"Os paióis grãos de todas as cidades estão repletos de reservas, e os
cofres cheios de tesouros e ouro em valor de trilhões", escreveu Sima
Qian, historiador chinês do século 1 a.C. "Há tanto dinheiro que os
cordões usados para manter moedas unidas apodrecem e se quebram, uma
quantia inimaginável. Os paióis de grãos da capital estão tão cheios que
os grãos se espalham pelas ruas, apodrecem e não podem ser comidos".
Ele estava descrevendo os lendários superavits da dinastia Han, uma era
caracterizada pela primeira expansão chinesa rumo ao oeste e sul, e pelo
estabelecimento de rotas comerciais que mais tarde se tornariam
conhecidas como "Rota da Seda", que se estendiam de Xi'an, a capital
chinesa do período, a Roma.
Passado um milênio ou dois, a conversa sobre expansão volta a surgir, em
um período de alta dos superavits chineses. Não há cordões para
organizar os US$ 4 trilhões em reservas do país —as mais altas do
planeta— e além de silos repletos de alimentos a China também tem
superavits de imóveis, cimento e aço.
Especialista em políticas econômicas globais, o economista afirma que a queda recente das Bolsas chinesas
e a desvalorização cambial "mal conduzida" mostram que as autoridades
chinesas superestimaram seu grau de controle sobre a economia.
"O Brasil, o beneficiário mais proeminente da ascensão chinesa, também
foi o mais prejudicado pelo enfraquecimento subsequente. Com o impasse
político impedindo redução significativa do deficit, o país subitamente
vê a dinâmica de sua dívida em trajetória explosiva."
Frieda afirma que a única saída para evitar um agravamento da economia
brasileira é que as contas correntes se ajustem o suficiente para lidar
com saídas de capital anormalmente grandes.
"A única solução é uma forte desvalorização cambial e aperto monetário
que, em primeira instância, exacerbará a pressão pela redução do
endividamento e o prejuízo com transações de crédito."
Para isso, seria importante que a China se recuperasse por meio de "um
forte estímulo fiscal do governo central orientado ao consumo e não à
infraestrutura e reformas no mecanismo de intermediação de crédito e na
previdência social", consideradas politicamente difíceis.
"A pressão por desvalorização do yuan é um efeito colateral dos erros
cometidos nas políticas do passado. Permitir que essa pressão escape
(...) causará uma onda de deflação no planeta."
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