O corredor Bahaa al Farra prepara-se para a Olimpíada de Londres desafiando as forças da natureza e desviando dos buracos deixados nas ruas de Gaza por vários anos de conflito entre palestinos e israelenses.
O atleta de 19 anos treina durante três horas diárias no estádio Yarmouk, nas ruas de terra e na praia, usando tênis surrados que foram doados pelo rico Qatar ao Comitê Olímpico Palestino.
Os atletas palestinos se queixam da escassez de apoio financeiro interno e da falta de equipamentos e treinadores, que seriam cruciais para lapidar jovens talentos. Mas só competir em Londres já é a realização de um sonho nacional.
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"Vai ser maravilhoso representar a Palestina", disse Bahaa que, apesar de manter um sonho quase impossível de medalha olímpica, gostaria pelo menos de ser o porta-bandeira de seu país na cerimônia de abertura dos Jogos. "Eu espero carregar a bandeira e dizer a todo mundo que, apesar das dificuldades, nós existimos".
Segundo o técnico de Bahaa, o fundista precisaria de uma verba de US$ 12 mil para financiar seus treinamentos e uma dieta especial visando à Olimpíada, mas não tem esse dinheiro.
A Palestina deverá ter quatro atletas na Olimpíada, cada um de uma cidade diferente, entre eles a corredora Worood Maslaha da cidade de Nablus
"No mundo ideal, se nós quisermos melhorar nossos resultados, vamos precisar de uma preparação de dois anos visando à Olimpíada ou qualquer outra grande competição, mas nós não temos a verba para isso, não temos uma pista ou qualquer outra estrutura. Nós estamos tentando alcançar alguma coisa a partir de nada", resignou-se Abu Maraheel. Ainda assim, ele e o pupilo não perdem as esperanças. "Nós queremos usar o esporte como uma linguagem que todos entendam para dizer que mundo que o povo da Palestina existe".
A Faixa de Gaza é um território litorâneo governado desde 2007 pelo grupo islamista Hamas, atualmente em processo de reconciliação com a facção Fatah, que domina a Cisjordânia.
Em 2007, o Hamas expulsou a Fatah, do presidente palestino apoiado pelo ocidente Mahmoud Abbas, de Gaza após uma breve e sangrenta guerra civil que dividiu a sociedade palestina, mas as duas facções estão atualmente em um processo de reconciliação.
Israel trata a Faixa de Gaza como território hostil e, junto com o restrito controle de fronteira feito pelo Egito, as importações são limitadas. Israel proíbe a maioria das viagens através de sua fronteira alegando que o Hamas e outros militantes que defendem o fim do Estado judeu lançam ataques contra cidades israelenses a partir de Gaza.
A bandeira palestina esteve presente pela primeira vez numa Olimpíada nos Jogos de Atlanta, em 1996, quando um competidor participou dos Jogos. Em Sydney 2000, foram dois atletas, e três estiveram nos Jogos de Atenas em 2004. Todos foram ovacionados em sua apresentação, simplesmente por estarem lá.
Quatro atletas estiveram em Pequim há quatro anos -- dois nadadores e dois no atletismo -- mas, como nos Jogos anteriores, eles não chegaram lá com índices olímpicos, mas sim através de convites.
Quatro palestinos também estarão em Londres. Junto com Farra irão o nadador que vive no Cairo Ahmed Jabreel e duas mulheres que vivem na Cisjordânia, a nadadora Sabeen Kharyoon, de Belém, e a corredora Worood Maslaha, de Nablus.
Hani al-Halabi, de Jerusalém Oriental e que será o chefe da delegação palestina, disse que a equipe olímpica do país representa todos os palestinos, independentemente de ondem vivam. "Queremos incorporar a questão palestina incluindo participantes da Faixa de Gaza, Cisjordândia, Jerusalém e da diáspora. Cada um de nós representa uma parte de nossa casa", disse Halabi.