Ao pressionar o Congresso pela aprovação de um acordo nuclear com o
Irã, o presidente Barack Obama encara um dificuldade: o seu principal
argumento a favor do pacto é também sua maior vulnerabilidade.
O acordo nuclear com o Irã impõe limites precisos sobre a quantidade de
combustível nuclear que o país pode possuir, quantas centrífugas podem
funcionar e qual tipo de tecnologia Teerã pode adquirir. Isso tornará
extremamente improvável o desenvolvimento de uma bomba atômica pela
República Islâmica nos próximos 15 anos.
No entanto, a maior parte das restrições expira após esse prazo, e então
o Irã estará liberado para produzir urânio em escala industrial. "Meu
principal senão é o fato de que, em 15 anos, eles terão uma capacidade
de enriquecimento altamente moderna e internacionalmente legitimada",
disse o deputado Adam Schiff, que apoia o pacto.
Mesmo alguns dos mais entusiasmados partidários do acordo temem que
Obama tenha exagerado ao dizer que o pacto "bloqueia" todos os caminhos
de Teerã na direção das armas nucleares.
Uma descrição mais precisa é que o acordo deverá retardar o programa
iraniano em uma década e meia -assim como as sanções e sabotagens contra
o Irã fizeram nos últimos anos.
"Claro que existem riscos, e eles têm que ser reconhecidos", disse
Nicholas Burns, que foi subsecretário de Estado no governo de George W.
Bush e defendeu o acordo em depoimento ao Congresso. "O argumento mais
convincente" de Obama, segundo ele, "é que não há alternativa melhor".
Pelo acordo, as sanções econômicas contra o Irã só começarão a ser
suspensas depois que o país reduzir para 300 kg o seu estoque de urânio
fracamente enriquecido. Esse volume -uma redução de 98% em relação ao
estoque atual, de cerca de 12 toneladas- não seria suficiente para fazer
nem uma só arma nuclear.
O acordo também prevê inspeções regulares nas instalações nucleares do
Irã e determina a retomada das sanções internacionais se os iranianos
forem flagrados trapaceando.
Mas o lado negativo é que, depois de 15 anos, o Irã teria autorização
para produzir grandes quantidades de combustível para seus reatores,
usando centrífugas mais avançadas. Isso pode significar que a margem de
reação se o Irã decidir produzir uma bomba às pressas será reduzido para
semanas, segundo uma recente análise do Instituto Brookings.
Críticos dizem que, ao fim do prazo determinado no acordo, a economia do
Irã estará mais fortalecida, bem como sua capacidade de suportar
sanções econômicas, e suas instalações nucleares provavelmente estarão
mais protegidas pelos sistemas de defesa aérea que o Irã deverá adquirir
da Rússia.
Sob as restrições previstas, o Irã precisaria de um ano para produzir
material nuclear suficiente para uma bomba; atualmente, esse prazo seria
de dois ou três meses, segundo agências de inteligência americanas.
Mas, em dez anos, esse período voltaria a encolher, já que o Irã poderá
colocar mais centrífugas em operação.
Autoridades dos EUA argumentam que previram a possibilidade de o Irã
querer produzir combustível adequado para armas no futuro, e por isso os
negociadores garantiram uma proibição permanente na metalurgia
necessária para transformar o combustível em bombas atômicas.
Os defensores do acordo apostam que o aperfeiçoamento das atividades de
inteligência impediria o Irã de preparar uma bomba às pressas. O tratado
determina que os inspetores poderão monitorar durante até 20 anos a
produção de motores e outros componentes para centrífugas, além de
fiscalizar durante 25 anos os estoques iranianos de concentrado de
minério de urânio.
Para alguns, os EUA deveriam avisar o Irã de que a produção de urânio
altamente enriquecido após o término das principais disposições do
acordo seria encarada como uma indicação de que Teerã decidiu buscar
armas nucleares -e poderia desencadear uma ação militar americana.
Uma questão que atraiu muita atenção é a regra dos "24 dias" para a
resolução de litígios se o Irã se recusar a permitir inspeções em locais
sob suspeita -outra regra que expira após 15 anos.
Críticos dizem que isso é muito diferente do acesso "a qualquer lugar e a
qualquer hora", expressão que pessoas ligadas ao governo usavam meses
atrás, mas da qual depois se arrependeram.
Se o Irã rejeitar uma inspeção, uma comissão -que inclui o próprio Irã-
poderá decidir sobre medidas punitivas, incluindo a retomada das sanções
econômicas. Para isso, basta a maioria simples, de modo que as sanções
poderiam entrar em vigor mesmo com a objeção do Irã, da China e da
Rússia.
Essa é a teoria. Na prática, a retomada das sanções poderia ser
politicamente difícil. O Irã diz que, se as sanções forem
restabelecidas, a República Islâmica deixará de cumprir o acordo.
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