O ataque aéreo atingiu a fábrica de engarrafamento de água no final do
turno da noite, matando 13 trabalhadores que em poucos minutos voltariam
para casa.
Parado entre as garrafas espalhadas, caixas fumegantes e máquinas
pulverizadas, alguns dias depois, o proprietário, Ibrahim al-Razoom,
disse que não havia motivo para que aviões de guerra da coalizão militar
liderada pelos sauditas atacassem o lugar.
Nada nas ruínas sugeria que a fábrica fosse usada para fazer bombas,
como alegou um porta-voz da coalizão. Ela também ficava longe de
qualquer instalação militar que poderia explicar o ataque como um erro
trágico: em muitos quilômetros ao redor não há nada além de deserto.
Dos muitos perigos que a população do Iêmen enfrentou nos últimos seis
meses de guerra, nenhum foi tão mortífero quanto os ataques aéreos da
coalizão.
O que começou como uma campanha liderada pelos sauditas contra os
houthis, milícia rebelde que forçou o governo do Iêmen a deixar o poder,
tornou-se tão amplo e maligno que os críticos acusam a coalizão de
punir coletivamente pessoas que vivem em áreas controladas pelos
houthis.
Ataques "por engano" da coalizão destruíram mercados, prédios de
apartamentos e campos de refugiados. Outras bombas caíram tão longe de
qualquer alvo militar que grupos de direitos humanos dizem que esses
ataques constituem crimes de guerra.
A guerra aérea está cristalizando a ira em partes do país contra a Arábia Saudita e seus parceiros, incluindo os Estados Unidos.
O bombardeio mais próximo da fronteira com a Arábia Saudita foi tão
intenso que as pessoas se abrigaram em cavernas nas montanhas ou foram
obrigadas a fugir para o sul, muitas vezes a pé, onde montaram
acampamentos improvisados ao lado da estrada.
Bairros no norte da cidade de Saada foram tão duramente bombardeados que
os moradores brincam com tristeza que a coalizão ficou sem prédios para
atingir. O grupo cada vez menor de alvos não impede que os aviões
circulem diariamente sobre Sanaa, a capital, e bombardeiem os mesmos
prédios diversas vezes.
A coalizão liderada pelos sauditas raramente ou nunca reconhece a morte
de civis por engano, mesmo depois dos ataques mais mortíferos, como o
bombardeio a um conjunto residencial de trabalhadores em Mokha em julho,
que matou pelo menos 63 pessoas.
Em vez disso, a coalizão culpa os houthis, acusando-os de agir em áreas populosas.
Um tenso impasse político surgiu na guerra em março, depois que milícias
houthis depuseram o governo do presidente Abdu Rabbu Mansour Hadi, que
fugiu para o exterior. A Arábia Saudita lançou sua ofensiva com o
objetivo declarado de recolocar Hadi no poder, enquanto via os houthis
liderados pelos xiitas como representantes do Irã.
Mais de 4.500 pessoas foram mortas. As restrições
sauditas às importações aprofundaram o sofrimento humanitário no Iêmen,
causando falta de combustível, água e suprimentos médicos enquanto
inflava os preços dos alimentos e de outros produtos.
O comissário de Direitos Humanos da ONU disse que, dos 1.527 civis que
morreram entre o início da ofensiva saudita e 30 de junho,
pelo menos 941 foram mortos por ataques aéreos.
Os ataques aéreos ajudaram a coalizão a avançar no sul do Iêmen, onde o
sentimento contra os houthis é forte. Mas o número crescente de baixas
civis despertou preocupações sobre as táticas da coalizão de Exércitos
árabes que combatem com os sauditas.
A maioria dos civis foi morta por aviões da coalizão, muitas vezes
despejando munições americanas que variam entre 100 e 900 quilos.
"Eles matam inocentes e afirmam estar matando houthis. Estão visando
toda a população", disse Adam Mujahid Abdulla, um sobrevivente de 20
anos que sofreu queimaduras em 65% do corpo. A bomba que atingiu sua
casa matou sete pessoas da família.
Do outro lado da cidade, um ataque aéreo destruiu um prédio de lojas e
apartamentos, matando sete pessoas. Entre as vítimas estava Tayseer
Okba, uma menina de 12 anos que visitava sua avó, Amana al-Khowlani, de
65.
Omar Mohammed al-Ghaily, 28, estava sentado no centro de Saada, perto
das ruínas de sua loja de roupas. Ele continua voltando là. "Não tenho
para onde ir", disse.
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