A retirada da maioria das forças internacionais ainda está dois anos distante, mas os afegãos que dependeram da presença estrangeira para viver durante uma década já acumulam receios, enquanto as primeiras tropas deixam o país e o dinheiro da ajuda diminui.
A retirada de dezenas de milhares de soldados e de trabalhadores humanitários -e os bilhões de dólares que eles trouxeram para o país- tem o potencial de desfazer o frágil progresso realizado pelos afegãos, e alguns temem que provoque uma nova fase de insegurança e de inquietação civil. Em 2010, a assistência internacional representou aproximadamente 97% do PIB do país, segundo uma estimativa do Banco Mundial.
Esse dinheiro e o fim do regime Taleban atraíram de volta refugiados afegãos e empresários ricos, e incentivaram setores importantes da economia.
Porém, os preços dos imóveis, os salários, as vendas e os pedidos em fábricas já estão encolhendo.
Na Milli Factory, 150 trabalhadores que ganham cerca de US$ 240 por mês (um bom salário aqui) produziam 3 mil botas por dia para as forças afegãs. No entanto, essas encomendas, pagas pela coalizão, pararam. Farhad Safi, o presidente, disse que o governo está comprando botas chinesas e paquistanesas, que custam 15% menos e não são tão boas.
Cerca de US$ 54 bilhões em ajuda e gastos militares geraram milhares de empregos para os afegãos e produziram uma nova elite. Uma casa comum custa de US$ 30 mil a US$ 230 mil, dependendo do tamanho e da localização, mas os negócios secaram, e os preços caíram para faixa de US$ 10 mil a US$ 50 mil, no ano passado.
Miraj Din, 48, que costumava entregar comida e lenha em uma carroça, hoje vende carros importados para a elite do país.
No ano passado, ele vendia cerca de uma dúzia de carros por mês, mas este ano está vendendo apenas um por mês. "Agora, as pessoas pensam que a crise dos anos 1980 e 1990 vai começar de novo e as pessoas vão lutar", disse.
A produção total da economia afegã, ajustada pela inflação, dobrou nos últimos nove anos. Mas em 2018, 90% de toda a ajuda externa poderá ter desaparecido, segundo prevê o Banco Mundial.
Os otimistas esperam que o progresso de uma década no Afeganistão ajude o país a suportar esse declínio -e que os investimentos em infraestrutura sejam catalisadores para o setor privado.
No entanto, esse país rural de 30 milhões de habitantes, onde a expectativa de vida é de 45 anos, terá de se adaptar. Com o pequeno crescimento das exportações e das grandes manufaturas, algumas autoridades esperam um renascimento da agricultura e do comércio regional.
O Banco Mundial prevê que o crescimento possa cair para 6 % nos próximos anos. Porém, a desaceleração poderá ser mais severa se a insegurança aumentar ou se o governo não conseguir obter contratos sobre a riqueza mineral do país, que inclui grandes jazidas de cobre, ferro e outros minérios.
Um barômetro da confiança econômica pode ser a loja de Mohammad Atta no que os ocidentais chamam de "Rua dos Banheiros" no centro de Cabul, onde são vendidas torneiras, pias e vasos sanitários no estilo ocidental.
No boom da construção civil, Atta vendia 50 vasos de porcelana por dia, enquanto se erguiam os hotéis modernos, mas hoje ele vende dez por dia.
Ele se queixou de que a coalizão está partindo antes de ter garantido a paz e de ter consertado ou unificado o Afeganistão.
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