sábado, 7 de novembro de 2015


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No início de “Masaan”, o filme indiano mais aclamado do ano, um casal de amantes se encontra em um hotel decrépito em Varanasi, cidade sagrada do norte do país.
No meio de seu encontro sexual clandestino, policiais invadem o quarto e ameaçam o casal, desencadeando uma série de acontecimentos que terá consequências devastadoras.
Composto de tramas paralelas mas interligadas, “Masaan” trata das castas e do conservadorismo social na Índia, que continuam a dominar o país em sua trajetória vertiginosa rumo ao mundo moderno.
No Festival de Cannes deste ano “Masaan” recebeu o Prêmio Fipresci da crítica internacional e o Prêmio Futuro Promissor da seção Un Certain Regard, tornando-se o primeiro filme indiano a receber dois prêmios em Cannes desde o indicado ao Oscar “Salaam Bombay”, em 1988.
“Masaan” é o sinal mais certeiro até agora de que uma nova onda de cineastas está conduzindo o cinema indiano em uma direção nova, mais sintonizada com os movimentos e a linguagem do cinema global.
No início deste ano estreou “Court”, um retrato kafkiano da vida e da justiça em um tribunal indiano, em meio a elogios da crítica. O filme já recebeu dezenas de prêmios, incluindo dois Leões no Festival de Veneza.
Em agosto foi a vez de “Thithi”, que tem lançamento comercial marcado para 2016, receber dois prêmios no Festival de Cinema de Locarno. É o trabalho de estreia de seu diretor, como também é o caso dos diretores de “Masaan”, Neeraj Ghaywan, e “Court”, Chatanya Tamhane.
Nos últimos dez anos os diretores indianos vêm mostrando um desejo maior de se arriscar, ultrapassando as fórmulas escapistas tradicionais.
Filmes ambientados nas regiões áridas do norte da Índia ou na Caxemira mergulharam nas subculturas violentas do país mas se ativeram em grande parte aos padrões da Bollywood convencional, cujos filmes se caracterizam por incluir sequências musicais e melodrama.
As opressões banais cotidianas da vida indiana, que exigem uma linguagem cinematográfica mais austera, têm figurado pouco nas telas. É a lacuna que esses cineastas procuram preencher.
“Masaan” e “Court” têm características que superam Bollywood e Hollywood, cujos blockbusters frequentemente geram imitações locais. Os novos diretores indianos querem criar um estilo cinematográfico adaptado ao contexto social peculiar de seus filmes.
“Como muitos filmes indianos esperam conseguir divulgação em festivais, tenho observado que a sensibilidade e a emoção são muito europeias”, disse Ghaywan. “Mas isso soa falso. Os indianos são mais expressivos e emocionais, e o realismo contundente deveria incorporar essa característica.”
Um elemento notável desses filmes é seu desejo de abraçar a diversidade linguística da Índia, em lugar de procurar superá-la impondo um “monolingualismo” falso, como faz a maioria dos filmes (o país tem 24 línguas).
“Masaan” alterna entre o hindi e o bhojpuri, língua falada no norte, e “Thithi” é falado principalmente em kannada, o idioma de Karnataka, no sul da Índia.
“Court” alterna entre o hindi, o inglês e o marathi, as três línguas principais faladas em Mumbai, onde a história é ambientada. “Não vejo ‘Court’ como um filme marathi ou hindi”, disse Tamhane. “Para mim, é um filme indiano.” É um contraste marcante com filmes de Bollywood que adotam o hindi como língua.
Com pouco financiamento institucional para o cinema independente na Índia, o sucesso de filmes como “Masaan” e “Court”, que se saíram bem em festivais e tiveram bons resultados comerciais na Índia, muito provavelmente vai abrir fontes maiores de dinheiro para o setor.
A recepção positiva dada aos filmes se explica por sua acolhida por um público jovem, em ascensão social e globalizado, cansado das tramas de Bollywood, que seguem uma fórmula constante que são movidas por um sistema poderoso de grandes astros e pela obsessão dos estúdios por manter os custos no mínimo.
“A situação levará tempo para melhorar”, disse Ghaywan, “mas o otimismo não deixa de ser justificado.”

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