A impressão que se tem às vezes é que a Coreia do Sul, extenuada pelo excesso de trabalho, superestressada e eternamente ansiosa, está à beira de um colapso nervoso nacional, com índice de divórcio em ascensão, estudantes que se sentem sufocados com as pressões acadêmicas, índice de suicídios que está entre os mais altos do mundo, além de uma cultura corporativa machista que ainda incentiva as sessões de bebedeira até cair depois do trabalho.
Mais de 30 sul-coreanos se matam todos os dias. Os suicídios recentes de quatro alunos e de um professor da mais importante universidade sul-coreana chocaram o país. Nas últimas semanas, um anunciador de beisebol, dois jogadores profissionais de futebol, um reitor de universidade e um ex-vocalista de uma "boy band" se suicidaram.
Mesmo assim, os sul-coreanos -ao mesmo tempo em que aderem a inovações ocidentais de maneira quase obsessiva- têm em grande medida resistido à psicoterapia ocidental.
"Falar sobre problemas emocionais ainda é um tabu", disse o psicólogo Kim Hyong-soo, professor da Universidade Chosun, em Kwangju. "Se alguém procura um psicanalista, sabe que será estigmatizado pelo resto da vida. Por isso, as pessoas não vão."
Mesmo quando acontece de sul-coreanos procurarem ajuda psicológica, a curva de aprendizado pode ser íngreme. Um psiquiatra renomado que atende em Seul, Jin-seng Park, disse que não é incomum que um paciente novo venha a seu consultório, passe 40 minutos falando sobre um problema e, então, fique chocado quando recebe a conta.
"As pessoas dizem: 'Eu tenho que pagar simplesmente para falar? Posso fazer isso de graça com meus amigos ou meu pastor'", disse Park. De acordo com ele, a maioria dos pacientes pede medicamentos e não espera mais do que isso.
O índice de suicídios na Coreia do Sul dobrou entre 1999 e 2009. Os pactos suicidas entre estranhos que se conhecem on-line são um fenômeno crescente.
"Temos assistido ao aumento acelerado da depressão, e eu diria que 80% a 90% de nossos suicídios são subprodutos da depressão", disse Kim. "Essa questão ainda é mantida em silêncio. Ainda a ocultamos."
A sociedade sul-coreana é fundamentada nos valores budistas e confucianos, que enfatizam a diligência, o estoicismo e a modéstia. Alguns especialistas identificam as origens do mal-estar emocional sul-coreano no declínio desses valores tradicionais e na ascensão do país como potência industrial moderna.
Hoje, golfe, caminhadas, religião organizada, internet e turismo são meios comuns empregados para aliviar o estresse.
Também o curandeirismo voltou a estar em alta no país. Estima-se que haja 300 mil xamãs em operação, muitos deles mantendo sites, ao mesmo tempo em que continuam a estrangular galinhas e entrar em contato com parentes mortos.
"Os coreanos procuram cartomantes mais do que psiquiatras", comentou Yoon Dae-hyun, psiquiatra no Hospital da Universidade Nacional de Seul.
Os psiquiatras também enfrentam a concorrência dos "room salons" -clubes frequentados após o horário de trabalho por executivos que selecionam de um grupo disponível hostesses pessoais que lhes servem drinques caros e ouvem seus problemas.
"Os coreanos estão tentando encontrar seu 'pacote' próprio, seu próprio conjunto de remédios", disse Oh. "Estão procurando desesperadamente coisas que desviem sua atenção do estresse. Eles simplesmente não têm um bom modelo a seguir."
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