, só para cumprir as expectativas dos
produtores da Opep ou não Opep?", disse Sadad Ibrahim al-Husseini,
ex-vice-presidente da Aramco, a companhia de petróleo estatal saudita.
"A resposta é não, obviamente não."
O consumo de energia na Arábia Saudita cresce mais depressa do que em
quase qualquer outro país, a uma média de 6% ao ano na última década. O
petróleo é o combustível básico para a produção de eletricidade e
dessalinização da água no território.
A Arábia Saudita bombeia 10,3 milhões de barris por dia. O reino precisa
produzir quase 8 milhões de barris para coletar o gás natural que sai
do chão com o petróleo -o gás é crítico para suprir necessidades
residenciais e industriais.
A demanda saudita por gasolina, diesel e combustível para aviões
cresceu. Para compensar, o país espalhou negócios de refino por todo o
mundo, construindo e expandindo nos EUA, na China, no Japão e na Coreia
do Sul. Muitos desses empreendimentos visam processar graus inferiores
de petróleo cru saudita, para se proteger de produtos semelhantes,
especialmente na América Latina.
O investimento doméstico e internacional também dá ao país vantagens em um negócio cada vez mais competitivo.
Uma enorme rede de refinarias fornece aos sauditas um lar para seu
petróleo em um momento em que eles combatem rivais da Opep como Irã e
Iraque por mercados, especialmente na Ásia.
"Quando a concorrência está ávida para vender petróleo cru, os sauditas o
vendem em sistemas que podem controlar", disse Fereidun Fesharaki, da
empresa de pesquisas FGE.
"Eles não querem ter de lutar por cada barril. Ninguém mais pode fazer isso."
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